Temos um amigo que é gago e foi candidato a vereador noutros tempos. Na hora da propaganda política, a que passa na TV, imaginem o drama do cara. Para a montoeira de candidatos o tempo era pequeno demais, para ele, os mesmos segundos, era uma imensidão. Se tivesse que falar alguma coisa, o ideal é que partisse para um estilo narrador de corrida de cavalos, ou de leiloeiro. Tá fácil. Qual nada. Então ele optou em ficar paradão, enquadrado pela câmera, enquanto uma voz em off dava o recado.
Para quem o via na TV, a impressão que se tinha era a de que não era ele, em carne e osso, que estava ali. Parecia mais uma reprodução impressa da sua imagem, com um “fotoshopizinho”, pra dar uma força. Nos últimos segundos, no finalzinho do VT, ele lascou uma piscadela, para comprovar que estava ali... Essa estratégia assustou meio mundo. Se foi bom, ou se foi ruim esse marketing... não sabemos. Mas eleito é que não foi.
Boêmio e gago |
Retrato de George IV |
Já o texto correndo solto e só agora registramos que nesta segundona (22) comemora-se o Dia Internacional de Atenção a Gagueira, data de âmbito planetário criada em 1998, mas que só começou a ser lembrada no território brasileiro a partir de 2005. Sabe como é, né... aqui as coisas são um pouquinho mais demoradas. Uma campanha bem vinda, que apoia pessoas sem a plena fluência da fala.
"Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago / eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago / não po-posso com a cru-crueldade da saudade / que que mal-maldade, vi-vivo sem afago". Versos da canção Gago Apaixonado, de Noel Rosa.
Gaguejar é humano. Tropeçar e ser repetitivo em algumas sílabas é acontecimento diário na vida de quase todos nós. