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domingo, 23 de setembro de 2012

Fim de conversa


Bye bye Braxília. De volta pra Cuya até na tampa de novas experiências e contatos. E retinas fatigadas com a montoeira de filmes. Volto pro ninho feliz da vida, pois nada como o lar adocicado. Neste domingo (23), lá pelas dez da matina, toca o telefone no meu quarto. "Alô... é o senhor que é crítico de cinema de Cuiabá?". Meu Deus do céu, penso, com a cachola embananada. Deduzo e descubro de quem se trata... "Pô, Nicolas, fiquei até assustado".


"Pudinzin" do Jk
O poeta amigo, cuiabano, radicado desde o período paleozóico na capital federal, Nicolas Behr, está para lançar livro novo. Acho que é "meio seio" ou ao contrário, o título. "Vou passar aí no hotel agora pra te pegar. Venha almoçar aqui em casa com minha família". Aplica o convite e diz que a sogra estará presente. 

Lembro-me da ruidosa conversa que tivemos no sábado, quando visitei seu viveiro.  Entre as espécies que ele comercializa, paramos diante de uma palmeira (gueroba?) e quebramos o coco (olha só, nessa idade!)... calma... para degustar a castanha e, de japa, um suculento coró.


Nicolas, o garoto que ainda quebra-coco
Pau Brasília é o nome do estabelecimento comercial do poeta e, num discreto bar ao lado, traçamos uma rabada... no sábado (22). Sei não... coco, pau, rabada, seio (o novo livro tem apelo erótico). Lembro-me quando ele me contou que, ao detalhar pra sua mãe a nova obra, ela perguntou-lhe: Nicolas, o livro tem desenhos? Tem, mas a senhora não precisa ver. Raciocino sobre o convite e disparo. "Não vou almoçar na sua casa não, cara. Você tá querendo me usar diante da sua sogra, já que está com essa história de livro besteirento".  Caímos na risada e ele: Lorenzo, você descobriu meu plano secreto.


Rabada em DF ...

Não fui. E descobri que dancei, deveria estar no aeroporto! Vacilei e não chequei a data de retorno. Apresso-me no almoço e na arrumação da mala. No saguão do hotel, enquanto aguardo a condução pro aeroporto, engato conversa com a atriz mirim Raquel Bonfante e sua mãe, que também aguardam a van. Raquel atuou em "Noites de Reis", de Vinícius Reis, longa de ficção exibido no sábado. Me perguntam o que achei do filme e fico um pouco sem saber como lhes explicar que não gostei do filme. Elas agradecem minha sinceridade.

A caminho do aeroporto, converso com a atriz Bianca Byington, protagonista do filme. Ela, claro, é outra que quer saber o que eu achei do filme. Eu disse algo como a falta de uma contextualização mais forte dos personagens na história. Só depois, quando já estava no avião, é que achei qual deveria ser minha resposta, a que soaria de forma mais direta: cinema, como literatura, é uma contação de história... às vezes a gente não gosta da forma como a história é contada.   E assim termina o post de hoje.


A linda Maria Fernanda Cândido

Nome do filme: quando os falcões se encontram...
A bela e impávida Brasília

sábado, 22 de setembro de 2012

FestBrasilia em noite mais ou menos

Empurrando... de Chimicati, Bottaro e Carvalho

"Empurrando o dia" (25'). Expressão que tem a ver com ócio e monotonia e que nem precisa explicar pra se entender. É um curtametragem mineiro dirigido por Felipe Chimicati, Rafael Bottaro e Pedro Carvalho. Às vésperas das festas de final de ano eles percorreram corrutelas do Centro Oeste das Gerais em busca de depoimentos, assim à toa. Aquela conversinha fiada na qual o povo mineiro é mestre. Com passagens engraçadíssimas - como a história do “termo”, e outras nem tanto e não comprometem. Facinho de assistir, interessante e divertido. 
Com a palavra o diretor de Valquíria
O curta mineiro, "Valquíria" (8'), de Luiz Henrique Marques é uma animação baseada na ópera de Wagner, "O anel dos Nibelungos", onde é narrado um bravo conflito familiar. Para uma animação que resulta da graduação de Marques, até que ele foi longe demais. Uma estética bonita e criativa é percorrida ao longo da brevidade da obra. Há que se ressaltar que a grandiosidade da música wagneriana não é coisa que se acha em qualquer esquina. E o jovem cineasta não foi pretensioso, o que já é um grande passo.


Eu nunca deveria ter voltado
"Eu nunca deveria ter voltado" (15') curta carioca, confesso que me decepcionou. Eduardo Morotó, Marcelo Martins Santiago e Renan Brandão dirigem esta história que mostra as encucações de um personagem em relação a uma fotografia de jantar com sua família, onde estão seus pais e irmãos.  Fiquei com a impressão de que é um filme pra “viajar”, senti que perdi o bonde e nunca mais volto.


