quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Duelo de gigantes

“A invenção de Hugo Cabret” e “Cópia Fiel”. Dois filmes completamente diferentes que agitaram nossos corações e mentes por estes dias. Um no aconchego do lar e o outro, no telão, em 3D. Os abalos sísmicos são esperados quando se trata da produção de realizadores como Martin Scorsese e Abbas Kiarostami, (um americano e outro iraniano!), dois artistas que extrapolam o entretenimento.



“...Hugo” ainda está em cartaz e vale a pena dar uma saracoteada pra conferir. Preste atenção pois só tem uma sessão, das 22 hs, onde rola a fita legendada. Baseado num livro infantil de Brian Selznick, não se iluda: é para todas as idades. Tivemos alguns problemas com aquela porcaria de “ocrinho” 3D. Uma, paranoiada com a possibilidade de uma crise de labirintite, já que a projeção 3D mexe com o cérebro; e o outro, com a sensação que estava “envesgado” e com uma dorzinha atrás da orelha, bem lá naquele lugar onde se aloja a pulga, quando convém. Mas, sobrevivemos e em alguns momentos quase interagimos com o filme.




Voltemos à dramática vida de um garoto órfão (Asa Butterfied, o mesmo de “O pijama listrado”) que, às escondidas, no interior de imenso relógio numa estação de trem em Paris, comanda seu perfeito mecanismo. Filho de pai inventor (Jude Law), quis o destino que ele se envolvesse com o amargo dono de uma loja de brinquedos que, na verdade, é George Méliès (1861-1938), interpretado por Ben Kingsley. Méliès foi um mágico francês, pioneiro do na arte cinematográfica, com mais de 500 filmes e, dizem, “pai dos efeitos especiais”. Hugo vive numa parafernália de engrenagens, ferramentas e saudades. Para sobreviver se esquiva do terrível inspetor da estação (Sacha Baron Cohen), um caçador implacável de miseráveis órfãos.





Foram cinco Oscars para “...Hugo” e ficou um gostinho de quero mais, apesar de não termos visto seu principal concorrente “O artista”. A técnica depurada do cinema de Scorsese, que pela primeira vez filmou em 3D, está impecável. É grande aliada da narrativa dramática que flerta com a aventura e a ternura.  Hugo Cabret é também, e muito, a história do cinema com seus truques e sua magia. Que beleza, como diria Milton Leite, locutor esportivo.

“Cópia fiel” impressiona e deixa marcas. Um homem (William Shimell) e uma mulher (Juliette Binoche) se digladiam na arena conjugal. Se conhecem e se aproximam durante o lançamento de um livro dele, que é escritor. Nessa fase de aproximação as disparidades são combinadas com tolerância e galanteios. Vão parar numa pequena cidade italiana. E tudo muda.



Ao caminhar pelas vielas estreitas, tornam marido e mulher, após serem confundidos como um casal. E aí aparecem as espertezas e mesquinharias da vida a dois, com as picuinhas e ranhetices velhas conhecidas do amor. O filme está umbilicalmente ligado ao neo-realismo italiano, aquelas coisas do Roberto Rosselini. Não reparar nisso não tem tanta importância, porque é tudo muito sedutor, seja pela brilhante performance dos atores, seja pela espontaneidade dos diálogos.


O filme registra a primeira incursão do incensado Kiarostami fora do Irã. O diretor, que já conquistou o mundo (mundo dos cinéfilos) com seu talento, conduz sua câmera serena e explora com sabedoria a arte de fazer cinema com requinte. Claro que o título do filme é uma intensa metáfora em torno do valor do que é cópia e do que é original. Essa discussão é explorada no contexto da arte. Nestes tempos modernos, esse assunto parece se tornar cada vez mais complexo. A certeza maior que fica, é que o cinema de Abbas Kiarostami é muito original.   


