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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cheiro de chocolate e outras histórias


Autor de pelo menos duas dezenas de livros, vencedor de prêmios literários, finalista por duas vezes do Jabuti e uma vez do Prêmio Casa das Américas; ele é um desconhecido escritor brasileiro. Seu talento flagrante não tem sido suficiente para uma circulação massiva de suas obras na mídia. E, tampouco o seu nome, que não é nada comum, tem lhe servido de marketing. Roniwalter Jatobá é o cara.  Ops, esqueci-me de aspar... "o cara".

Deliciei-me vorazmente com as 145 páginas de "Cheiro de chocolate e outras histórias", o mais recente livro de contos de Jatobá, lançado pela editora Nova Alexandria. Disse que me deliciei, porém, na verdade sofri um bocado com as descrições e histórias de personagens em precária situação econômica que vieram para São Paulo, na esperança de enriquecer. Cabe aqui registrar a delicadeza da assessoria da editora que me enviou o livro após, antes, indagar se eu o queria mesmo. É assim que se faz, para não correr o risco de deitar pérolas aos porcos. 


Roniwalter Jatobá (1949), que juraria tratar de um pseudônimo (mas, nada foi mencionado nas “informações” sobre o autor constantes no livro), mineiro de nascença, baiano de adolescência e paulistano por opção, após atingir a idade madura. Foi operário do setor automobilístico, gráfico e depois formou-se em jornalismo. Chegou de mansinho na literatura, onde está até hoje. De mansinho. Voluntariamente, no final dos anos 70, se exilou na Europa, onde viveu sete meses. 

Ronaldo Cagiano   Roniwalter Jatobá
A narrativa de Jatobá é envolvente. Seus tipos quase miseráveis, e também esperançosos, são desentranhados da mais pura realidade. O autor, certamente, esteve envolvido com essas pessoas e contextos que narra em seus contos. Na orelha do livro, pontua sobre ele, Ronaldo Cagiano (autor de mão cheia), uma comparação com o processo criativo de Goethe: "O começo e o fim de toda a atividade literária é a reprodução do mundo que me cerca por meio do mundo que está dentro de mim."

Ilustração de Enio Squeff

Já no segundo conto, "Aves de arribação" - nome bastante sugestivo, Roniwalter apresenta seu caleidoscópio de pessoas humildes que praticaram o êxodo rural, para se desvairar numa pauliceia onde a selvageria do concreto já avançava a passos firmes. O conto que nomina o livro "Cheiro de chocolate", explora curiosamente a questão humana dos odores. Brinca, ou fala sério em torno desse tema, com uma incrível qualidade. Olha só... esse povo, esses escritores bons que nos provocam encantamentos, gostam de enrolar os leitores misturando ficção e realidade. Tem autor que, já ouvi dizer, faz um negócio que nem se pode chamar de ficção: é fricção... o cabra pega a realidade e esfrega ela até dar caldo.

Ilustração de Enio Squeff

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Saudades e livros


“Seo” Caetano mudou de endereço no final da tarde desta quarta-feira (05). E a tradição da cultura mato-grossense reflete esse vazio. Mestre na fazeção e na tocação da viola de cocho, ficou por aqui 87 anos. Sai de cena, mas deixa o seu legado. Foram décadas de batente. Façamos as contas: 75 anos de labuta, pois começou aos 12.  Nasceu em Barão de Melgaço, município pantaneiro, mas morava em Cuiabá desde antigamente. Numa casa simples lá no bairro Dom Aquino. Dava gosto passar em frente sua residência e ver as violas enfileiradas na calçada em frente. 

Caetano Ribeiro, que era referendado pelo Iphan e pelo MinC, além do legado cultural, também deixou um filho a seguir suas pegadas, Alcides Ribeiro. Tive a oportunidade de conhecer e conviver com ambos. Mais com Alcides, com quem sempre trocava ideias nos tempos em que trabalhei na Secretaria de Estado de Cultura. Figuraças da nossa cultura. O blog passarinheiro se entristece com a partida, mas fica a certeza que vai ter cururu no céu.


Vida que segue. "Quando o carteiro chegou...", diz antiga música. Trabalhar em casa tem essas vantagens. Você percebe quando o carteiro chega. "Pô, já vem você com mais contas". "Não é conta não...", disse ele tirando da bolsa um envelope onde, claramente, percebi um livro. "Ôbaaaaa". Fui até o portão e recebi a encomenda letrada. Assinei o papel da entrega. O carteiro, com um cara meio sacana, suado de tanto sol no lombo (a camisa "amarelo cheguei" , naquela claridade do dia parecia até que ofusca o astro-rei) saca da bolsa mais duas correspondências. Adivinha se não eram contas.

Deixei as contas pra abrir depois e rasguei estabanadamente o envelope maior. Um livro??? Qual nada... dois, ambos da editora Nova Alexandria, prometidos pela assessora de comunicação da editora. Um deles, "Cheiro de chocolate e outras histórias", de Roniwalter Jatobá, autor que me foi elogiado por Ricardo Dicke; escreve sobre personagens desentranhados de uma pauliceia industrializada que também é abrigo de esperanças.  


O outro, "Domitila", um poema romance para a Marquesa de Santos, aquela mesma que teve um caso com Dom Pedro I, de Álvaro Alves de Faria. O livro intercala  cartas e poemas (estes representando o eu lírico da Marquesa) que registram o romance de sete anos entre ela e Dom Pedro. São estas as obras que estão na fila para serem traçadas. Sim, nós traçamos... E sempre tentamos empreender uma concorrência desleal para com as traças.  



Bom, a literatura é feita de dicas. Somos leitores, cuja velocidade de consumo se alterna. No momento, por estas bandas, "A dança do jaguar" (http://www.00h00.com/portugues), da escritora cuiabana Tereza Albues, que viveu muitos anos nos EUA, está na crista da onda. Um texto rico, preciso, a embalar uma história de suspense que conquista o leitor. Nas primeiras cinquenta páginas é isso que está me parecendo. 

"Manoel de Barros", da coleção Encontros (azougue editorial), organizado por Adalberto Muller, é outra obra que está com a corda toda. Foi um generoso presente de uma amiga querida que vive lá em Dracena, interiorrr paulista. O poeta está em alta! O que rola de trechos de poemas dele no facebook é um escândalo. Outro dia disseram que isso é bom, porque o Mario Quintana, tava precisando mesmo de um descanso! Em junho, no Rio de Janeiro, estava em cartaz a peça "Nada", baseada na sua obra e, na mesma época, um grupo de cantores apresentava seus poemas musicados.


Tem muita gente que, ao se referir a sua obra, o faz como se sua poesia fosse "batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão...". Ora ora ora, Manoel de Barros é um erudito, um homem que tem nos dicionários grandes companheiros para compor seus poemas que transbordam numa simplicidade elaboradíssima.