sábado, 17 de dezembro de 2011

Eles se foram...

Sábado de perdas para as artes brasileiras. Ou melhor, para as artes lusófonas. Um trio de artistas, dois brasileiros e uma cabo-verdiana, subiu para o telhado: Sérgio Britto (88), Joãosinho Trinta (78) e Cesária Évora (70). O consolo é que artistas, quando saem de cena, o legado cultural permanece.
Nos tempos em que eu assistia novelas, curti pelo menos duas, que tiveram a participação do carioca Sergio Britto. “Sangue do meu Sangue” (1969), onde ele foi ator, e “A Muralha” (1968), baseada em obra de Dinah Silveira de Queiroz, com direção de Britto. Ele atuou e esteve envolvido em muitas outras novelas e produções para as TVs, mas o currículo do cara é “demais” de grande pra reproduzir aqui. Ator, roteirista, dramaturgo, diretor, apresentador... TV, teatro, cinema... Ganhou prêmios importantes, merecido reconhecimento, trabalhou com grandes artistas, seja interpretando seus textos, dirigindo ou atuando em cena. Nessa relação enciclopédica tem gente do quilate de Nelson Rodrigues, Gerald Thomas, Fernanda Montenegro, Anton Tchekhov, Leila Diniz e Amir Haddad, entre muitos outros.


Nos últimos anos, a imagem de Britto é no programa da TV Brasil, “Arte com Sérgio Britto”. Não sei por que, eu achava-o meio chato. Talvez um pouco de inveja de minha parte. Mas sempre me impressionaram sua desenvoltura, sua erudição e segurança ao se expor. Grande artista.


Cesária Évora, cantora de voz célebre, nascida nas ilhas de Cabo Verde. Cantou, cantou, cantou e cantou tanto que, finalmente, aos 50 anos, projetou-se internacionalmente. Era uma mulher de “pés no chão”, cantava descalça, como que homenageando os mais pobres. Deixou 14 discos e multidões de fãs pelo mundo afora. A saúde estava debilitada desde 2010 e, em entrevista ao jornal francês (ela era queridíssima na França) Le Mond, declarou, ao ver-se forçada a abandonar a carreira: “Sinto muito, mas agora preciso descansar. Lamento infinitamente ter que me ausentar devido à doença, gostaria de dar ainda mais prazer aos que me seguiram durante tanto tempo.”


Bom, Joãosinho Trinta, não seria exagero dizer, foi um dos maiores artistas populares que o Brasil já teve. Desbundou com suas peripécias carnavalescas, apresentando enredos originais, ousados e super criativos. Joãosinho amplificou o carnaval carioca, com carros alegóricos imensos, mulheres maravilhosas semi-nuas e luxo, luxo e mais luxo, traduzido em muito dinheiro.





Joãosinho nasceu no Maranhã, mas rodou por esse Brasil, sempre dinâmico e expansivo. Esteve mais de uma vez em Mato Grosso, onde curtiu e aprovou o carnaval ‘besteirento’ de Santo Antonio do Leverger.
Joãosinho abalou a intelectualidade brasileira, em 1976, quando proferiu: “Pobre gosta de luxo, quem gosta de pobreza é intelectual.” O planeta Terra deve ter sido o seu grupo de acesso para um carnaval celestial. E, agora, lá no firmamento, é possível que também esteja aprontando. Porque os enredos que inventava não eram coisa deste mundo.






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