sábado, 12 de maio de 2012

Intimus et privatus

Janelas à noite (E.Hopper)
Andy Warhol preconizou que no futuro todo mundo seria famoso por 15 minutos. Então, o futuro é agora! Ser famoso é dar adeus à privacidade. Ter fama é ser público? O entendimento dessa questão é complicado. Coitada da pessoa que foi privada da sua vida privada... privada, privada, privada.

Warhol acertou na mosca quando vaticinou o direito à fama para "todo mundo". Todo novo dia é um novo peixe que cai na rede. Tão instantânea é a ascensão à categoria de celebridade, quanto o seu tempo de vida útil. Nos dias de hoje é muito difícil ter sua privacidade resguardada. A exposição é quase uma obrigatoriedade para ser e estar. Mas, ela não é assim tão desejada...

Privada não é apenas uma palavra. É um objeto, um utensílio, um lugar/local onde nossa privacidade está garantida. Até porque não inventaram ainda privadas para serem usadas simultaneamente por mais de uma pessoa. Ali você é o único, é seu trono, é seu reino, sob seu domínio.  

Fonte (M. Duchamp)

Chega uma hora que queremos privacidade. É aquele momento de se livrar dos olhares alheios e de estar imune à maldita plaquinha: “sorria, você está sendo filmado”.  A criançada e os adolescentes exigem da família o direito a privacidade aos berros. Correm aos prantos ou p da vida pro quarto, quase implodindo a casa com a violenta batida da porta.

Na sua privacidade você pode soltar (ou dar) um pum, pode cavoucar o nariz, cheirar a meia e a sovaqueira pra dar uma conferida, dar uma coçadinha na genitália... essas coisas que ninguém gosta de dizer que faz, mas que faz, faz!!! São procedimentos íntimos e totalmente privados, que combinam com a solidão. Se as paredes tiverem mesmo ouvidos, procure optar por um pum silencioso.  



No tempo das cartas violava-se a privacidade usando o vapor dos bicos das chaleiras para abrir as correspondências. As conversas entre quatro paredes eram acessadas com um copo para amplificar o som, e os buracos de fechadura serviam para bisbilhotar. Binóculos também eram úteis para ‘apreciar’ a vida dos outros. Mas tudo com certa discrição. Fofoqueiros e abelhudos, interessados na vida alheia, nunca ponderam sobre as consequências que quase sempre causam. Coisas ruins, que incomodam e prejudicam. São difusores de acontecimentos que não lhes pertencem e que, na maior parte das vezes, sequer têm méritos para a publicação.



Há anos se estabeleceu uma grande confusão em torno das palavras privacidade e intimidade. Não são sinônimas, mas o limiar entre seus sentidos é tênue. A raiz dessas palavras joga um pouco de luz nesse rocambole semântico. Privado vem do Latim, “privatus”. É aquilo que pertence a uma pessoa e que sobre ela tem poder.  Íntimo também deriva do Latim, “intimus”. Tem a ver com as coisas relativas ao interior da pessoa, aquilo que não quer ser repartido com outras.



Muitas histórias de invasão de privacidade e de direito à privacidade, são colocadas equivocadamente; já que o que está em questão, na real, é a intimidade. Para evitar mais e maiores confusões, vamos parando por aqui. Hora de nos recolhermos na privacidade e na intimidade do nosso lar. Essas coisas que quase todos os dias compartilhamos com os leitores. Tudo é uma questão de ponto de vista. Ponto final!    

Janela Indiscreta (Hitchcock)

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