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Tropicões com a língua

Na transmissão do Oscar o crítico de cinema Rubens Ewald Filho deu uma tropeçada no vernáculo pátrio. Ao comentar um filme usou a expressão “artesões”, para referir-se ao plural de artesão. É um erro muito comum. Nem todos sabem que a forma correta seria “artesãos”. Mas, tudo bem. Artesãos e artesões são quase que a mesma coisa, né? Deixa pra lá. A mesma coisa, uma ova. Vai lá e olha no dicionário o que significa um e outro. Vai não: artesãos é o plural de artesão, enquanto artesões é o plural de artesão (um outro artesão), que significa aquele enfeite tipo uma moldura usado em tetos e abóbadas. Agora, abóbadas... se não souber o que significa, vai lá no Google, ou no dicionário. Depende do seu nível de alergia.   

Artesãos trabalhando

Artesões ornando
Esse nosso idioma é mesmo complicado.  Outra ocorrência curiosa. Se alguém se referir a um trabalho seu como incipiente, aceite a crítica e tente melhorar. Mas se algum canalha classificar seu trabalho como insipiente, parta para a porrada imediatamente. Pô, esse cara tá te xingando de ignorante. Portanto, sai pro tapa com ele e faça jus à acusação. Quando me perguntam sobre a maldita crase e suas regras mirabolantes, repletas de exceções (palavra boa pra grafar errado), respondo que uso-a por intuição. Acho que seria melhor dizer que uso a crase na base do chutômetro. É por que quando erro na crase, significa que minha intuição não anda lá essas coisas. Será que falha essa tal de intuição? Sei lá... embananou geral.

Ronaldo, o felômeno
Professor Omar Rodrigues de Almeida, hoje juiz, deu aula de língua portuguesa na antiga Escola Técnica, pra muitas gerações. Gostava das aulas dele, especialmente, as de literatura. Certa vez, cobrou-nos inventividade na escrita, mesmo que na redação comercial. Passou-nos a tarefa de redigir ofícios com textos criativos. Um colega surgiu com o seguinte preâmbulo: “Venho através deste ilustre pergaminho...”. Parecia a escolinha do Professor Raimundo ou o cara foi escrevinhador de Pedro Pero Vaz de Caminha?

Esses caciques têm cacife!

Ainda nos tempos da Escola Técnica. Tivemos um professor de física que apresentava suas teorias mais ou menos assim: “Suponhamos que um corpo teje em movimento e que sua massa seje de...”. Em nossa última viagem de férias combinávamos com o guia de turismo (ou seria guia turístico?) a respeito do horário da partida para o passeio do dia seguinte. Ele foi taxativo: “Nós temos que tar às oito horas”.

“Célebro”. Você já tinha “ouvisto” (junção dos verbos ouvir e ver, acreditamos) alguém se referir à massa cinzenta dessa forma?  Acho que até celebridades cometem esse erro de vez em quando, já que celebridade deve ser uma derivação de “célebro”, porque (este porque seria junto ou separado?) celebridades  quase sempre são pessoas muito inteligentes.  Ah... e tem Cérbero também, mas isso é outra história e entra aqui só pra ilustrar o post.  

Cérbero tem três célebros ou cérebros?

“E agora vamos receber o cineastra...!”. Confesso que presenciei um mestre de cerimônias apresentar, para um auditório lotado, o convidado especial da noite. Cineastra, deduzo, deve ser aquele diretor de cinema que também é um astro. De outra feita, há muitos anos, o cerimonial se referiu a um ilustre personagem como “balaústre da cultura regional”. Balaústre, claro, é a mistura de baluarte com ilustre. Me passou agora pela cabeça se ilustre não teria a ver com lustre, aquelas armações que sustentam lâmpadas. Pula essa parte...

Tropeços na fala e/ou na escrita, quando partem de crianças são engraçados. E perdoáveis. A gente costuma dar menas (uiiii, essa é dolorosa!) importância pra eles. Conheço um sujeito que já passou dos 50 e que, na infância, chamava armário embutido de “armário em butique”. Tem a ver. “Lentes de compacto”, outra pérola. Foi uma garotinha que escreveu numa redação quando tinha uns oito ou nove anos. Sei de um gurizinho lá trocou a igreja Santuário das Almas, por Sanitário das Almas. Deve ter pensado que as almas ficam “apertadas” e precisam se aliviar.

Em nível de ilustração estamos a nível do mar...

