O Jeca Tatu é um personagem criado por Monteiro Lobato e Pedro Malasartes, dizem de origem portuguesa. Mas por aqui ficou. O nosso Jeca é apresentado como trabalhador da área rural paulista, simplório, doente, preguiçoso, ignorante. O Pedro Malasartes é malandro, astucioso, sem escrúpulos, capaz de enganar o mais esperto dos mocinhos das cidades. Na verdade os dois são bem ardilosos.
O caipira, capiau, matuto no consciente coletivo é aquele que mora na área rural, usa calças de pular “corgo” ou de pegar frango; camisa xadrez, chapéu de palha; pica seu fumo e enrola seu cigarrinho na palha (presta atenção que é outra palha, diferente da palha do chapéu que é de coqueiro; essa é de milho); é empregado de fazenda e/ou tem sua roça. É casado e tem um bando de filhos barrigudos. Essa filharada não deve ser atribuída à falta da televisão, mas sim, ao fato de que eles poderão vira ajudá-lo na labuta quando crescerem.
Caipira picando fumo (Almeida Júnior) |
O “r” retroflexivo no pronunciar das palavras é sua mais completa tradução. Quando entoam palavras com “r”, elas ficam gorrdas. O dialeto caipira é uma variação da língua portuguesa influenciada pelo “nheengatu”, que é a língua Tupi, influenciada pelas gramáticas portuguesa e espanhola. Dessas convergências linguísticas (esperamos que nenhum especialista leia isto) originam palavras que saltam da boca pra fora desse povo como paia, muié, cuié, oreia, zóio, falá, pitá, oiá, rezá. Não sabemos o quanto é correto dizer que falar assim é “falar errado”. E o dialeto caipira tem sua mais bela expressão no romance “Grande Sertão, Veredas” de Guimarães Rosa. Ah! e se essas palavras forem ditas com um talo de capim no canto da boca e uma viola que chora...
A viola. A viola
caipira... Com suas afinações peculiares e famosas: “Cebolão”, que faz a mulherada
chorar e gemer sem sentir dor; e a “Rio Abaixo” usada pelo Diabo para seduzir e
levar as moças, ao descer os rios. Qual deve ser o hino dos caipiras, não sabemos.
Mas Tristeza do Jeca, Luar do Sertão ou Felicidade são de macerar coração. Resumindo: somos uns caipiras, matutos, capiaus..., querendo ou não aceitar. Com pouco mais de 500 anos, o Brasil, era um mato só quando os portugas por aqui chegaram... E que mato. Saímos do mato, mas o mato não saiu de nós. A ambiência rural está impregnada no DNA do brasileiro. E o que dizer de nós que moramos num estado com esse nome: Mato Grosso.
O violeiro (Almeida Júnior) |
E, coincidência ou não, neste ano que se comemora o centenário de nascimento de Amacio Mazzaropi, o mais caipira dos caipiras, desta quinta a domingo, acontece uma verdadeira maratona musical onde só vai dar viola. Pela ordem: hoje no Cine Teatro de Cuiabá tem uma etapa do Festival Nacional Voa Viola. Saindo de lá, vá direto pra Poxoréu, o maior reduto de baianos em MT, onde rola o 10º Encontro de Violeiros de Poxoréu, na sexta e no sábado. Que correria. Mas, ainda não acabou. Volte pra Cuiabá e assista, no Cine Teatro, o concerto da Orquestra de MT (sábado e domingo) que vai explorar o tema “música de fronteira”, aplicando contornos eruditos com arranjos e convidados especiais, num repertório que terá ritmos como o chamamé, o rasqueado e as mazurkas, entre outros.
Alma brasileira |
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