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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Filmes em competição

Marcelo Pedroso em seu  curta documental "Câmara escura"
Finalmente a abertura pra valer do festival, porque o que interessa mesmo, segundo minha humilde opinião, é assistir aos filmes selecionados. Festival de Cinema é mais ou menos por aí. Acredito que um evento como este, mais do que qualquer outro lance que esteja rolando, gira mesmo é em torno dos filmes que vão competir. De minha parte havia grande expectativa, já que amigos e conhecidos estavam apostando na safra de realizadores que aqui estão em busca de prêmios.

Passada a noite de terça aqui no FestBrasília, onde três curtas e dois longas que competem foram exibidos, minha expectativa, devo dizer, foi correspondida. Parcialmente. Sim, porque apreciei os título mostrados, mas ainda não fiquei babando, estupefato, sintoma característico que me bate quando curto bastante um filme. Curtas-metragens são melhores do que longas, pelo menos porque se forem chatos, terminam mais rápido. Vamos a eles...

Incluindo os cinco títulos exibidos na terça à noite, o que mais me chamou a atenção foi o curta, da categoria documentário, "Câmara escura" (PE), de Marcelo Pedroso. O cineasta explora ideia bastante original e esbarra na ficção. Bate, ele mesmo, em algumas portas da cidade, dizendo que há uma encomenda. Avisa pelo interfone e sai fora rapidinho, deixando uma pequena caixa fechada no portão da casa assediada. Dentro da caixa, uma pequena câmera que irá registrar sons e imagens de quem abri-la. Até certo ponto, parece uma ideia simples, mas, quando se imagina a reação das pessoas, neste mundo paranoico e violento, e no que o desenvolvimento desse roteiro pode dar, é de se esperar que o filme cria seu próprio rumo e vai que vai. Um curta bacana, instigante e divertido...

Dirceu Cieslinski, personagem real, e a cineasta Ana Johann
Pedro Severien (à dir.) e equipe de "Canção para minha irmã"
Os outros curtas, "Linear" (SP), animação, de Amir Admoni; e "Canção para minha irmã" (PE), ficção, de Pedro Severien; confirmam a velha história da criatividade dos curtas-metragistas no Brasil. Em qualquer festival que você vá, ali estão eles desenvolvendo boas ideias com narrativas e técnicas diferenciadas, provocando e/ou brincando com a imaginação do espectador, usando sempre uma relativa dose de criatividade.  Uns mais, outros menos. Em "Linear" um pequeno ser animado segue por uma movimentada via paulistana pintando a faixa central da rua. Dá pra antever os problemas nos quais irá se meter. "Canção para minha irmã" desenvolve um texto que eu jurava ser literário (e o é, se meus olhos conseguiram reparar direitinho nos caracteres finais), apresentando uma estória aparentemente sem pé nem cabeça. Cinema autoral é assim mesmo, e azar daquele que reclamar.

Talvez o melhor da noite, "Um filme para Dirceu" (PR), de Ana Johann. Concorre na categoria documentário, mas há um interessante tratamento ficcional no filme, que narra a história de um gaitero, ou acordeonista, um jovem simples sul-brasileiro, que queria porque queria merecer um filme e consegue isso, graças, principalmente, à realizadora Ana Johann. O resenhista, antes mesmo de começar o texto, já deveria ter registrado o seu desgosto para com o tipo de música praticado pelo personagem central.

Momento terno de "Um filme para Dirceu"
Bom, de qualquer maneira, estou sendo sincero e em tempo. Não obstante eu viver de saco cheio com esse estilo musical, que flerta com o sertanejo e é demasiado imperativo na região norte de Mato Grosso, estado que habito, me diverti bastante com o filme.É muito curioso o personagem "espevitado" de Dirceu, assim como as reviravoltas da sua vida e do próprio filme. Imagino a trabalheira que deve ter sido a montagem do doc, considerando que foram praticamente dois anos e meio de captação... putz.

E impressiona como a diretora conseguiu trabalhar e montar todo esse material de forma bastante razoável. Notável o seu trabalho e o destaque maior, segundo meu entendimento, vai pra ela, por conta dessa labuta. A peruca estilo "pigmalião desestruturado" do cantor sertanejo Teodoro, da dupla Teodoro & Sampaio, claro, também merece menção.

O filme que mais me agradou: "Eles voltam" (PE), ficção dirigida por Marcelo Lordello. Dois irmãos  adolescentes pentelhos estão enchendo o saco de seus pais dentro de um carro, numa provável viagem. O pai estaciona o veículo e ordena a retirada da dupla e 'foge' com seu veículo. Uma situação pouco provável na vida real... O que? Tem certeza? Se você tem filhos, deve saber o quanto isso seria inadmissível, mas também o quanto dá vontade de fazê-lo em determinadas situações. Esse é o ponto de partida do longa de Lordello.