Houveram,  verbo haver no plural? Cuidado com ele gente boa. É um perigo. E pra encerrar essa conversa, confesso aqui que estou quase desistindo de falar da maneira que dizem ser a correta em relação a “em nível de” e “a nível de”. Com certeza!

Paiê, é braguilha ou barguilha?

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Gabriel dá uma pimba na gorduchinha!

Reconhecemos que nós seres humanos temos enorme disposição em perdoar. Perdoamos, mesmo que demore algum tempo, porque perdoar não quer dizer esquecer, apagar.  Perdão vem do latim. O prefixo “per” tem dois sentidos: de “por” (através de) e de plenitude. “Per+doar” é o ato de doar, elevado à perfeição. Perdão é o superlativo da doação. “E perdão foi feito pra gente pedir”.

Traições, ofensas, agressões, mentiras, esquecimentos, irresponsabilidades, vacilos, roubos e outros crimes são perdoados. Já li e vi vítimas perdoarem seus algozes, num ato sublime. Perdoamos o cônjuge que trai; o amigo que sacaneia; a sogra, o genro, a cunhada e outros tipos de fofoqueiros; e dívidas. A professora que nos perseguiu, o colega cainha, o vizinho enxerido e até o filho da puta que é mal educado no trânsito. Até Deus perdoa... Opa, Deus é o que mais perdoa e que seu exemplo seja seguido por nós, meros mortais.  

Baggio e Tafarel na final Brasil x Itália

Brasil X Paraguai, muitos pênaltis perdidos 

Perdoamos até o chefe que pisa na bola. Mas, falar em pisar na bola no domingo, dia de futebol... Tem um negócio que é difícil de perdoar. Aquele jogador que perde o pênalti. Aquele tiro livre cara a cara com o goleiro, diante daquela trave enorme que tem mais de sete metros de largura, por quase dois metros e meio de altura. E o “perna-de-pau” do jogador do seu time erra o pênalti. É demais. Com o tempo redimimos esse pelejador, mas não perdoamos e nem esquecemos completamente a perda de um gol.

Nosso amigo do peito, magnífico (porque não existe ex-magnífico) reitor da UFMT, Gabriel Novis Neves, é o mote deste post, neste dia de missa. Ele é blogueiro que pratica as palavras com desenvoltura e sinceridade. Escreve bonito. Gabriel é botafoguense e num de seus textos, “Desprezo” (http://bar-do-bugre.blogspot.com), se inspirou na derrota de seu time para o Fluminense, que aconteceu numa disputa de pênaltis na última quinta. Jogou a toalha, pendurou as chuteiras. Foi pro chuveiro, não perdoou a derrota de seu time.


Loco... loco
Gabriel, somos solidários compreendemos sua dor e eu, particularmente, confesso que já passei por situações semelhantes. Morrer de raiva quando um jogador falha na hora H é coisa de futebol. Basta torcer de verdade e se envolver para que essa ira, esse destempero, surjam. São consequências naturais. Imperdoáveis são todos os cobradores de pênalti que perdem o tiro livre num jogo decisório, isso é inaceitável!


Copa de 86: O dr. perdeu o pênalti e...

...Zico também
Isso deveria estar na bíblia. Na bíblia do futebol, que fique bem claro. Neném Prancha disse que o pênalti é tão importante, que quem deveria bater era o presidente do clube. Mas, presidente de time de futebol não costuma ser besta ao ponto de se expor dessa maneira.

E voltemos ao querido Gabriel. Disse ele que cancelou a sua assinatura de TV paga e que não quer mais saber de futebol. Que nunca mais vai assistir jogos e nem debates, mesas redondas e esses programas esportivos que só fazem masturbar em torno desse esporte bretão. Mais... Garantiu que aproveitará o tempo que vivia futebol, a partir de agora, para ler mais e mais.


