Nikita, com frio |
Frio em dezembro???? Coisa mais estranha, em Cuiabá. No ar um cheiro de naftalina, pudera: casaquinhos, gorros embolorados estão nas ruas. Na internet há notícias de fonte fidedigna que esse tempo “estranho” vai durar até sexta ou sábado. Duvido um pouco, porque quando faz frio aqui, mesmo nos meses em que isso é comum, a temperatura baixa não resiste por muitos dias. Basta o astro rei dar com as caras que não há frio que resista nesta terra ensolarada.
Gosto desse tempo “brusco”. Dá menos preguiça, só um pouco menos. O problema é sair da cama de manhã. Uma vez em pé, cara lavada e guaraná tomado, é cair na real. Correr pros trampos, de busão ou carona, atrás dos afazeres cotidianos, honrando o pão nosso de cada dia. Sem o calorão senegalesco, as coisas ficam mais fáceis, pelo menos pra mim, mais ou menos. Calor demais é preguiça na certa, melhora com ar condicionado urrando, banho de piscina, de rio, ou rede embaixo de sombra de mangueira. Sombra de mangueira era lugar sagrado nesta terra de Rondon. O perigo é perder hora depois do almoço e acordar com a cara amassada, gosto de cabo de guardachuva na boca e um tremendo mau humor. Ah! nessa época tem mosquito... mosquito... mosquiiiiito . O da dengue ta zanzando por aqui.
Quando cheguei à redação do Diário, por volta das duas da tarde, brinquei com seu Edson, um dos funcionários mais jurássicos do jornal: “Tá frio... o frio é comum nesta época do ano, né?”. “Não”, disse ele. Nem parei, fui subindo as escadas para a redação e insistindo com ele que o frio era comum nesta época em Cuiabá. Claro que não é, com quase quarenta anos de Cuiabá no lombo, conheço bem esta terra.
Quando terminei minha edição, desço as escadas correndo e no portão do jornal, enquanto aguardo a condução pra casa, eis que surge seu Edson novamente. Nossa conversa fiada gira em torno da estranheza desse clima em pleno dezembro. Lembro com ele que antigamente chamava-se esse tempo meio friorento de “cu de bugio”. Será porque? Sei que alguns cuiabanos mais experientes costumam ler meus textos aqui neste espaço e aproveito para pedir um socorro. Alguém sabe o que tem a ver frio com “cú de bugio”?
Bugio (Alouatta sp.) : o que que tem o cu com a calça? |
Expressão comum aqui em Cuiabá associada ao clima frio é seca-poço. Significa um cobertor curto, pequeno, pro dono. Aí a gente fica pedalando a noite inteira pra rebuçar, quando cobre a cabeça, descobre os pés e vice-versa.
Outra coisa boa no frio é uma refeição fumegante. Um “prato molhado”. Aquele ensopadão cuiabano onde a costela bovina coabita com batata, mandioca, repolho, pimentão, cebola etc, com direito a um pirão apimentado; vem a calhar. A gente pode comer esses pratões, neste tempo “brusco”, sem o suador e medo de “bater com as botas”, com um derrame, congestão, nó nas tripas ou coisa parecida, muito comum após uma lauda refeição.
Outro prato que a gente deve aproveitar com este tempinho é uma bela feijoada. Assim sendo, confirmo minha presença no Araripe, aquele sujeito que toca o restaurante Fonte do Paladar, na Avenida 15 de Novembro, ao lado da tapera do Diário de Cuiabá. É pra lá que eu vou na quarta, logo depois do meio dia. A feijoada ali é boa e barata.
Quem passar por lá antes de mim, nesta terça, ou mesmo na quarta, favor avisar o Araripe que na quarta estarei lá, ou antes mesmo, numa edição extraordinária...
Esse menino tá muito europeu, reclamando do calor de Cuiabá.
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