domingo, 12 de fevereiro de 2012

Semana estilosa

Abapuru: Influências regur(a)gitadas
O tempo é relativo. Pra alguns, noventa anos tá no “fim da picada”, “dobrou o cabo da boa esperança”. Para outros, ainda “dá um caldo”, “quebra um galho”, tá na “flor da idade”. E o que dizer de um evento que não se esgotou, que é a referência de modernidade, fonte para vertentes culturais que surgiram e despareceram, e para as que se mantiveram, apesar de muita água ter passado pela ponte.  É a “Semana de 22 ou a Semana de Arte Moderna”, que no dia 13 de fevereiro marca seus noventa anos.  
A famosa Semana, justiça se faça, é o principal acontecimento para a cultura brasileira ao longo da nossa história. Em 1922, também se comemorava o centenário da independência tupiniquim. Nada mais cabível, então, do que os artistas daqueles tempos oficializarem um novo rumo para as artes da terra, inaugurando uma produção que fosse mais a cara do Brasil. As influências vieram de fora e aqui se impregnaram e se alastraram.


Catálogo de... Di Cavalcanti

São Paulo, cidade que na época tinha a metade da população do Rio de Janeiro, que era a capital do país, foi a sede dessa manifestação. O Teatro Municipal viveu três dias (13, 15 e 17 de fevereiro) de muita agitação. É depois disso, a literatura, a música e as artes plásticas brasileiras experimentaram novos conceitos e padrões estéticos, cessando tudo que a musa antiga cantava. Mais liberdade para criar e muita polêmica. Mas, tava na hora.



Di Cavalcânti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Anita Malfati, Villa-Lobos, Victor Brecheret, Menoti Del Picchia e Guilherme de Almeida, entre outros artistas, articularam a Semana de Arte Moderna, mas as novidades estéticas já estavam presentes na produção de artistas como o poeta Manuel Bandeira e a pintora Tarsila do Amaral, que não estiveram de corpo presente na manifestação. O poema “Sapo”, de Bandeira, por exemplo, é apontado como um dos marcos de ruptura com o “velho”, porque o novo sempre vem.

Pagu, Elsie, Tarsila, Anita e Eugenia: damas calibre 22



Tropicalismo, eu vim de lá pequenininho
É curioso como essa poesia de Bandeira ganhou esse status, apesar de ele morar no Rio e ter se recusado a participar. Disse ele que não queria encrenca com poetas parnasianos, versejadores mais antigos, com os quais tinha amizade. Bom, de uma forma ou de outra, ele foi fundamental para a modernização das letras brasileiras.

Victor Brecheret

O escritor Monteiro Lobato, praticamente um ícone da cultural brasilis, perdeu uma oportunidade de ficar calado. Criticou ferozmente o trabalho de Anita Malfati, que acabara de chegar da Europa. Lobato, para contestar Anita, deixou entrever sua incapacidade de compreender o cubismo de Picasso. Meteu seu narizinho onde não devia.
A estudante russa (Tarsila do Amaral)

À Semana de Arte Moderna, na verdade, estava mais associada a palavra futurismo do que modernismo. O moderno preponderou. E a partir daí, deu no que deu. O antropofagismo, num futuro imediato e o Tropicalismo, que se deu bem mais pra frente, são movimentos relacionados com aqueles dias novidadeiros, quando a poesia passou a ser declamada, o academicismo nas artes plásticas bailou, e a vaia bateu duro. Ora, viva!!!


Eu sou um escritor difícil
Que muita gente enquiszila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar de uma vez:
E só tirar a cortina
Que entra luz nesta escuridez.
(A costela de grão cão)

"A poesia ficou nua entre grades, como um meridiano"

Bandeira, sapo cururu


Os Sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
-“Meu pai foi à guerra!”
-“Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”.

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz:-“Meu cancioneiro
É bem martelado”.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

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