A casa verde e rosa de Cartola e D. Zica |
De repente, um boato vira notícia. A Estação Primeira, a Mangueira, escola de samba arrebatadora, acerta com a prefeitura de Cuiabá. A capital de Mato Grosso será o enredo da escola no carnaval carioca de 2013. Visto assim do alto, mais parece um céu no chão. Parece perfeito. No ano que antecede a Copa de 2014, quando Cuiabá será uma das sedes do mega evento, a cidade é homenageada num dos maiores espetáculos do mundo, transmitido pra 170 países.
Ivo Meirellies, presidente da Mangueira |
O portelense autor de Sei lá, Mangueira |
Um marketing planejado, estratégia ideal para catapultar Cuiabá. Quem sabe a população cuiabana até esquece que a cidade é uma das mais violentas do Brasil e que também figura entre as que mais apresentam problemas administrativos e estruturais. Esses problemas, têm vezes, os olhos não conseguem perceber, as mãos não ousam tocar e os pés recusam pisar.
Onze e quinze da manhã na segundona braba. Estou na Avenida das Torres, artéria crucial cuiabana e reparo que a beleza do lugar, pra se entender, tem que se achar que a vida não é só isso que se vê. É um pouco mais. O sol tá de rachar e pego carona na sombra do puxadinho de uma quitanda bem simples. “Eu fiz esse telhadinho mesmo é pra isso. Bem aqui do lado tem um ponto de ônibus sem cobertura e tinha gente que ficava esperando duas horas no sol, até chegar o ônibus”. E começa a descer a lenha na má administração da cidade, coisa que não é de hoje. Com razão. Claro que minha língua começa a coçar.
Os pés recusam pisar? |
“Aqueles ônibus com ar condicionado que tinha, tiraram tudo”, prossegue ele. E diz que essa história de transporte coletivo em Cuiabá é tudo esquema de políticos e poderosos. Ele abandona a conversa e vai atender a freguesia. Ainda não sabia eu naquela hora do dia da confirmação de que Cuiabá enredaria a Mangueira. Se soubesse, lógico que teria pedido a opinião do quitandeiro. E teríamos conversa pra mais de metro.
Esgoto Rio Cuiabá |
E o papo seria quilométrico se entrássemos nas alas da saúde pública, da segurança, da educação, do saneamento, do meio ambiente etc. Mas, pois é. São 3,6 milhões de reais que os poderes públicos (1,6 mi) e a iniciativa privada (2 mi) terão que desembolsar pra bancar o desfile da verde e rosa. O resto do orçamento, que não sabemos de quanto se trata, a Escola providencia. E o que nos toca é tentar adivinhar como Cuiabá, cantada na Sapucaí, vai repercutir junto ao povo mais sofrido cuiabano... num jeito novo da gente viver, de pensar, de sonhar, de sofrer.
Jejé, destaque absoluto |
É isso, moçada! A ideia é bacana, mas vai ter muito político cuiabano (e mato-grossense) saracoteando na Sapucaí às custas do dinheiro público ...
ResponderExcluirA gente sabe que hoje o desflle do grupo especial, embora continue lindo (como o Rio de Janeiro) virou um negócio. O texto, combinando a notícia, a vida real e os versos do belo samba de Paulinho da Viola, ficou delicioso! Saudades da dupla dinâmica. Nem parece que moramos na mesma cidade!
É caríssima Martha... gostaríamos de tanto de cantar Cuiabá, como ela merece. Enredar Cuiabá neste Sec. XXI implica em tragédias urbanas e dramas administrativos. "Que tristeza que nóis sentia, cada tauba que caia doia no coração... Mato Grooso quis gritar,mas..." Saudades de você também. Venha nos visitar. Bjos dos Tyrannus.
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