domingo, 11 de dezembro de 2011

Surfando na novelle vague

Surfando em novas ondas
 François Truffaut (1932-1984) é um cineasta que faz parte da breve história do cinema. Ver e rever seus filmes significa o sempre encantamento e a certeza de aprender algo. Seus personagens valiosos e as histórias bem contadas, aliadas ao domínio da técnica, traduzem-se numa estética de beleza simples, mostrando que o cinema pode combinar arte e entretenimento, sem exigir malabarismos mentais dos espectadores.
“Os Incompreendidos” (1959) é o primeiro longa-metragem do diretor e lhe valeu o prêmio de Melhor Realizador em Cannes no ano de seu lançamento. Truffaut foi um dos fundadores e principais nomes da Novelle Vague, movimento de cinema surgido na França dos anos 60, encabeçado por jovens autores que não tinham apoio financeiro para produzir e apreciavam burlar as regras estabelecidas para se fazer cinema, especialmente, nos filmes com pegada mais comercial.  
Doinel e a rebeldia juvenil
Os Incompreendidos é apontado como título seminal da Novelle Vague. A trajetória de um garoto pré-adolescente de origem humilde, na Paris dos anos 50, é o tema explorado, em preto e branco. Antoine Doinel, menino endiabrado e, ao mesmo tempo, meigo, é o fio da narrativa de Truffaut para contar uma história melancólica do princípio ao fim. O drama e o humor se alternam na narrativa, que tende a agradar o espectador.




Há passagens antológicas em diversas partes do filme, como as cenas dentro da sala de aula, onde os alunos estão sempre aprontando; os momentos em família; a aula de educação física, filmada quase toda nas ruas da cidade, num plano aéreo, é comandada pelo professor que não percebe a debandada dos alunos durante o percurso; Doinel indo para o reformatório no carro da polícia e vendo a iluminada Paris; e a surpreendente cena final que... Bem, sobre essa aqui não falo.
Conflito em família
Família feliz
 O cerne do filme é a complicada relação familiar e o relativo desprezo ao qual o jovem garoto é submetido, tanto da parte da mãe, quanto do padrasto. Mas o diretor, em momento algum de Os Incompreendidos, descamba para as armadilhas do juízo de valores. Ele trata seus personagens com carinho (porque o diretor é uma espécie de pai dos seus personagens, não devendo negar-lhes isso) e mostra-se conhecedor da alma e das fraquezas humanas. É o próprio personagem que vai fazendo suas escolhas. A cena em que o garoto é interrogado na delegacia é bastante elucidativa, do ponto de vista sócio-patológico.
O cineasta francês não chegou a assumir de forma escancarada que Antoine Doinel seria um personagem autobiográfico, mas estudiosos do cinema e de Truffaut costumam elencar acontecimentos da infância e da adolescência da vida do artista presentes no filme.

Truffaut e Léaud em "Beijos proibidos"
Quem interpreta Doinel é o ator, então mirim, Jean-Pierre Léaud, que viria a trabalhar posteriormente com Truffaut em pelo menos mais quatro filmes: “Antoine e Colette” (1963), “Beijos Proibidos” (1968), “Domicílio Conjugal” (1970) e “O Amor em Fuga” (1979).  Pouco antes de assistir Os Incompreendidos, assistimos ao curta Antoinne e Colette, também em P&B, em que o “recorrente” Doinel em outra fase, mais amadurecido e aparentemente resolvido, lida com o primeiro amor, a ausência familiar, a persistência e a recusa.

"Antoinne e Colette"

 Léaud em "Antoinne e Colette"

Confessamos nosso gosto de assistir filmes mais recentes e buscar novidades em cinematografias que estão estourando pelo mundo. Mas é uma tentação rever e escrever sobre grandes cineastas e seus filmes clássicos. Diretores modernos como Spielberg, Tarantino, Brian de Palma e Scorsese se declaram influenciados pela estética de Truffaut.
Mais suspense, Truffaut

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