Autor de pelo menos duas dezenas de livros, vencedor de prêmios literários, finalista por duas vezes do Jabuti e uma vez do Prêmio Casa das Américas; ele é um desconhecido escritor brasileiro. Seu talento flagrante não tem sido suficiente para uma circulação massiva de suas obras na mídia. E, tampouco o seu nome, que não é nada comum, tem lhe servido de marketing. Roniwalter Jatobá é o cara. Ops, esqueci-me de aspar... "o cara".
Deliciei-me vorazmente com as 145 páginas de "Cheiro de chocolate e outras histórias", o mais recente livro de contos de Jatobá, lançado pela editora Nova Alexandria. Disse que me deliciei, porém, na verdade sofri um bocado com as descrições e histórias de personagens em precária situação econômica que vieram para São Paulo, na esperança de enriquecer. Cabe aqui registrar a delicadeza da assessoria da editora que me enviou o livro após, antes, indagar se eu o queria mesmo. É assim que se faz, para não correr o risco de deitar pérolas aos porcos.
Roniwalter Jatobá (1949), que juraria tratar de um pseudônimo (mas, nada foi mencionado nas “informações” sobre o autor constantes no livro), mineiro de nascença, baiano de adolescência e paulistano por opção, após atingir a idade madura. Foi operário do setor automobilístico, gráfico e depois formou-se em jornalismo. Chegou de mansinho na literatura, onde está até hoje. De mansinho. Voluntariamente, no final dos anos 70, se exilou na Europa, onde viveu sete meses.
Ronaldo Cagiano e Roniwalter Jatobá |
Ilustração de Enio Squeff |
Já no segundo conto, "Aves de arribação" - nome bastante sugestivo, Roniwalter apresenta seu caleidoscópio de pessoas humildes que praticaram o êxodo rural, para se desvairar numa pauliceia onde a selvageria do concreto já avançava a passos firmes. O conto que nomina o livro "Cheiro de chocolate", explora curiosamente a questão humana dos odores. Brinca, ou fala sério em torno desse tema, com uma incrível qualidade. Olha só... esse povo, esses escritores bons que nos provocam encantamentos, gostam de enrolar os leitores misturando ficção e realidade. Tem autor que, já ouvi dizer, faz um negócio que nem se pode chamar de ficção: é fricção... o cabra pega a realidade e esfrega ela até dar caldo.
Ilustração de Enio Squeff |
que interessante.
ResponderExcluiro ronaldo cagiano é um cara foda, que sabe tudo de literatura.