Grande e saudoso Waly Salomão

O futebol é uma praga, uma paixão. Um quase vício. E ninguém vai largando dele assim de uma hora pra outra. As ponderações do Gabriel são válidas se raciocinarmos friamente. A que leva o futebol, afinal de contas? Pra que torcer pra algum time? Pra que passar raiva, xingar, brigar etc? Sem falar nos riscos de um infarto ou derrame que podem nos acometer na hora de uma disputa emocionante. “Me segura que eu vou dar um troço”. O título do livro do Waly Salomão sintetiza bem a extensão do drama.  

Às vezes fico tentando entender porque me envolvo tanto com o futebol e me coloco no lugar do Gabriel. Mas escorrego... Parar de acompanhar os jogos do meu time e todos os outros, para me dedicar às leituras selecionadas. Por exemplo: as crônicas do Nelson Rodrigues que discorrem sobre futebol já que, que nem eu, ele era tricolor de coração.    



O medo do goleiro diante do pênalti
(Win Wenders-1971)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Ca(u)sou e mudou!

Quer saber...? Sem nenhum saco pra discorrer sobre “mais” essa história/pretensão/vontade(?) de extinção da secretaria de estado de cultura. Antes do carnaval, a boataria era sobre o fim dessa pasta em nível municipal. Cuiabá é que ficaria sem secretaria de cultura. Só falta algum visionário propor o sepultamento do Ministério da Cultura. Aí sim, a corda e a caçamba vão pro buraco juntas. E fica assim: ficaremos mudos, calados, espantados/chocados diante de tal possibilidade. Não falaremos mais sobre esse assunto. Vamos deixá-lo pra trás e, enquanto nos afastamos, olhemos pelo retrovisor para ver algo que pode ser definido como a mistura de assim caminha a humanidade com triste fim de policarpo quaresma.



Vamos mudar de assunto. Mudar... taí uma palavra na qual vale a pena investir. Verbo que remete a algum tipo de ação, mas cuidado. "As plantas não falam, mas só enquanto são mudinhas". Sabedoria do comediante Ronald Golias. Pra quem preferir algo mais erudito, peguemos o túnel do tempo e vamos de Heráclito lá pras bandas da Grécia Antiga. Ele sentenciou que a única coisa permanente é a mudança.




Mudemos, pois. Mas não é só sair falando que mudou. Eu, por exemplo, confesso que mudei a partir do momento em que assumi que gosto de Roberto Carlos. Quer dizer: gosto de algumas músicas dele, desde que cantadas por outras pessoas. Não me lembro quando foi que isso aconteceu, mas aconteceu. De repente, meu Deus do céu, será que vai chegar um dia em que vou gostar do próprio Roberto cantando que as baleias estão desaparecendo por falta de escrúpulos comerciais?

A mudança no sentido de quebrar paradigmas é importante. Ela vem cheia de ideologias e, muitas vezes, chuta pra longe preconceitos e outros vícios comportamentais. É coisa do bem, acreditamos. Já a mudança física, da transformação do corpo de criança para adolescente e depois para adulto, de um lugar para outro, de uma casa pra outra, normalmente é um transtorno. O risco é de se quebrar... um espelho e ser amaldiçoado com a falta de sorte é uma provável consequência drástica nesse tipo de mudança. Ou não. Essa guinada que é sair de um espaço e ir para o outro é uma situação tão complexa que, sob determinada abordagem, pode ser conceituada pelo ditado popular: “fulano está mais perdido do que cachorro em dia de mudança”.



Já no campo espiritual, ou da fé, como queiram, uma mudança radical pode significar um certo (des)equilíbrio. Entrar numas de cabeça, sair bradando e defendendo com unhas e dentes um novo credo à revelia do que foi vivido e consentido, sei lá. É estranho. Bom, talvez seja preciso considerar a minha intolerância ao supor isto. Se assim for, que Deus me perdoe.

E as mudanças, desde que substanciadas e resultantes de alterações em padrões morais e comportamentais, são necessárias, mas dão trabalho para antropólogos, psicólogos, psicanalistas... E até pra polícia. Enquanto este texto vai nascendo aqui, um constante interlocutor do Tyrannus – a televisão, transmite uma entrevista com Laerte, o cartunista que se veste de mulher e se assume como bissexual. Inevitável não mencionar as mudanças comportamentais que a humanidade já experimentou em relação ao sexo. Pode tudo, não pode nada, vai e vem. E nos lembramos do comentário de um amigo a respeito da história do gay que, de uma hora pra outra, passa a se dizer heterossexual: “Vidro que já guardou pimenta nunca perde o ardor”. Tem coisas que não mudam!    