Gracinha, a doméstica engraçadinha
O documentário longa-metragem "Doméstica", filme pernambucano de Gabriel Mascaro, não me agradou, apesar da necessidade de se ressaltar a coragem do diretor que o montou a partir de imagens registradas por adolescentes, ao longo de uma semana, em torno de suas empregadas domésticas. O filme oscila muito e fica totalmente a mercê do peso de cada personagem. Há momentos de extrema comicidade, que se alternam com outros muito frouxos. Talvez a ideia apresentasse um resultado mais interessante se Mascaro entrasse de cabeça no experimentalismo.

Último título exibido na noite de sexta, foi o longa de ficção "Era uma vez eu, Verônica" (PE), de Marcelo Gomes (me deixou um pouco atônito). Demorei muito para entender que "era só aquilo mesmo" que estava sendo narrado. As reflexões existenciais da médica recém formada que vive às voltas com suas questões e dúvidas, e com o pai, enfermo, quase ao ponto de se mandar deste mundo, por quem nutre uma forte relação afetiva. Enquanto ata e desata essa conversa em torno de “o que faço da minha vida”, o cineasta vai mostrando suas armas. Fotografia depuradíssima e a capacidade de criar situações envolventes com seus personagens.

Marcelo dirigindo Hermila Guedes e João Marcelo
Acho que precisarei assistir "...Verônica" novamente para gostar dele, realmente. Pois, o batidão acaba influenciando. Assistir três a quatro horas de filmes seguida, quando chega o último, se acontece uma narrativa meio arrastada, avaliar fica mais difícil.


Os fazedores de "Verônica"

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Filmes em competição

Marcelo Pedroso em seu  curta documental "Câmara escura"
Finalmente a abertura pra valer do festival, porque o que interessa mesmo, segundo minha humilde opinião, é assistir aos filmes selecionados. Festival de Cinema é mais ou menos por aí. Acredito que um evento como este, mais do que qualquer outro lance que esteja rolando, gira mesmo é em torno dos filmes que vão competir. De minha parte havia grande expectativa, já que amigos e conhecidos estavam apostando na safra de realizadores que aqui estão em busca de prêmios.

Passada a noite de terça aqui no FestBrasília, onde três curtas e dois longas que competem foram exibidos, minha expectativa, devo dizer, foi correspondida. Parcialmente. Sim, porque apreciei os título mostrados, mas ainda não fiquei babando, estupefato, sintoma característico que me bate quando curto bastante um filme. Curtas-metragens são melhores do que longas, pelo menos porque se forem chatos, terminam mais rápido. Vamos a eles...

Incluindo os cinco títulos exibidos na terça à noite, o que mais me chamou a atenção foi o curta, da categoria documentário, "Câmara escura" (PE), de Marcelo Pedroso. O cineasta explora ideia bastante original e esbarra na ficção. Bate, ele mesmo, em algumas portas da cidade, dizendo que há uma encomenda. Avisa pelo interfone e sai fora rapidinho, deixando uma pequena caixa fechada no portão da casa assediada. Dentro da caixa, uma pequena câmera que irá registrar sons e imagens de quem abri-la. Até certo ponto, parece uma ideia simples, mas, quando se imagina a reação das pessoas, neste mundo paranoico e violento, e no que o desenvolvimento desse roteiro pode dar, é de se esperar que o filme cria seu próprio rumo e vai que vai. Um curta bacana, instigante e divertido...

Dirceu Cieslinski, personagem real, e a cineasta Ana Johann
Pedro Severien (à dir.) e equipe de "Canção para minha irmã"
Os outros curtas, "Linear" (SP), animação, de Amir Admoni; e "Canção para minha irmã" (PE), ficção, de Pedro Severien; confirmam a velha história da criatividade dos curtas-metragistas no Brasil. Em qualquer festival que você vá, ali estão eles desenvolvendo boas ideias com narrativas e técnicas diferenciadas, provocando e/ou brincando com a imaginação do espectador, usando sempre uma relativa dose de criatividade.  Uns mais, outros menos. Em "Linear" um pequeno ser animado segue por uma movimentada via paulistana pintando a faixa central da rua. Dá pra antever os problemas nos quais irá se meter. "Canção para minha irmã" desenvolve um texto que eu jurava ser literário (e o é, se meus olhos conseguiram reparar direitinho nos caracteres finais), apresentando uma estória aparentemente sem pé nem cabeça. Cinema autoral é assim mesmo, e azar daquele que reclamar.

