Estômago. Nome de um belo filme brasileiro que mostra a pujança da nossa estética cinematográfica, uma produção de 2007. Depois de ouvir inúmeros elogios sobre a obra, finalmente, a gente assistiu. Que primor, que qualidade. Tudo beirando a perfeição. Atores, trilha sonora, fotografia, roteiro... Quando a carpintaria cinematográfica é tão apurada, como neste filme, lógico que por trás de tudo está um ótimo diretor. Marcos Jorge é o nome do cara. Um curitibano que estudou cinema em Roma e, como muitos outros artistas brasileiros, parece gozar de mais reconhecimento fora do Brasil. Vale a pena não apenas assistir “Estômago”, mas também fazer uma pesquisa sobre o sujeito na internet.
Bom, e por falar de estômago, nesta época do ano aqui em Cuiabá, não tem como deixar de lado um ícone da cultura regional, que encanta o paladar de muitos (apesar de ter gente que odeia), mas que também tem uma força plástica considerável. Falo do pequi. Ou piqui. A origem do nome vem do Tupi: py=espinho e ky=fruto.
Entra ano, sai ano, quando vão chegando os últimos meses, espero o surgimento dos ambulantes vendendo a fruta do cerrado nas regiões mais movimentadas de Cuiabá. E compro. E como. E como como. Já fui meio tarado e inconseqüente com essa fruta. Certa vez, nos meus vinte e poucos anos, almocei uma pequizada daquelas. Eu tinha uma moto e depois da ‘chacina amarela’ fui sair e vi que o pneu da moto estava furado. De estômago cheio de pequi, tive que empurrar a moto até o borracheiro mais próximo. Minino... passei mal mesmo. Aprendi. Hoje em dia, numa sentada, como no máximo vinte frutas. De preferência aos finais de semana, quando é possível dar aquela morgada após a refeição.
Entra ano, sai ano, quando vão chegando os últimos meses, espero o surgimento dos ambulantes vendendo a fruta do cerrado nas regiões mais movimentadas de Cuiabá. E compro. E como. E como como. Já fui meio tarado e inconseqüente com essa fruta. Certa vez, nos meus vinte e poucos anos, almocei uma pequizada daquelas. Eu tinha uma moto e depois da ‘chacina amarela’ fui sair e vi que o pneu da moto estava furado. De estômago cheio de pequi, tive que empurrar a moto até o borracheiro mais próximo. Minino... passei mal mesmo. Aprendi. Hoje em dia, numa sentada, como no máximo vinte frutas. De preferência aos finais de semana, quando é possível dar aquela morgada após a refeição.
Pequizada, perfumando e colorindo a cidade |
Numa conversa boba com a Fátima demonstrei meu medo de não conseguir estocar a fruta neste ano, como sempre gosto de fazer, para saboreá-la fora de época. Ela me surpreendeu com um vidro da polpa do pequi em conserva. E diazinho passei na casa da Glorinha Albuês para arrematar umas três dúzias da fruta que já estão perfeitamente acondicionadas em meu congelador. Ela tem uma chácara em Chapada onde a fruta tá que tá e me presenteou. Tô bonito. Por falar em Glorinha, lembrei-me de seu documentário, “A Trama do Olhar”, que pesquisa as relações entre a nossa sociedade e a indígena e que, num certo momento, aparece uma índia dizendo que o pequi parece a cabeça do pênis.
Voltando novamente no tempo, chego aos idos anos onde fui atleta. Praticava quantos esportes fosse capaz. Quando jogava vôlei, na hora de dar o saque, a gente sempre procurava direcioná-lo sobre o jogador do outro time que estivesse num dia ruim. Esse cara, normalmente, era chamado de pé de pequi. Ou pequizeiro.
Deu pequi |
Na minha infância, quando passava férias no sítio do meu avô, Bento Pires de Miranda, em Livramento, às vezes, ia com a turma que trabalhava lá colher pequi. Quanta fartura. Naqueles anos, enjoado que era pra comer, detestava a fruta. Ma me recordo da peãozada e da mulherada se atracando com essas pequizadas da vida.
Do vô Bento, já que falei nele, saudades... Ele costumava se deitar num grande e rústico balcão negro que ficava na venda do sítio pra fazer o ‘quilo’. Os povos aqui deste pedaço de cerrado, pelo menos antigamente, sempre tiveram fartura na mesa, independente de classe social. Fartura e preferências. “Não sei como esse povo pode comer batata, se existe mandioca”, vi meu avô dizer certa vez e isso cravou-me na memória.
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