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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Cartas a Nora


Passarinheiros: Estamos migrando para o site www.tyrannusmelancholicus.com.br. Esperamos encontrá-los por lá. Gratíssimos pela companhia! Bjos

Foto registrada no dia do casamento (PopperfotoGetty)
“Cartas a Nora”, considerada uma das grandes obras eróticas da literatura universal, traz a correspondência entre James Joyce e sua esposa Nora Barnacle. A tradução das “cartas” foi publicada pela Iluminuras e lançada neste mês, revelando um Joyce pouco erudito e um tanto quanto vulgar...

A tradução e organização ficou por conta dos professores de teoria literária e de artes cênicas da UFSC, Sérgio Medeiros e Dirce Waltrick do Amarante. O casal de escritores e poetas acalenta o projeto de traduzir para o português as mais importantes obras da literatura mundial.

“Primeiro eu leio tudo para poder entender aquela linguagem. Aí tento transpor para o português”, conta Dirce. “A gente tenta manter a complexidade ou a simplicidade de Joyce”, diz Sérgio, lembrando que a ciência, porém, não é exata — toda tradução é uma interpretação.


Sérgio Medeiros e Dirce Waltrick 
Para evitar uma nova traição (Joyce no início do relacionamento com Nora transmitiu-lhe uma doença venérea), o casal combinou que quando estivessem distantes se incentivariam a escrever cartas eróticas. O resultado é um conjunto de correspondências que trata de todos os aspectos de um relacionamento. Desde o cotidiano, afazeres, viagens e compras, até sexo e desejo.



As cartas registram o primeiro recado trocado, depois que se conheceram caminhando pelas ruas de Dublin, na Irlanda, e seguem acompanhando seu relacionamento, sempre movimentado, e que influenciou intensamente obras de Joyce como Ulisses e Finnegans Wake, ambas consideradas entre as mais inovadoras e radicais do século 20 — além de as mais difíceis de ler.
Nesses momentos Joyce escrevia o que lhe vinha na cabeça, então, não tem correção. Muito diferente do Joyce escritor que reescrevia muitas vezes seus romances.






Trechos:
"Como eu gostaria de te surpreender dormindo agora! Tem um lugar em você que eu gostaria de beijar agora, um lugar estranho, Nora. Não nos lábios, Nora. Você sabe onde?" (Joyce).

"Parece que eu estou sempre na tua companhia sob todas as variedades de circunstâncias possíveis falando contigo caminhando contigo te encontrando de repente em diferentes lugares até que eu me pergunto se o meu espírito não deixou meu corpo no sono e saiu te buscando" (Nora).



terça-feira, 1 de maio de 2012

Ulisses de cara nova

Notícia literária constante nos últimos dias é a terceira tradução brasileira de Ulisses, do irlandês James Joyce, que está saindo do forno. Considerado o livro mais bombástico (ou adjetivos similares) da literatura moderna e que de cara causou estardalhaço, no seu lançamento. Recomendamos a todos ler essa obra. É fácil. Dividida em capítulos que exploram diferentes narrativas, o livro tem pouco mais de 1.100 páginas. Coisa pra se ler numa tarde. Desde que essa tarde seja interminável.

Falar de Ulisses é referir-se ao gênio literário que foi James Joyce, escritor acessível em outras obras. Seus livros anteriores, o romance “Retrato do artista quando jovem” (1916), e o de contos, “Dublinenses” (1914), mostram um autor de texto maravilhoso e prazeroso de se ler. São boas opções se adentrar no universo joyceano. Mas, pelo amor de Deus, jamais, em hipótese alguma, tente começar por Finnegan’s Wake, a obra mais hermética da história da literatura mundial da qual se tem notícias. “Obra louca, escrita por um louco”, teria dito o próprio Joyce sobre essa criação.

Joyce conhecia mais de vinte idiomas e ao transpor Homero para a era moderna sintetizou descobertas científicas e esbarrou em questões sociais, religiosas, estéticas e sexuais destes tempos. Ulisses teve sua primeira edição em 1921. Fez muito barulho e irou gente pra dedéu. Exemplares foram queimados nos EUA e na Inglaterra. O livro só foi liberado em 1933 e logo depois teve sua consagração mundial. Estudiosos da linguística utilizaram a tecnologia moderna dos computadores e constataram que Ulisses é a obra de estrutura matematicamente mais perfeita de toda a literatura.



A nova tradução de Ulisses que chega ao público foi um trabalho de dez anos, que coube ao professor de literatura e tradutor Caetano Galindo. A anterior de 2005, foi da professora carioca Bernardina da Silveira Pinheiro, que trabalhou sete anos para finalizar. A primeira a ser publicada no Brasil foi feita pelo célebre filólogo Antonio Houaiss, datada de 1966. Sua tradução, encomendada pelo editor Ênio Silveira, foi concluída em menos de um ano. É essa que tem um lugarzinho recôndito no lar Tyrannus.

De Houaiss...



...a Caetano Galindo (não encontramos foto de Bernardina)

Buck Mulligan, o personagem que abre Ulisses devia ser um sujeito gordinho e assim meio metido. Pela sua descrição em cada uma das traduções há diferenças entre as palavras usadas. Para Houaiss, ele era “sobranceiro e fornido”, para Bernardina era “majestoso e gorducho” e, segundo Galindo, “solene e roliço”. Pra quem não leu as três, e que está sem condições de fazer uma comparação, a diferença maior fica por conta do preço: oitenta, noventa e dois e noventa, e quarenta e sete reais, respectivamente.  




Os personagens centrais de Ulisses, que remete à magnífica “Odisseia”, de Homero, escrita quase mil anos antes de Cristo, são Stephen Dedalus, Leopold Bloom e Molly, esposa de Leopold. Stephen é Telêmaco, Leopold é Ulisses e Molly é Penélope. Bom, de a Odisseia pra Ulisses (Odisseia vem de Odisseu que, do grego para o latim, se torna Ulisses), há um lapso de tempo que se aproxima dos três mil anos. Daí que, segundo Joyce, Penélope não é mais aquela cordata mulher e nem seu marido um guerreiro invencível. E Telêmaco, vocês sabem... jovem é outro papo.



“Ulisses”, não é incorreto dizer, é literatura pra iniciados. Ou, pelo menos, pra perseverantes. Se você não é daqueles que lê tanto assim, mas aprecia os valores culturais, tenha na sua estante um exemplar de Ulisses. Compõe bem em qualquer ambiente de boa literatura. E com um pouco de esforço, lendo uma página por dia, em menos de três anos terá devorado a obra inteira. Agora se você é apaixonado por literatura... aproveite. Então é isso aí. Vá até sua livraria preferida e adquira seu Ulisses. Comemore o próximo Bloomsday, aqui ou no mundo.