A palavra do Rosa |
Pegar um poema e
esmiuçá-lo sob a luz científica dos conhecimentos em torno da literatura. Longe
de atrever nos a fazer algo assim. Não faz parte de nossas lides. Mas quando há
oportunidade de assistir uma exposição desse tipo, topamos. Um leitor voraz
precisa dessas vivências. Na pior das hipóteses, isso vai incrementar seu poder
seletivo e desenvolver a capacidade interpretativa.
O ensaio do coral SesCanta hoje não foi para cantar... foi para debulhar uma poesia do Caetano musicada por Milton, inspirada em conto de Guimarães Rosa: A Terceira Margem do Rio. Nosso companheiro de coro, Robertinho Boaventura, tenor dedicado e cantor do Chorinho, além de doutor professor da UFMT, foi o responsável pela façanha. A música está em nosso novo repertório e tá dando trabalho pras quase quarenta vozes que somos se encaixarem. Letra porreta, uma dessas boas viagens do Caetano. Disse uma das boas, porque respeito quem não gosta desse baiano, meu ídolo de várias décadas.
Bem aventurados os eleitos |
Cena de "A terceira margem" (Nelson P. dos Santos) |
Talvez não interesse mais a motivação que leva o escritor a escrever. Ou os jornalistas se tocaram e não fazem mais aquela perguntinha cretina: Como é o seu processo criativo? Essa resposta que muitos leitores querem saber nunca deve ser feita assim, na lata. É preciso ir cercando o artista com outras perguntas e depois sapecar essa. Se não o cara vai mesmo torcer o nariz.
Bituca e Cae |
Escrever nestes tempos em que o audiovisual predomina cheira a problema. Meio na contramão. Mas que tem muita gente escrevendo, isso tem. E se tem gente que escreve, tem gente que lê. Como a literatura entra pela cabeça nas pessoas e os efeitos que ela causa são outros quinhentos. Outros mistérios. Às vezes fico sabendo que interpretações engraçadas e absurdas para passagens de livros e filmes. Que nó as artes dão nas cabeças dos outros.
"A arte é a ciência do belo" (Paul Valéry) |
Então é isso. Aqui em casa sofremos desse consumismo atroz em relação às artes. Essas coisas humanas que são inventadas para mexer conosco, emocionar. Para nos fazer balançar diante das vicissitudes, porque se assim não fosse, a vida seria demais de sem graça.
Stop
A vida parou
Ou foi o automóvel?
(Drummond)
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