sábado, 10 de setembro de 2011

Adoração + Cashback + Paraíso ao Oeste

Sobre essa história de sacrificar a vida de inocentes por um ideal, cabe a pergunta: "que é isso companheiro?". Mas sem essa de enveredarmos pelo acontecimento que há dez anos balançou o mundo.

A vida fica bem melhor com bons filmes, livros, boa música, boa companhia e, na medida do possível, boa comida e bebida para brindar um programa. Até agora, sábado à noite, três filmes... Ainda temos alguns na geladeira e aguardamos a oportunidade de mencioná-los. Começamos justamente por um que tem o terrorismo como pano de fundo. "Adoração" (2008), do diretor egípcio Atom Egoyam, filme premiado em Cannes.

É a história de um jovem que perdeu os pais num acidente de carro e, a partir daí sobram-lhe um avô intolerante, que vivia às turras com o genro; e um tio de pouca conversa, que assumiu sua educação. O ponto de partida do filme é uma tarefa escolar, cujo tema é o terrorismo, desentranhado de uma notícia de jornal. Simon, o adolescente, desenvolve um texto misturando sua vida pessoal com a história proposta pela professora, que trata de um atentado. A maior parte dos filmes canadenses que assistimos transparece uma frieza impressionante, sempre com personagens envolvidos em situações dramáticas e uma forte carga psicológica rondando. Assim são os filmes de cineastas como David Cronenberg, Denys Arcand e o próprio Egoyan, que é naturalizado canadense. A estética desses cineastas é outra coisa.





Adoração arrasta-se numa narrativa lenta, mas consegue manter o interesse do telespectador. A história maquiada pelo adolescente vai parar na internet e daí pra frente ele perde o controle. Os debates são calorosos e toda a sorte de comentários vão surgindo. À parte isso, Simon vai amadurecendo e descobrindo essas coisas da vida que nos surpreendem. O filme não se desenvolve de forma cronológica, com o passado e o presente oscilando diante das nossas retinas, mas isso não atrapalha e chega até a dar um charme. O único problema, cá pra nós do Tyrannus, é uma certa guinada na trama que cai naquele lugar comum, do qual, nem sempre os diretores e roteiristas conseguem fugir. A personagem da professora de Simon é, digamos, a vilã que comprometeu um pouco a tal da verossimilhança. Mas é um filme que merece ser visto.
Costa-Gravas. Nada como um cineasta já bem coroão que ainda dá conta do recado e não deixa a difícil arte de dirigir um filme envelhecer. Sua última obra, "Paraíso ao Oeste" (2009), tem como foco a imigração ilegal na União Europeia. O experiente cineasta grego, que sempre fez abordagens e questionamentos políticos e sociais em seus filmes, neste, é mais brando e menos misterioso, mas não se iludam: está tudo lá em Paraíso ao Oeste.


Elias, o personagem principal, pela via marítima, depois de ser perseguido pela polícia e nadar muito, vai parar numa praia nudista, onde tem início sua odisséia. Sem falar francês e fraco no inglês, vai buscando a rota do seu destino final, provavelmente Paris. Eternamente perseguido pela polícia - e paranoiado com ela, o personagem para-raios de problemas, vai se envolver em muita confusão. 


O diretor grego, nascido em 1933, criou um filme que classificamos aqui como um road-movie moderno, com narrativa simples e fácil de assistir e de gostar. Divertido pra caramba. Em sua caminhada até a cidade da Torre Eiffel, Elias vai ser submetido a uma curiosa galeria de personagens, sempre com a polícia em seus calcanhares. Um Costa Gravas diet, em matéria de suspense, mas grandioso, aos costumes, no que se refere á sétima arte.




Uma gostosa comédia do reino Unido, dirigida por Sean Ellis, do qual nunca tínhamos ouvido falar. "Cashback" (2006) conta a história de um jovem que termina com a namorada e leva uma 'canecada' na cabeça, passando a sofrer de insônia, o que o leva a procurar emprego noturno num supermercado. O filme pode ser entendido como uma aula de cinema. Direção, elenco, roteiro, fotografia, trilha sonora; tudo muito bem encaixadinho.

O trabalho de edição é primoroso e nos surpreende em vários momentos. Cashback surgiu de um curta do próprio diretor que recebeu indicação ao Oscar e que, posteriormente, Sean Ellis escreveu um roteiro em sete dias transformando-o num longa. Como assistimos apenas o longa, tentamos, em vão, descobrir qual parte do filme seria o curta.





Criativo e divertido, mas cai um pouquinho o ritmo na parte final do filme. Isso, entretanto, não o torna indispensável para aqueles que apreciam o bom cinema. Tão engraçado e tão cheio de bizarrices que a gente até esquece que se trata também de um filme sobre o amor. Mas o toque romântico bate forte no final, com direito a um requinte fotográfico.



E chega de conversa, porque agora vamos nos concentrar para abrir a apresentação do Grupo de Congo "Panela de Barro", do Espírito Santo, amanhã (domingo), as 20 horas no Sesc Arsenal. Apareçam por lá! É grátis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário