Ele era gay, bem casado, gostava de fumar maconha e defendia abertamente a legalidade do aborto. Não era apedrejado na rua e nem chegou a ser preso, apesar de acender seu baseado e sair dando baforadas pela cidade. Ah... mais uma coisinha. Não morava em nenhum país europeu, mas sim, aqui mesmo entre nós, na ensolarada América do Sul. Noutros tempos, poderia até ser confundido com um personagem. Quem sabe até adequado à alguma obra ao estilo realismo mágico. Esse, talvez e tudo leva a crer, seja o cidadão ou cidadã da sociedade uruguaia num futuro próximo.
O Uruguai, nosso “vecino”, é um país que deve assumir a vanguarda da América Latina, no que se refere à legislação sobre o uso da maconha, aborto e legalização do casamento gay. A expectativa é a de que os uruguaios passem a viver sob leis mais liberais, assim que aprovadas no legislativo, envolvendo os direitos civis em relação a esses assuntos tabus.
Na presidência um senhor de 77 anos, agricultor, ex-militante no combate à ditadura, encarcerado dezenas de vezes, que resistiu e lutou para restabelecer a democracia. E agora comanda o país. José “Pepe” Mujica ainda dirige um velho fusca azul, não usa terno e gravata e, pasmem, doa 90% do seu salário (de presidente) a uma Ong. E é o primeiro presidente da América Latina a propor leis que, segundo Mario Vargas Llosa, colocarão o país como um modelo de legalidade, liberdade, progresso e criatividade.
Eu não sou pobre. Pobre são os que creem que eu sou pobre (José Pepe Mujica) |
O Uruguai tem 3,3 milhões de habitantes e é um Estado laico, ao pé da letra. O pensamento cristão, diferente de outros países sul-americanos, não vingou com intensidade por lá, pois chegou tardiamente. Há também o fato de Montevidéu ser uma cidade portuária, de intenso movimento de estrangeiros, o que provocou fortes influências de sociedades como a inglesa, a holandesa e a italiana. E o resultado dessa equação sócio-étnica só poderia redundar num povo mais liberal, mais capaz de lavar a sua roupa suja. Ou de lavar a sua alma mesmo. Vai saber...
Bacana. Afinal, alguém aqui do nosso continente tem que fazer algo menos hipócrita. E sair na frente, puxando a fila. Ora, fazer aborto, fumar maconha e viver com alguém do mesmo sexo em regime conjugal... vai dizer são novidades? Então, a única coisa decente a se fazer é mesmo rever a legislação em torno desses temas, adequando-a para a realidade prática e flagrante.
2 X 1 para o Uruguai |
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