Talvez o melhor da noite, "Um filme para Dirceu" (PR), de Ana Johann. Concorre na categoria documentário, mas há um interessante tratamento ficcional no filme, que narra a história de um gaitero, ou acordeonista, um jovem simples sul-brasileiro, que queria porque queria merecer um filme e consegue isso, graças, principalmente, à realizadora Ana Johann. O resenhista, antes mesmo de começar o texto, já deveria ter registrado o seu desgosto para com o tipo de música praticado pelo personagem central.

Momento terno de "Um filme para Dirceu"
Bom, de qualquer maneira, estou sendo sincero e em tempo. Não obstante eu viver de saco cheio com esse estilo musical, que flerta com o sertanejo e é demasiado imperativo na região norte de Mato Grosso, estado que habito, me diverti bastante com o filme.É muito curioso o personagem "espevitado" de Dirceu, assim como as reviravoltas da sua vida e do próprio filme. Imagino a trabalheira que deve ter sido a montagem do doc, considerando que foram praticamente dois anos e meio de captação... putz.

E impressiona como a diretora conseguiu trabalhar e montar todo esse material de forma bastante razoável. Notável o seu trabalho e o destaque maior, segundo meu entendimento, vai pra ela, por conta dessa labuta. A peruca estilo "pigmalião desestruturado" do cantor sertanejo Teodoro, da dupla Teodoro & Sampaio, claro, também merece menção.

O filme que mais me agradou: "Eles voltam" (PE), ficção dirigida por Marcelo Lordello. Dois irmãos  adolescentes pentelhos estão enchendo o saco de seus pais dentro de um carro, numa provável viagem. O pai estaciona o veículo e ordena a retirada da dupla e 'foge' com seu veículo. Uma situação pouco provável na vida real... O que? Tem certeza? Se você tem filhos, deve saber o quanto isso seria inadmissível, mas também o quanto dá vontade de fazê-lo em determinadas situações. Esse é o ponto de partida do longa de Lordello.

Marcelo Lordello fala sobre "Eles voltam" antes da exibição
O filme se desenvolve de forma arrastada, lentamente, e, inclusive, após a exibição ouvi queixas nesse sentido. No meu caso particular, isso não incomoda e tampouco o vazio e a inverossimilhança que, certamente, 'vazaram' em determinadas passagens. A narrativa meio ao estilo filme de arte, não comprometeu, para este Tyrannus. Sendo um filme onde sobra o ponto de vista da personagem central, uma adolescente, num auge de sua experiência existencial a conviver com questões práticas muito incomodas, afinal, o que esperar de um adolescente.

Olha, texto longo demais já à esta altura. Não vou dizer que esta primeira noite de mostras competitivas já me bastaram, mas arrisco que a coisa começou bem. E tá bom por hoje. É o momento exato de buscar o ponto final. Mas... mais, é o que eu quero. A vida não é feita de festivais, mas quando eles acontecem, procurar é um filme perfeito é uma boa missão. Inté!
 
O curta de animação "Linear", de Amir Admoni

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Não convenceu


Elisa Lucinda e Mounir Maasri
As poltronas desconfortáveis da sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, onde aconteceu a abertura do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, funcionam como um termômetro para avaliação do que está sendo exibido. Para não ficar se mexendo em busca de uma posição menos ruim, o filme tem que “mexer” com a cabeça do espectador. 

E não foi o que aconteceu com "A Última Estação", de Mário Curi, título brasiliense exibido fora de competição. O público parece que “tava com bicho carpinteiro”. O filme não decola e arrasta-se por 113 minutos, embora no seu decorrer fica a esperança de que ele vai ganhar um ritmo ideal e convencer pelo menos a maior parte da plateia. Apesar dos trechos onde o humor é bem explorado, da fotografia insinuante, a trilha sonora bem encaixada, além de alguns atores convincentes; o filme oscila bastante e, no frigir dos ovos, fica devendo. 

Curi é um experiente produtor, segundo informações aqui obtidas. Sua performance como diretor, entretanto, precisa ser mais intencional e concisa para dar conta do recado. O resultado é que a narrativa escorrega um bocado ao contar uma história que resgata a saga de dois libaneses que chegam ainda adolescentes ao Brasil. 

Maasri, emocionado, falou antes da exibição 

"A Última Estação" ameaça, em alguns momentos, prender a atenção do espectador mais exigente, usando de um estilo novelesco onde sobra previsibilidade. Um pouco de poesia bem aplicada, aspectos curiosos desses povos que são excelentes comerciantes e a comicidade ingênua praticada com garbo pelo ator principal, Mounir Maasri, são pontos positivos do filme. Mas, não bastaram, inclusive, para conquistar aplausos mais calorosos ao final da exibição.


