segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Carta para Elia

Elia Kazan nasceu em Constantinopla, em 1909

O grande artista é aquele que tem uma postura política e social inequívoca ao longo de sua vida. Ou não. Acreditamos que a arte não precisa ser necessariamente engajada. Em “Carta para Elia", documentário de 2010 e realizado para a televisão,  Martin Scorsese faz um acerto de contas com Elia Kazan, cineasta que não pode ser esquecido jamais quando se trata da ainda curta história da sétima arte.

Scorsese, um dos mais notáveis diretores do cinema contemporâneo, narra seu filme de pouco mais de 60 minutos, como um professor que tenta emplacar em seus alunos o gosto e o potencial estético que surge da arte do cineasta cinebiografado, cujo único pecado, não está em sua obra. Mas, no fato de, durante o Macartismo (entre os anos 40 e 50), nos EUA, ter se posicionado contrariamente ao comunismo e, inclusive, “entregado” colegas artistas, que faziam parte, como ele, do Grupo de Teatro, como comunistas. E pra piorar a situação escreveu um artigo no New York Times, reforçando que não se arrependia de nada. 


James Dean dirigido por Kazan em "Vidas Amargas"

Teve que conviver com as consequências disso pelo resto da vida. E soube, magistralmente, tirar partido da conturbada experiência de vida. No doc., segundo a contextualização de Scorsese, esse drama pessoal que “queimou” o filme de Kazan, também fez com que ele produzisse filmes espetaculares, ressurgindo como um cineasta conhecedor de todos os detalhes que implicam na excelência da qualidade fílmica. Bom, Scorsese sabe muito de cinema e vai confessando apaixonadamente as razões de sua idolatria por Kazan. Isso acontece de forma tão didática e espontânea, que fica difícil contradizer o que ele sentencia.


Jeanne Moreau, De Niro e Kazan, no set de "O último magnata"

Em 1964, o futuro diretor de "Taxi Driver" estudava cinema e já conhecia praticamente toda a obra de Kazan. Eis que numa palestra de seu grande ídolo pensou em cavar um estágio no próximo filme de Kazan. Chegou atrasado e recebeu um “boa sorte” como dispensa.  "Ainda bem... Porque se ele me contratasse eu iria fazer-lhe tantas, mas tantas perguntas das suas produções anteriores que muito provavelmente ia me dispensar", diz Martin.



Marlon Brando, James Dean e Montgomery Clift. Alguns ícones do cinema de todos os tempos, que foram dirigidos por Elia, que ingressou no cinema como ator de teatro, nos anos 30, quando participou do célebre "Grupo de Teatro" de Nova York que, naqueles tempos, praticava a dramaturgia coletiva e fez muito sucesso. Os conhecimentos e as experiências do teatro se cristalizaram na trajetória de Kazan, quando este entrou de cabeça no cinema.


Kazan dirige Marlon Brando em "Sindicato de ladrões"

Filmes como "Vidas amargas", "Sindicato de ladrões", "No clamor do Sexo" e "O último magnata"; para citar apenas alguns, estão entre as obras primas que Elia Kazan nos deixou. Ele saiu de cena em 2003, mas, quatro anos antes, recebeu um Oscar, pelo conjunto de sua obra, metade da plateia vaiou e outra aplaudiu veementemente. Adivinhem quem a Academia incumbiu para entregar o prêmio, enaltecendo a honrosa premiação? 



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