Então aconteceu que me caiu em mãos “Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos. Viajei, me emocionei e chorei com o melodrama. Em seguida descobri Mark Twain e curti de montão. No rastro vieram uns doze volumes de Alexandre Dumas, a versão completa de “Os Três Mosqueteiros”. Quanta aventura. Eu odiava as partes em que o autor discorria sobre a história da França, mas lia tudo. O Cardeal de Richelieu era um personagem que me amedontrava um pouco, mas havia uma aura de mistério em torno dele.
Dom Quixote, dizem, o melhor livro do mundo |
Um guri com pouco mais de dez anos tão interessado por leitura, naqueles tempos (acho que até hoje) era coisa de se espantar. Lembro-me que alguns adultos visitavam meus pais e perguntavam se eu estava doente, quando me viam deitado lendo por muito tempo. Mas eu gostava da coisa. E fui me tornando seletivo, de uma maneira natural.
Já no início da adolescência comecei a encarar e adorar autores mais complexos como Dostoiévski e Eça de Queiroz. Confesso que li “O Crime do Padre Amaro” imbuído de uma certa esperança de que me esbaldaria com narrativas onde o sexo estaria sempre presente. As obras completas desses dois autores fui lendo mais vagarosamente, até meus vinte e poucos anos. E nesse período, de repente, a biblioteca de meus pais ficou pequena.
Conheci e aprendi a amar a poesia moderna, especialmente com Drummond e Manuel Bandeira e a poesia nunca mais saiu da minha vida. Em termos de literatura amadureci precocemente e abri meus horizontes, degustando autores como Clarice Lispector, Vargas Llosa, Cortazar, Borges, Flaubert, Joyce, Lautreamont, Ricardo Dicke, Machado, Leminski e muitos outros. Essa ampliação do repertório tem me acompanhado até os dias atuais.
James Joyce |
Mas no ano passado tive problemas. Três livros que comecei a ler, quando cheguei no finalzinho, brochei. Não tive vontade de encerrar a leitura. Encanei com isso, porque um livro você pega e o lê até o final, ainda mais considerando que já estou bem maduro e conheço e gosto de literatura. O que teria acontecido comigo, que não dei conta de ler autores interessantes como o mato-grossense José de Mesquita, Fabrício Carpinejar e o genial Mishima? Sei lá entende... Bom, se nem eu sei, acho que não é o leitor do Tyrannus que vai saber.
Mas em 2011, tudo leva a crer que recuperei minha performance literária. Graças a “Viagens Inventadas”, um livro de crônicas e quase contos, que acaba de sair, do Marinaldo Custódio, autor aqui do nosso pedaço que chega ao mercado com a corda toda. Li-o num final de semana, com gosto. São só 120 páginas, malemá. E agora estou lendo “50 Anos a Mil”, uma autobiografia do Lobão, cujo texto tem a participação do Claudio Tognolli. São só umas 600 páginas. À medida que vou lendo, cada vez mais, parece que vejo a cara do inquieto Lobão contando suas travessuras.
Espero que o hábito da leitura não me cause mais encanações. Ler é bom. Não tenho a menor dúvida de que toda a minha formação cultural e a habilidade com as palavras me chegaram, em grande parte, através do hábito da leitura. Portanto, ao contrário do que disse o ex-presidente Lula, leitura não é algo que serve apenas pra dar sono. Serve pra alimentar o sonho.
De Pessoa para pessoa |
crônica absolutamente literária.
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