Em cena, a equipe da "A última Estação" 
Nesta terça prossegue o evento, com a mostra competitiva e, entre os convidados, há uma expectativa positiva em relação aos curtas e longas que serão exibidos nos próximos dias em caráter competitivo, pois são assinados por realizadores  que têm méritos. Nossa torcida é para que isso realmente aconteça.
Assim seja!

A abertura do Festbrasilia com o performático Murilo Grossi 

domingo, 16 de setembro de 2012

Festbrasilia


Qual é a cara do cinema brasileiro? A pergunta foi disparada aos realizadores que estão com filmes nesta 45ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, via e-mail. E não é que alguns responderam? 

O Tyrannus é um apreciador “pitaqueiro” dessa arte e nossas opiniões sobre este ou aquele filme volta e meia são emplacadas aqui. A emoção que cada título nos provoca e os aspectos técnicos – à base do empirismo, fundamentam nossos comentários. 

A partir desta segundona (17), aterrissamos em Brasília a convite da organização do festival. Prometemos marcação cerrada em torno de filmes pré-selecionados e representativos da produção nacional.



São doze títulos de longa metragem, entre documentários e ficção; e mais dezoito (curtas) divididos nos gêneros animação, ficção e documentário. Trinta novos filmes que passarão pelo crivo dos jurados, e que foram produzidos em onze diferentes estados: RJ, PE, SP, PI, MS, MG, PR, GO, SC, DF e RS. Uma boa oportunidade para checar parcela da produção tupiniquim autoral mais recente. Bom, esse negócio de “autoral” é relativo, porém, não há como negar que num festival de cinema, o critério autoral tem mais chances de comparecer do que no circuito comercial, quando o cinema é muito mais indústria e entretenimento do que qualquer outra coisa. 

Resumo da ópera: a cara do cinema brasileiro é:


O nosso cinema tem a cara do Brasil. Simples assim. Quando produzido pela grande distribuidora nacional (que divulga seus filmes na própria emissora de TV), costuma ser de pouca ousadia (quase sempre) estética, e fácil trânsito para públicos que preferem obras sem caroços a serem separados na hora da digestão. Quando produzido em "cooperativas" (os coletivos), rende frutos bem mais interessantes, com sabores e cores bem mais diversos (e muitas vezes representando os locais onde foram produzidos), mas com pouco alcance, já que a distribuição se faz complicada sem ajuda do poder do mercado de distribuição, restando quase sempre os Festivais para que ganhem alguma notoriedade "mercadológica". E existe uma terceira parcela que tenta se virar por conta própria (como se fossem nossos autônomos), que em momentos tenta se unir aos grandes para ter chance de divulgação, e por outras batalhas insanamente e solitária. Nosso cinema é muito nossa cara como nação: nos aspectos positivos e negativos. Cid Nader, crítico de cinema (Cinequanon)


O cinema tem mil caras, que dependem da época e do ângulo visto. Hoje, do meu ponto de vista, o cinema parece uma coisa e é outra, parece que vai num rumo e segue outro. O cinema hoje é totalmente "Kátia". Karla Holanda (Kátia, PI, longa/doc).


Kátia

A cara do cinema brasileiro é do tamanho deste país e por ser tão grande carrega uma diversidade de olhares e visões de mundo muito diferentes, mas contêm em seu centro o que há de mais profundo em seu âmago, fome e cores. Ana Johann (Um filme para Dirceu, PR, longa/doc). 


Um filme para Dirceu

Atualmente, quero acreditar que é a mais plural possível. Marcelo Lordello (Eles voltam, PE, longa/ficção).


Eles voltam

A cara do cinema brasileiro é o seu povo, não poderia ser diferente. É branco, é preto, é amarelo e cor de rosa. É musical, tem muitas facetas, é novo e novíssimo. Salve Paulo Emílio Salles Gomes, que escreveu sobre a verdadeira importância do nosso cinema pra nossa gente! Allan Ribeiro (Esse amor que nos consome, RJ, longa/ficção).


Esse amor que nos consome

Felizmente, o cinema brasileiro tem muitas caras. O cinema autoral cresce com diversidade, pois os novos realizadores têm produzido filmes pessoais, que falam em primeira pessoa, de uma maneira honesta e sincera. Sou contra a ideia de valorizar uma escola estética ou alguma fórmula, cada filme deve buscar sua própria identidade. Pedro Severien (Canção para minha irmã, PE, curta/ficção).


Canção para minha irmã

A cara do cinema brasileiro é desfigurada, ainda bem:). Gabriel Mascaro (Doméstica, PE, longa/doc).

Doméstica