Marcelo Lordello fala sobre "Eles voltam" antes da exibição
O filme se desenvolve de forma arrastada, lentamente, e, inclusive, após a exibição ouvi queixas nesse sentido. No meu caso particular, isso não incomoda e tampouco o vazio e a inverossimilhança que, certamente, 'vazaram' em determinadas passagens. A narrativa meio ao estilo filme de arte, não comprometeu, para este Tyrannus. Sendo um filme onde sobra o ponto de vista da personagem central, uma adolescente, num auge de sua experiência existencial a conviver com questões práticas muito incomodas, afinal, o que esperar de um adolescente.

Olha, texto longo demais já à esta altura. Não vou dizer que esta primeira noite de mostras competitivas já me bastaram, mas arrisco que a coisa começou bem. E tá bom por hoje. É o momento exato de buscar o ponto final. Mas... mais, é o que eu quero. A vida não é feita de festivais, mas quando eles acontecem, procurar é um filme perfeito é uma boa missão. Inté!
 
O curta de animação "Linear", de Amir Admoni

domingo, 16 de setembro de 2012

Festbrasilia


Qual é a cara do cinema brasileiro? A pergunta foi disparada aos realizadores que estão com filmes nesta 45ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, via e-mail. E não é que alguns responderam? 

O Tyrannus é um apreciador “pitaqueiro” dessa arte e nossas opiniões sobre este ou aquele filme volta e meia são emplacadas aqui. A emoção que cada título nos provoca e os aspectos técnicos – à base do empirismo, fundamentam nossos comentários. 

A partir desta segundona (17), aterrissamos em Brasília a convite da organização do festival. Prometemos marcação cerrada em torno de filmes pré-selecionados e representativos da produção nacional.



São doze títulos de longa metragem, entre documentários e ficção; e mais dezoito (curtas) divididos nos gêneros animação, ficção e documentário. Trinta novos filmes que passarão pelo crivo dos jurados, e que foram produzidos em onze diferentes estados: RJ, PE, SP, PI, MS, MG, PR, GO, SC, DF e RS. Uma boa oportunidade para checar parcela da produção tupiniquim autoral mais recente. Bom, esse negócio de “autoral” é relativo, porém, não há como negar que num festival de cinema, o critério autoral tem mais chances de comparecer do que no circuito comercial, quando o cinema é muito mais indústria e entretenimento do que qualquer outra coisa. 

Resumo da ópera: a cara do cinema brasileiro é:


O nosso cinema tem a cara do Brasil. Simples assim. Quando produzido pela grande distribuidora nacional (que divulga seus filmes na própria emissora de TV), costuma ser de pouca ousadia (quase sempre) estética, e fácil trânsito para públicos que preferem obras sem caroços a serem separados na hora da digestão. Quando produzido em "cooperativas" (os coletivos), rende frutos bem mais interessantes, com sabores e cores bem mais diversos (e muitas vezes representando os locais onde foram produzidos), mas com pouco alcance, já que a distribuição se faz complicada sem ajuda do poder do mercado de distribuição, restando quase sempre os Festivais para que ganhem alguma notoriedade "mercadológica". E existe uma terceira parcela que tenta se virar por conta própria (como se fossem nossos autônomos), que em momentos tenta se unir aos grandes para ter chance de divulgação, e por outras batalhas insanamente e solitária. Nosso cinema é muito nossa cara como nação: nos aspectos positivos e negativos. Cid Nader, crítico de cinema (Cinequanon)


O cinema tem mil caras, que dependem da época e do ângulo visto. Hoje, do meu ponto de vista, o cinema parece uma coisa e é outra, parece que vai num rumo e segue outro. O cinema hoje é totalmente "Kátia". Karla Holanda (Kátia, PI, longa/doc).


Kátia

A cara do cinema brasileiro é do tamanho deste país e por ser tão grande carrega uma diversidade de olhares e visões de mundo muito diferentes, mas contêm em seu centro o que há de mais profundo em seu âmago, fome e cores. Ana Johann (Um filme para Dirceu, PR, longa/doc). 


Um filme para Dirceu

Atualmente, quero acreditar que é a mais plural possível. Marcelo Lordello (Eles voltam, PE, longa/ficção).


Eles voltam

A cara do cinema brasileiro é o seu povo, não poderia ser diferente. É branco, é preto, é amarelo e cor de rosa. É musical, tem muitas facetas, é novo e novíssimo. Salve Paulo Emílio Salles Gomes, que escreveu sobre a verdadeira importância do nosso cinema pra nossa gente! Allan Ribeiro (Esse amor que nos consome, RJ, longa/ficção).


Esse amor que nos consome

Felizmente, o cinema brasileiro tem muitas caras. O cinema autoral cresce com diversidade, pois os novos realizadores têm produzido filmes pessoais, que falam em primeira pessoa, de uma maneira honesta e sincera. Sou contra a ideia de valorizar uma escola estética ou alguma fórmula, cada filme deve buscar sua própria identidade. Pedro Severien (Canção para minha irmã, PE, curta/ficção).


Canção para minha irmã

A cara do cinema brasileiro é desfigurada, ainda bem:). Gabriel Mascaro (Doméstica, PE, longa/doc).

Doméstica