terça-feira, 1 de maio de 2012

Ulisses de cara nova

Notícia literária constante nos últimos dias é a terceira tradução brasileira de Ulisses, do irlandês James Joyce, que está saindo do forno. Considerado o livro mais bombástico (ou adjetivos similares) da literatura moderna e que de cara causou estardalhaço, no seu lançamento. Recomendamos a todos ler essa obra. É fácil. Dividida em capítulos que exploram diferentes narrativas, o livro tem pouco mais de 1.100 páginas. Coisa pra se ler numa tarde. Desde que essa tarde seja interminável.

Falar de Ulisses é referir-se ao gênio literário que foi James Joyce, escritor acessível em outras obras. Seus livros anteriores, o romance “Retrato do artista quando jovem” (1916), e o de contos, “Dublinenses” (1914), mostram um autor de texto maravilhoso e prazeroso de se ler. São boas opções se adentrar no universo joyceano. Mas, pelo amor de Deus, jamais, em hipótese alguma, tente começar por Finnegan’s Wake, a obra mais hermética da história da literatura mundial da qual se tem notícias. “Obra louca, escrita por um louco”, teria dito o próprio Joyce sobre essa criação.

Joyce conhecia mais de vinte idiomas e ao transpor Homero para a era moderna sintetizou descobertas científicas e esbarrou em questões sociais, religiosas, estéticas e sexuais destes tempos. Ulisses teve sua primeira edição em 1921. Fez muito barulho e irou gente pra dedéu. Exemplares foram queimados nos EUA e na Inglaterra. O livro só foi liberado em 1933 e logo depois teve sua consagração mundial. Estudiosos da linguística utilizaram a tecnologia moderna dos computadores e constataram que Ulisses é a obra de estrutura matematicamente mais perfeita de toda a literatura.



A nova tradução de Ulisses que chega ao público foi um trabalho de dez anos, que coube ao professor de literatura e tradutor Caetano Galindo. A anterior de 2005, foi da professora carioca Bernardina da Silveira Pinheiro, que trabalhou sete anos para finalizar. A primeira a ser publicada no Brasil foi feita pelo célebre filólogo Antonio Houaiss, datada de 1966. Sua tradução, encomendada pelo editor Ênio Silveira, foi concluída em menos de um ano. É essa que tem um lugarzinho recôndito no lar Tyrannus.

De Houaiss...



...a Caetano Galindo (não encontramos foto de Bernardina)

Buck Mulligan, o personagem que abre Ulisses devia ser um sujeito gordinho e assim meio metido. Pela sua descrição em cada uma das traduções há diferenças entre as palavras usadas. Para Houaiss, ele era “sobranceiro e fornido”, para Bernardina era “majestoso e gorducho” e, segundo Galindo, “solene e roliço”. Pra quem não leu as três, e que está sem condições de fazer uma comparação, a diferença maior fica por conta do preço: oitenta, noventa e dois e noventa, e quarenta e sete reais, respectivamente.  




Os personagens centrais de Ulisses, que remete à magnífica “Odisseia”, de Homero, escrita quase mil anos antes de Cristo, são Stephen Dedalus, Leopold Bloom e Molly, esposa de Leopold. Stephen é Telêmaco, Leopold é Ulisses e Molly é Penélope. Bom, de a Odisseia pra Ulisses (Odisseia vem de Odisseu que, do grego para o latim, se torna Ulisses), há um lapso de tempo que se aproxima dos três mil anos. Daí que, segundo Joyce, Penélope não é mais aquela cordata mulher e nem seu marido um guerreiro invencível. E Telêmaco, vocês sabem... jovem é outro papo.



“Ulisses”, não é incorreto dizer, é literatura pra iniciados. Ou, pelo menos, pra perseverantes. Se você não é daqueles que lê tanto assim, mas aprecia os valores culturais, tenha na sua estante um exemplar de Ulisses. Compõe bem em qualquer ambiente de boa literatura. E com um pouco de esforço, lendo uma página por dia, em menos de três anos terá devorado a obra inteira. Agora se você é apaixonado por literatura... aproveite. Então é isso aí. Vá até sua livraria preferida e adquira seu Ulisses. Comemore o próximo Bloomsday, aqui ou no mundo.




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