Zabé, a loca e o pífano |
Quem não nunca teve vizinho? Quase impossível de pensar, talvez um ermitão, eremita, quem sabe a Zabé da Loca... Não imagino porque uma pessoa decide morar numa loca. Creio que talvez para fugir, sei lá de que, talvez de parentes... vizinhos... Sei que nesse sossego, a velha Zabé pode em paz desenvolver a sua música.
Uma obra quase sempre começa com marteladas e não há Nietzsche que agüente, por mais que assegure a possibilidade de vir a filosofar. A partir daí tudo é possível. Tenho pouca experiência no trato com pedreiros. Deixo essa parte para a minha partner que inventa modas, puxadinhos etc e tal aqui em casa. Então ela que pague o pato. Procuro acompanhar à distância, vigiando pra encontrar um caco de conversa, pra topar com um teco de causo, segurar um flash de gestual, agarrar um pensamento e assim alimentar as minhas neuras literárias.
Suspensos no patamar |
Eu mesmo já dei umas tentando fazer uns reparos, já faz um tempo... A grana tava curta, resolvemos alugar um apartamento. Quando tiramos os móveis e nossos cacarecos restaram nas paredes buracos, muitos, dos quadros e telas. Num relampejo de imaginação artística lasquei uma boa dose de pasta de dente para tapá-los. Não deu outra: o inquilino reclamou do trabalho porco do pedreiro. Eu, para disfarçar, concordei prontamente.
Tem outra, da Fátima. Numa calorosa discussão com o mestre de obras, pediu, melhor, ordenou que ele desfizesse o trabalho, ele concordou, mas antes disse solenemente: “vai ficar muito escroto do jeito que a senhora quer. A senhora manda... “
Voltemos às reformas na casa do vizinho... nada pior que quebrar a rotina. Minha amiga Louriza, que mora lá na Chapada, disse que artista não gosta de rotina e acho que faz sentido esse raciocínio. Não combina a arte com mesmice, apesar que em alguns casos pode dar samba numa nota só.
Tijolo por tijolo, um desenho lógico/insólito |
Não sou artista, escrevo... admito minha índole artística, sou temperamental. Odeio que quebrem a minha rotina, por exemplo, às sete, sete e pouco da manhã, principalmente com balburdia de pedreiros e dos sons próprios de suas atividades. Insuportável. Incrível que tudo no início de uma obra resulta em barulho: cavar, derrubar, fazer cavalete, transportar material, levantar parede, rebocar... só depois de um tempo inicia a parte silenciosa: assentar piso, azulejar, pintar... Aí ya estoy acostumbrado. E quando, enfim, termina a obra... vem aquela... imaginou? Errou... enganou-se totalmente. Não tenho a mínima saudade, dou Graças a Deus de poder voltar tranquilo aos meus sonhos das sete, oito, nove e às vezes até as dez horas da manhã, emburacado na minha loca.
Deus lhe pague |
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