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Danos imorais

Ele me olhou com uma cara de poucos amigos e respondeu: “Sou autoridade, não dou entrevista”, e foi descendo a ladeira na Praça Alencastro. Eu era só um jornalista que trabalhava para uma emissora de televisão, “enqueteando”’ algum assunto da hora nos anos 80. Mais um sapo engolido na minha coleção. Não sei bem que “autoridade” ele era, se juiz, vereador, doutor ou coisa que o valha. Ficou uma raivinha, que guardo até hoje, mas não ao ponto de gerar câncer ou infarto. Coisas do passado.

Passado rememorado por um motivo justo. Entre os sites que merecem a nossa atenção está o Congresso em Foco. Jornalistas especiais, escritores e intelectuais discorrem ali livremente sobre temas emergentes num nível bem acima da média. Se pensar já é difícil, imagina entender as coisas. Mas, o site citado publicou um texto a respeito de funcionários públicos privilegiados em Brasília. O suficiente para receber uma avalanche de ações na Justiça. Os denunciados por causa dos generosos (acima do teto legal) proventos se sentiram incomodados e no direito de acionar judicialmente o site, por leviandade(?).


A notícia mais recente sobre esse episódio menciona a decisão judicial de rejeitar um pedido de indenização que os altos funcionários do Senado moveram contra o Congresso em Foco, por divulgar nominalmente os envolvidos e os seus respectivos salários. Uma das marajás disse que se sentiu constrangida e que sua privacidade sofreu um golpe invasivo (...ui...). Também, né!? Onde já se viu tornar público um fato dessa natureza? Pra quê? Muita obviedade em tão poucas perguntas. O sábio juiz sugeriu que os 44 processos deveriam ser aglutinados em um só e rejeitados em bloco (até 19/02 essa decisão não tinha acontecido).


A indenização pedida para aplacar a ira e para recompor a imagem e a idoneidade desses senhores e senhoras, que se sentiram lesados e fragilizados pela exposição pública, foi orçada em mais de 1 milhão de reais. Se acontecer uma reviravolta e os servidores ganharem a causa, o site em questão, fatalmente, sucumbirá por ter divulgado uma informação que partiu do próprio Tribunal de Contas da União. Não queremos acreditar nessa possibilidade.




Essa notícia entrou por um ouvido (ou por um olho) e não saiu pelo outro. Ficou encalacrada, aprisionada em nossas mentes, e aí o remédio foi botar pra fora. Casos semelhantes acontecem por aí, no Brasil e no mundo. Muitos profissionais foram obrigados a se afastar do seu trabalho, de suas famílias e do convívio social ou tiveram que se calar, por força da força mesmo ou de processos jurídicos. Houve tempos que a verdade era muito “maquiada”, mas parece-nos que esses tempos estão ficando cada vez mais distantes.


Cena montada: suicídio de Vladimir Herzog

Lembramos da triste sorte do jornalista Paulo Francis, cuja saúde não aguentou a barra que foi uma ação movida contra ele, por diretores da Petrobras. O jornalista denunciou e não tinha como provar, nada. Mas, falou! Francis saiu de cena em 1977 e nunca mais a sociedade brasileira foi abalada pelo seu humor ranzinza: "Não vi e não gostei".

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Procura-se

Nunca tive grana suficiente pra fazer/ter tudo o que sonhei. Queria muito ser rica e por conta disso sonhava com situações “absurdas”, mas que ainda acredito possíveis de acontecer. Imaginava pegando meu extrato no banco e perceber um depósito considerável na minha conta. E ao indagar incrédula ao gerente o que significava, ele me diria muito secretamente: “não podemos dizer nada, foi alguém que quis ajudá-la a realizar seus sonhos”.  Quando criança eu e meus irmãos inventávamos histórias: um pedinte, que tínhamos saciado sua fome e sede revelava sua verdadeira identidade: um milionário... ou Jesus, o Cristo mesmo, nos recompensando (creio, que aqui nessa vida) por sermos tão boas crianças. Outras vezes o pedinte era um ser extraterrestre que ao receber estupefato um copo d’água, nos daria em troca ou retribuição um imenso diamante. Segundo ele, a água em seu planeta tinha um valor imensurável enquanto o diamante, não tinha valor. E assim... realizaríamos os nossos sonhos terrestres.

