Foto de Paullison Miúra |
O abandono da cidade pelo seu povo é consequência de maus governos. Quando a cidade está vazia, silenciosa, é sinal que o perigo é seu "novo inquilino" e que é o dono do pedaço. Gente recolhida em casa-fortaleza, duplamente cercada com muro e cerca elétrica, não é sinal de salubridade para ninguém.
Temos visto tentativas de se repovoar os espaços urbanos, muitos deles mais para ermos do que para urbanos. São válidas, porém, algumas têm mostrado, com o tempo, sua ineficácia. Essa história de "montar" um espaço, convocar a população para curtir três, quatro horas de música, shows, já deu. O resultado dessas ações, se computado, é muito pequeno, pois nada fica. Quando o "espetáculo", acaba o espaço criado é desarmado, resta aquilo que sempre foi: ermo, vazio, perigoso. Não foi empodeirado pela comunidade. Por outro lado há grupos que curtem Cuiabá à sua maneira: os que pedalam à noite, os skatistas, os poetas livres entre outros humanizam a "hell city".
"A praça é do povo! Como o céu é do condor", versejou Castro Alves. Caetano modernizou o verso: A Praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião. Essa conversa de a praça é nossa virou piada. Muitas piadas, num programa de humor de televisão. "Eu dormi na praça", é outra história, uma pegada sertaneja com Bruno e Marroni. Mas, passemos ao largo dessa música, e ligeiro.
Vamos direto a outro largo, o Largo da Mandioca. Ou Praça da Mandioca. Fica bem ali, onde desemboca a Rua Pedro Celestino, no Centro Histórico. Um local (logradouro, ficaria mais chique) público que vem sendo tomado de assalto por um grupo de artistas, todas as terças-feiras. Calma, tomado de assalto no bom sentido. É o Sarau Free. Ou Sarau das Artes Free. Sem nenhum apoio de qualquer instituição pública, a coisa tá rolando. Acontece uma vez por semana. Começou no bar Lucius do Caju, próximo ao Chopão, e foi parar na Mandioca. Isso mesmo: do caju para a mandioca. Tudo é coisa do cerrado.
E nesta terça-feira (13/09) o Sarau Free completa sua sétima edição. Basta anoitecer que a galera começa a chegar. Coisa espontânea que surge. Poesia, música etc... O conceito é um palco livre e itinerante, onde os artistas botam a banca e mostram-se. Um espaço público aberto ao autoral, um point de convergências e posturas libertárias. Sim. As tais intervenções urbanas que chegam com força, pra ficar. Pra fincar o pé, pra se enraizar.
Têm décadas que ouvimos falar da revitalização da região central de Cuiabá. Dar um trato naquele casario histórico, urbanizar o pedaço, torná-lo decente, bacana. Tudo não passou de conversa até agora. Não sei bem se conversa mole, ou fiada. A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores e o mesmo jardim. É ruim, hein...?!
Aí vem os artistas acompanhados por muita gente de boa vontade, e com seus malabarismos criativos, suas invencionices, seus parangolés, suas vidas de palcos iluminados, suas superlativas imitações da vida, seus jeitos e trejeitos, sua escola libertária da vida e fazem acontecer. Quando a noite termina, o espaço não é abandonado, fica a sensação de que a praça é mais nossa do que nunca foi!
Um beijo cuiabano |
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