O choro é livre. Chororô. Chorão. Chorinho. Chorado. Choramingar é um choro meio minguado e pranto já é muito choro. Homem que é homem não chora, quando a mulher vai se embora. Que coisa mais machista. Buáaaaaa. Snif. A conversa hoje aqui é essa: o verbo chorar. E não precisa ser com copiosas e fartas lágrimas. Pode ser apenas os olhinhos marejados, que nem o do tamanduá. "O olhinho dele tava merejando, que nem o do tamanduá mirim". Totó, um cidadão rural, lá das bandas do Livramento, que habitava o sítio do meu finado avô Bento Pires, me ensinou essa certa vez. Nunca mais esqueci.
Totó, um dia comprou uma fubica, um daqueles carrinhos tipo calhambeque, e providenciou para que fosse pintado em seu parachoque a seguinte frase: "se fui pobre, num me alembro". Quando me lembro dessas histórias antigas, saudosista que sou, a vontade que sinto é de chorar. Quanto mais velho, mais manteiga derretida.
A única espécie a chorar é o ser humano. A externalizacão de sentimentos como medo, tristeza, depressão, dor, saudade, alegria exagerada, raiva, aflição, indignação, insegurança, felicidade e outros, na maioria das vezes, vem em choro, com derramamento de lágrimas. O choro está relacionado aos nossos instintos de defesa e comunicação.
Cry baby |
O ser humano, além de chorar, é capaz também de simular o choro. Tenho certeza de que algo ou uma imagem lhe vem à cabeça: criança birrenta, gritando e esperneando pra conseguir algo http://www.youtube.com/watch?v=ZjZrx0ZOKRs). Pior, se não for corrigida, quando adulta, continuará a utilizar desse subterfúgio para conseguir o objeto do desejo. O choro simulado é usado também na dramaturgia e ensinado nos cursos de formação de atores e atrizes. Quando esses não conseguem se entregar totalmente ao sentimento e debulhar-se em lágrimas, é normal utilizarem um tal de “cristalzinho japonês” à base de menta (hummm, tô entendendo...). O choro simulado, como dá pra perceber, é uma arma muito poderosa e não são apenas os artistas e crianças que utilizam dessa peculiaridade humana.
Carpideiras, as profissionais do choro |
Chorando as pitangas |
Enfim, chorar faz bem a saúde. Homem e mulheres relataram que se sentem melhores após chorar, certo alívio. Chorar lava a alma que ainda bem não é tão grande nem tão pequena, porque o ser humano produz em média 500 ml de lágrimas por ano!
Composição da lágrima: água, muco, lipídios, proteínas, magnésio, potássio, enzimas antibacterianas, dentre outros. Agora quando as lágrimas são verdadeiras elas são ricas em manganês.
Por causa de uma colombina... |
Por que a maior parte das pessoas parece que, instintivamente, tenta disfarçar o choro? "Chorei, não procurei esconder...". É só parte da letra de uma música, "Volta por Cima".
Ao final da sessão de "Rock Brasília - A Era de Ouro", no festival de cinema que acompanhamos no último weekend, debulhamos em lágrimas. Pudera, Vladimir Carvalho, o diretor do documentário, entrevistava dois roqueiros e convocou Briquet Lemos, pai dos roqueiros Fê e Fábio Lemos, do Capital Inicial, para finalizar a coisa.
O choro contagiante de Briquet |
Briquet, cujos depoimentos entremeiam o filme inteiro, retorna à cena e titubeia, engasgado com lágrimas, antes de se manifestar. Num gesto de grandiosa generosidade, responde que aprendeu com os filhos. Fez lembrar o Guimarães Rosa: "A gente aprende mais com os mais novos". Numa entrevista no Festival de Cinema de Paulínia, onde o filme foi vencedor, ele já tinha declarado: "Nós nos contrapomos às tendências que levam famílias a se apoderarem da memória de seus membros, que são pessoas públicas". Quanta sabedoria, quanto preparo pra enfrentar a vida com galhardia.
Nosso "chorado" de Vila Bela da Santíssima Trindade |
Pixinguinha, a expressão do chorinho |
Um primo, há vários anos, confundiu as palavras. Disse que do olho de alguém escorreu um milagre. Tinha razão, porque lágrimas e milagres não possuem apenas semelhanças na escrita. Então, na verdade, precisávamos dizer que as lágrimas devem ser sempre bem vindas. Fazem parte da vida e de momentos dela em que a emoção preponderou e umedeceu o gesto do olhar. Mesmo que seja uma furtiva lágrima, que remete à ária homônima da ópera "O Elixir do Amor", de Donizetti, esse líquido que orvalha nossos olhos não precisa, necessariamente, ser contido.
"Que distância!
Não choro
porque meus olhos ficam feios".
(Oswald de Andrade)
Não choro
porque meus olhos ficam feios".
(Oswald de Andrade)
"Acabou chorare
Ficou tudo lindo".
(Moraes e Galvão)
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