Ainda hoje brincamos ao chegar em casa com a possibilidade de encontrar um bilhetinho: Lorenzo, você é um cara muito legal por isso estou deixando...  pra você e Fátima, claro!

Vocé é o cara....
Mas, não nos empenhamos muito pra ficar ricos não fizemos/deixamos de fazer muitas coisas: jogar na loteria, na megasena, concorrer a prêmios ofertados pelos bancos, investir em bolsa de valores, comprar terrenos e casas, poupar.... Ao invés disso, trabalhamos. Única opção que seguimos praticando. Não reclamamos. Temos muita sorte na vida, com amigos e parentes que nos presenteiam e ajudam muito. Conseguimos realizar alguns dos nossos mais desejados e melhores sonhos e projetos, porque também os planejamos. Não os de consumo que, verdade verdadeira, não são tão importantes assim.

A vontade de ser rico ainda existe. Imagine fretar um avião e levar para uma viagem pessoas que você sabe que iriam adorar conhecer outros países, culturas e costumes! Ajudar quem precisa de um carro pra poder trabalhar, uma casa pra ter sossego, pagar escola/faculdade, plano de saúde, apostar em talentos... Estamos falando em poder, não de ter o poder, embora, nem sempre as duas coisas possam ser dissociadas.

Minha casa... fone...
 Gostaria de ser rico pra ser um mecenas ou um investidor. Dinheiro não é tudo, mas que ele facilita, facilita. No filme “A Rede Social” (David Fincher-2010), que reporta a vida de Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, em determinada altura, surge a figura de um “investidor anjo”. Alguém que tenha muuuiiito dinheiro, e que pode investir em seu talento e/ou nas suas boas ideias.


Olá, sou um investidor anjo
Em nossa viagem pela Europa, em 2011, estivemos bem próximos de alguém com esse perfil, mas não era um ser “mais” vivente. Era apenas uma estátua, um monumento de Lourenço de Médici (Lorenzo, Il Magnífico). Foi lá em Florença, na Itália, e esse Lorenzo (1449-1492) foi um poeta e estadista italiano, figura chave do Renascimento e apoiador de artistas contemporâneos seus como Michelangelo e Botticelli, entre outros. Era poderoso e rico e rejeitava a religião e a vertente escolástica, em busca da valorização e da pesquisa em busca do sentido da vida. É legal registrar que Lourenço (ou Lorenzo), não era apenas um apoiador cultural. Ele tinha uma participação intelectual ativa nas atividades que promovia.




Para ele, o homem era o centro de tudo. Lógico que enfrentou muitos problemas por conta disso, mas entrou pra história da humanidade como um personagem que fez ela, a humanidade, andar pra frente e se libertar de arquétipos e conceitos que precisavam mesmo ser ultrapassados. Porque a fila anda.



Então, resta encompridar só mais um pouquinho mais essa conversa pra dizer que aqui no Tyrannus tem um xará do Lorenzo, cujo bolso ou algibeira, são totalmente incompatíveis com o do italiano célebre. E assim termina nosso papo de hoje que, discretamente, esbarra no sonho/vontade de ser/encontrar um investidor anjo. Pois acreditamos que eles existem.

E ao encontrar um, como anjos têm asas, torcemos pra não ouvir o farfalhar de seus membros emplumados quando chegar essa hora.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Bloco do Tyrannus

Comessão de frente:arroz com pequi, costelinha e almeirão

O carnaval do Rio de Janeiro é a maior ópera do mundo! Mas, a Bundesliga... vai dar que falar! Não, não vem de bunda. E a transmissão do carnaval carioca neste ano não se mostra mais tão generosa em termos de abundância.  A transmissão ao vivo proporcionou altas gargalhadas. Uma aconteceu por causa daquelas entrevistas rápidas que rolam antes da escola sair. Uma pergunta para a biba, que cuida do visual dos destaques, ela começa a falar com empolgação peculiar, são seus segundos de glória global, só gesticulação! Putz, que falta de sorte, o equipamento de som falhou!

