quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O que te possui


“O que você pensa possuir é que te possui”. Por isso, vá ligeiro vasculhar as gavetas, armários, sapateiras, açucareiros e sei lá mais o que pra ver o que realmente  lhe pertence. Mexer em coisas guardadas é remexer com lembranças. Nessas horas é um chororô só. 
Aproveite essa emoção da hora, mas radicalize. Passe um pente fino nesses resquícios do passado, onde se acumulam colônias de ácaros e fungos e microorganismos imensuráveis, e dê um fim nessa coisarada véia. Faça isso. Seja forte. Liberte-se. Porque senão – e pense bem nisso, daqui a mais um tempo você vai ter que montar o seu museu particular de lembranças (incluindo lambanças) de outrora, umbilicalmente encordoadas, que de nada mais lhe servem.

De uma coisa sabemos: precisamos muito mais que o necessário pra viver. Não, não é verdade, não precisamos muito mais que o necessário pra viver. Acostumamos com essa ideia de armários entulhados, gavetas abarrotadas, sapatos empilhados, caixas até nas grimpas e papéis e mais papéis guardados e sendo guardados. Não permita que ninguém faça isso à sua revelia. Faça você mesmo. Faça a coisa certa. Pense bem e seja racional: vai dizer que não sabe pra onde vai tudo isso quando você subir no telhado?
O ano vai se esvaindo e tá na hora da tal faxina. Reoriente a platibanda e aprume o norte do seu túnel do tempo. Porque é assim: tempo bão, a gente sabe que não vorta mais. Agora, o que vem pela frente é que é misterioso e a vida precisa dessas coisas. Faça-faxina. Mas contenha-se. Primeiro as suas coisas, depois estimule quem compartilha o mesmo teto a fazer a sua parte. Tão fácil quanto perigoso é classificar os pertences alheios e dar um destino a eles, né?

Preste atenção no seu estado de espírito momentâneo. Se estiver num daqueles dias de melancolia, não mexa nas suas coisas velhas, porque só vai revirar, mudar de lugar e deixar tudo na maior bagunça... Não fará absolutamente nada. Se estiver com raiva do mundo, é melhor deixar pra outro dia, porque há de se arrepender das coisas que desfez. O desapego é uma condição para renovar.
Toda vez que está por terminar um ano e começar outro, fazemos planos, sonhamos e queremos um rito de passagem. Nada melhor que uma cachoeira com água gelada, a água salgada do mar, ou as águas correntes de um rio pra levar a “inhaca” vencida e começar “zero bala”.

Então...  2012 revigorados, sem as quinquilharias que estão amontoadas e não são nada. Lembrança não é matéria. Lembrança é sentimento, que não amarela, não amassa, nem perde o perfume.  

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