quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Fala que eu te escuto (sic)
Sempre me encantei de cara com as pessoas, por isso decepcionei-me mais que os outros. Era alvo de chacotas dos amigos por errar no  “primeiro contato”. Eles reconheciam um “malaco” de cara. Eu não. Mas, por outro lado (quando não errei)  fiz os amigos da minha vida. São muitos e poucos ao mesmo tempo, depende da escala. Uns loucos, porra loca, outros caretas, caretesimos. Uns com longo tempo de convivência, outros com pouco... Circunstâncias.

  “A amizade é como uma plantinha. Você tem que regar e cuidar dela”. É o que costuma dizer o lado Tyrannus aqui do blog, e o Melancholicus assina embaixo. Desde ontem estávamos ansiosos e felizes por um reencontro que aconteceu na tarde desta quarta-feira (19). Duas amigas de mais de vinte anos, hoje ausentes de Cuiabá, estiveram conosco. Passamos o final da tarde conversando, rememorando e aproveitando momentos felizes.

Rosi Pando e Meire Pedroso
Meire Pedroso e Rosi Pando, foram parceiras de uma efervescência cultural entre o final dos anos 80 e parte dos anos 90, nesta Cuiabá ensolarada. Noitadas, agitos culturais e a solidificação de amizades daquelas que se prolongam por vidas inteiras. Meire reside hoje em Caraguatatuba e Rosi em Dracena, municípios paulistas. Trabalham com educação e com um pé nas artes. Meire, atriz talentosa, produtora e mulher de fibra (não espalhem, mas ela é vovó). Rosi, ex-roqueira (vocalista do GTW, banda hardcore que barbarizou Cuiabá), com experiência em outra artes, principalmente visuais.


Com elas participamos de vários “happening” culturais, especialmente nos palcos. Pelo menos em duas peças fomos parceiros e aprontamos: “O Capote”, uma adaptação livre de texto de Gogol, e “As Águas Vão Rolar”, peça que concebemos sob encomenda para comemorar os 40 anos da extinta Sanemat. Impossível não citar Chico Amorim, um dos maiores artistas que Cuiabá já gerou, dono de um conhecimento que oscilava livremente entre a erudição e as novelas televisivas.


Cuiabá de Capote?, com Gogol


Lorenzo e Meire em "As águas vão rolar..."
 Chico, que se mandou deste mundo no início dos anos 2000 é um amigo ao qual costumo me referir como o morto mais vivo de quem se tem notícia. Frequentemente ressurge em nossos sonhos e conversas. Foi tragado por uma brilhante boemia intelectual. Na noite passada, acho que influenciado pelo reencontro com as amigas em comum, tive um sonho com ele.


Eu estava num ambiente cultural, provavelmente o Palácio da Instrução e eis que sou flagrado por uma equipe que fazia um vídeo por ali. Um sujeito, que imagino quem seja, mas não apareceu claramente no sonho e que comandava o vídeo,  me incumbiu de expor meus conhecimentos sobre mitologia. “Você vai falar sobre Caronte”, ordenou. Eu disse que nem me lembrava quem era Caronte. E ele explicou que era uma espécie de escravo, que se envolveu com uma princesa e que seu busto estava esculturado numa nau que singrava os mares... Achei estranho, improvável, mas disse... “Ah, então tá”. É engraçado que, no sonho, eu não me lembrava de quem era Caronte. Mas o sonho prosseguiu e eis que me encontro com Chico, ele numa canoa, com uma moça novinha linda, negra e analfabeta. E o sonho acabou.


Acordei e aí me lembrei de Caronte, o barqueiro dos mortos, que atravessava as almas pelo rio Aqueronte, que delimitava a região infernal. Mas Caronte só atravessava os mortos que estivessem com uma moeda sob a língua (como era costume dos gregos), com a qual, pagavam sua travessia. Se não pagassem, ficariam no limbo e voltavam para assombrar os vivos.

Shi.....


Um comentário:

  1. um dia quero sonhar "bonito" como você. Mas pra isso acho que ainda vou precisar me emaranhar um "bucado" nas redes culturais deste mundão...!
    um dia quero ter a poesia de quem não é Tom Jobim, mas relembra os versos dele com tanta melancolia que é como se emprestasse parte de sua alma pra si!
    mas mesmo não tendo nascido em 1958, dos motivos que me orgulho, estão os conhecidos nem tão próximos, mas verdadeiros e inspiradores que tenho - assim como você.
    Engraçado como nostalgia não tem idade, uns vividos, outros nem tanto, e dentro parece não precisar idade pra saber o que é saudade e deleitar-se com os reencontros.

    beijos, querido Lorenzo...um dia a gente se reencontra direito dentro desta Cuiabá...! hehe! Enquanto isso, adoro estar perto de você através dos seus textos.

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