Planos, mudanças e decisões tendem a iniciar nas segundas-feiras. Seja em caráter pessoal ou profissional... já o horário de verão começa sempre no domingo, com aquela sensação de que perdemos uma hora. Quando tomamos a decisão de começar algo na segunda, como um regime, a ginástica, o estudo, ou terminar algo que está aí no limbo, esperando; é natural que adotemos precauções pra dar certo. Por exemplo: dormir cedo, uma jantinha saudável, um filminho light, uma lavanda gostosa e um rala-e- rola básico (pra evitar qualquer possibilidade de contusão). Tudo de acordo com o figurino.
E assim foi. Ou era pra ser. Noite adentro, ainda domingo, sonho: “hoje é domingo, pé de cachimbo, cachimbo é de ouro, bate no touro, o touro é fraco ... caaiiiiiiiiii no buracoooooooo, o buraco é fundoooooo.... acabou-se o munnnnnndo”. Algo não tá legal. Um mal estar tão forte, que desperto. Abro os olhos, pra que? O quarto, o mundo gira, gira, gira... cada vez maisr. Para, para, que eu quero descer!!!!!!!!!!!
Sem coragem pra investir em qualquer movimento a não ser retornar a cabeça pesada, vagarosamente, até o travesseiro. E esperar, sem pressa, passar essa sensação de instabilidade, tonteira, zonzeira, vertigem, desequilíbrio; de estar num chapéu mexicano, num carrossel a mil. O retorno, sei, será lento e me arrasto e tateando as paredes, buscando as sensações que entram pelos seis buracos da minha cabeça, porque em um dos buracos a sensação é de que algo quer sair, ser expelido.
Tal qual Teseu em busca do caminho de volta e às voltas com o seu/meu Minotauro de cada dia, à espreita. Um labirinto, creiam ou não, existe. Que seja dentro de nossos ouvidos, parte do corpo que também comporta martelo, bigorna e o que mais? “Labirintite, você está com isso”, informo a vítima, estendida ao meu lado. Putz, o horário de verão é uma merda tão significativa, que não chega sozinha. Traz seus males colaterais. Assim é a vida... mitológica, patológica etc!
O remédio é remédio mesmo. A farmácia mais próxima pode ser a salvação da lavoura. Abandonar o travesseiro requer uma química. Mesmo com o desconforto e o infortúnio e suas conseqüências, o cérebro não para e começam a surgir os pensamentos que derivam da combinação labirinto/labirintite. “Percorrer correndo corredores em silêncio... penetrar no labirinto o labirinto de labirintos... dentro do apartamento”.
Desequilíbrio corporal e mental. O trágico conto da Clarice Lispector em que a mulher se vinga do marido adúltero, que dorme, despejando uma chaleira de água fervente em seu ouvido. O surto de loucura de Van Gogh que decepa a própria orelha. De um lugar mais recôndito brota da memória a sensação do dia em que uma formiga decidiu investigar-me o ouvido adentro. Que horror! Ainda bem que não era uma lacraia.
O labirinto, os olhos, a pele, os músculos e articulações, são alguns dos órgãos e sistemas que nos equilibram. O labirinto informa a direção dos movimentos, os olhos sobre a posição do corpo no espaço, a pele sobre qual parte do corpo está em contato com a superfície, os músculos e articulações sobre os movimentos e partes do corpo que estão envolvidas com eles. Há que ter coerência. Informações conflitantes resultam em sensação de desequilíbrio, tontura, vertigem. E “a marvada pinga é que me atrapalha...”
Assim é a vida... mitológica, patológica etc! |
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