"O abre alas: o abre alas que eu quero passar"

A apresentadora do desfile, empolgada com a Imperatriz Leopoldinense, que homenageou Jorge Amado, refere-se à esposa do escritor e solta um Zélia Catai (seria Gattai). É carnaval, não tem tanta importância assim. Antes da Imperatriz a Portela também passeou pela Bahia com o seu enredo, com Paulinho da Viola e Marisa Monte no carro abre alas, com uma águia dourada. A Imperatriz veio com Daniela Mercuri e Vanessa da Mata e os moleques de Capitães de Areia (Jorge Amado) voam num chapéu mexicano na comissão de frente. Parece que o carnaval carioca nunca foi tão baiano.

Paradinha da bateria
E com a pegada menos ‘bundalelê’, o espetáculo da Sapucaí, assistido no mundo inteiro, recebe contornos mais culturais. Bacana. A escola que abriu o desfile, Renascer, explorou as cores de Romero Brito. E a Mocidade Independente de Padre Miguel, a última que conseguimos assistir (até certo ponto), antes de despencar no sono, foi de Cândido Portinari. A gente aproveitou a paradinha da bateria da Padre Miguel, migrou pro quarto e bodou geral. Mas vale recordar a história da  “paradinha”. Ela foi inventada ocasionalmente (nos anos 60) em 1958, quando Mestre André fincou e virou em plena avenida e a bateria, atônita, deu uma paradinha, para logo em seguida retomar o ritmo. A partir daí surgiu o mito da “bateria nota 10”. O acidente, o acaso, jamais pode ser abolido. É como um lance de dados.  


E vem chuva ...

 Um estrondo colossal caiu dos céus aqui pertinho de casa. Um raio, a sorte é que ele não cai duas vezes no mesmo lugar. É a iminência de mais uma chuva de verão. O raio veio avisar do breve temporal que São Pedro está prestes a desabar. É a segunda-feira de carnaval, essa entidade profana, que vai passando, passando, passando...  

Enredo: faltou samba no pé

Bundesliga de volta. O Bayern, tradicional time alemão, enfrenta o pequeno Freiburg na cidade do time menor. E a torcida apóia com gana o Freiburg, um dos últimos colocados no campeonato alemão, o Bundesliga. E que música a torcida faz ecoar pela arquibancada? Ari Barroso na cabeça: “Aquarela do Brasil”. Como é que pode... Lá no Velho Mundo, numa cidadezinha germana rufando na voz de milhares de pessoas. Em Armsterdã, na quinta-feira, deu Michel Teló:  “Ah, se eu te pego”. A música tocada no estádio com algumas dezenas de milhares de pessoas, a maioria holandeses, que assistiam Ajax e Manchester United. Se eu tivesse lá, teria complementado no “Ah, se eu te pego”... EU TE ESGANO, Michel Teló!!!!

Michel semdó

Ô Michel, tem dó (Ari Barroso) 
Assistir o desfile das escolas do Rio pela TV é tradição pra equipe Tyrannus. Mas é duro ficar a mercê da emissora que transmite. Na segundona, por exemplo, quando mais seis escolas vão desfilar, a sagrada novela e o BBB não saíram da grade de programação da emissora e por conta desse monopólio a gente perdeu o desfile da São Clemente, logo ela que homenageou os grandes musicais no enredo! Assim não dá: já perdemos quatro escolas e um pouco da paciência.

Mestre André, Nota 10

A União da Ilha está entrando na Sapucaí. Vai trazer Londres pra avenida. Cadê minha cerveja...? Hora de largar e ver como a Ilha vai mandar essa história. Mais tarde, tem Estação Primeira. Conforme a animação, a gente vai ver a Mangueira entrar.

Canhain, canhain...