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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Bichinho de pelúcia

Kate Moss... pode!

Onça pintada... que beleza...  fundo amarelo com as pintas negras. É  conhecida a resposta à queima roupa de um estilista sobre em qual peça do vestuário esse padrão selvagem cai bem: "Na própria onça". Ledo engano meu caro, o tempo mostrou que as manchinhas da onça pintada são um ícone fashion, unanimidade absoluta. Gosto e... cada um tem  o seu. 

Não compliquemos e voltemos ao ícone. A estampa é manjadíssima, arriscada e com um sexappeal fortíssimo. Dizem que dá pra sair usando por aí a bel prazer. "No zíper, a surpresa que já tarda / Calcinha imitando pele de leoparda". Oportuno verso de Arrigo Barnabé. Caiu bem aqui a combinação. Sensual. É possível argumentar que o visual depende do contexto. Do estilo, do ambiente, de quem usa e, principalmente, do bom ou mau gosto de quem observa. E pode dar zebra.

Vamos de amigo urso agora. Animais onívoros que não se apertam e comem de tudo. E andam fazendo também de tudo. Lembra do ursinho blau blau de brinquedo? Aquele dos anos 80 que emplacou no roquinho brasileiro? Pois é... ele, ou um parente próximo dele, cresceu. Hoje os ursos frequentam os ambientes finos e são fetiches, principalmente da comunidade gay. Um urso é um cara grandão, peludão, macio, amigo.  Os antes bichinhos de pelúcia que pululavam nas doces fitas de cinema, cantando canções melosas em meio a campos de flores multicoloridas, hoje, aparecem, dependendo da relação com seu amiguinho/proprietário, até fumando maconha. Assim se mostrou o Ted, personagem de filme homônimo em cartaz no Brasil.




Um desavisado deputado, que era delegado, parece que teve uma recaída quando levou o filho, de 11 anos, pra assistir "Ted", que tem a classificação indicativa para 16 anos. Irado, só faltou o poderoso pai penetrar tela adentro e dar voz de prisão ao ursinho maconheiro: “teje preso”, igualando  plateia e personagem e seguindo os passos de "A rosa púrpura do Cairo" (1985), de Woody Allen. 


Ted em seu "dolce far niente"
O episódio teve um efeito ao contrário e estimulou um monte de gente a assistir o filme do bichinho fumeiro. E o deputado, vai ver que tá morrendo de vontade de dar uns tapas... No Ted, claro, e não em nenhum pequeno artefato cênico. 



Nossa opinião é que não procede em hipótese alguma o comportamento revoltoso dessa “otoridade”,  que ficou na bronca com o Ted. Ora, quem pisou na bola descumprindo a lei foi sua excelência que não reparou que o filme era recomendado para maiores de 16 anos. E já que os gambás gostam de tomar uma pinguinha, todo mundo sabe disso, acreditamos que isso abre jurisprudência para que os ursinhos de pelúcia possam dar uns peguinhas e fazer suas cabecinhas em paz. 


Arrigo Barnabé

Acapulco drive-in

Boca da noite
Boquinha de gata
Chupando, mordendo
Bala de conhaque
Colored
Color na garoa
Dentro do Maverick
Cheirando a jasmim
Passa o coroa
Fazendo sinal
-ei, psiu, psiu, princesa
Você já foi ao play center?
-hum, mas que ideia extravagante...
-então que tal uma tela?
-ah, essa não
-topas um drink num drive-in?
-meu preço é alto
-por você eu faço tudo
Por você eu perco o juízo
-tire. quero sua pele parda
Lábios de carmim
Brr... tentação nua
Empina o volante
No zíper, a surpresa que já tarda
Calcinha imitando pele de leoparda
Acapulco drive-in

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Quem há de dizer

Em meados dos anos 80, conhecemos Arrigo Barnabé com seu instigante e intrigante “Clara Crocodilo”, uma ópera moderna que narra a fuga de  um marginal que passa  a afligir a população de uma “cidade oculta”. As noitadas no bar/gueto “Quase 84” ferviam com o cojunto das vozes destoantes de Arrigo, Tetê Espíndola e Vânia Bastos, regado ao “Sabor de Veneno”. Algum tempo depois, circulando por Copacabana, procuramos por um LP de Arrigo Barnabé. Um atendente ao ouvir o que queríamos, lascou: “É por acaso uma dupla caipira?” Arrigo não era muito conhecido naqueles tempos e nem hoje se pode dizer que é um artista popular.

É difícil rotular a obra de Arrigo. Gostar de sua musicalidade é outra coisa. Erudito? Popular? Contemporâneo? Dodecafônico? Sei lá. Arrigo é tudo ao mesmo tempo. Um artista raro e genial que sorve de inúmeras fontes e tem uma produção muito original. Vanguarda. Qualquer um percebe que sua sonoridade é muito diferente e incomum. Clara Crocodilo, Tubarões Voadores, Arrigo & Paulo Braga são os trabalhos que aplaudimos e babamos quando escutamos. Seu piano sofisticado e estranho, sua voz gutural e o modo teatral de cantar e interpretar seus elaborados versos são sempre bem vindos.


Fecham-se as cortinas.

“Você sabe o que é ter um amor, meu senhor?” Pode ser que não se lembre da música inteira, do nome do compositor... mas certamente já ouviu “nervos de aço”. Lupicínio Rodrigues, sujeito de voz mansa pra falar e cantar. Gaúcho, gremista, que saiu uma única vez na vida de Porto Alegre. Lupe, como era conhecido, foi bedel da UFRS, dono de bares, churrascarias. A boemia foi sua inspiração/maldição causadora de suas dores de amor, a base para criar o gênero de música conhecido como “dor de cotovelo”.   
O que há de comum entre Arrigo Barnabé e Lupicínio Rodrigues, além dos nomes esquisitos? Os versos de Lupe falam de traição, desilusão, abandono, resignação, mas são ternos, na sua voz. Na interpretação de Arrigo eles ganham força, rancor, dramaticidade.




No último final de semana, seguro no comando do controle remoto, zapeando de bobeira, surge de repente na telinha a imensa cara de Arrigo (quase uma máscara) e... paramos. É “Arrigo Barnabé em Caixa de Ódio – o Universo de Lupicínio Rodrigues”, acompanhado por Paulo Braga no piano e Sérgio Espíndola no violão e baixolão, uma co-produção do Canal Brasil e do Nagoma Produções (ai tem o dedo do nobre André Sadi). Isso mesmo: Arrigo cantando Lupe, o rei da dor de cotovelo. Imediatamente, acionamos a tecla “rec”, porque Arrigo é coisa pra se ter com carinho em qualquer bolicho cultural-doméstico, gente boa.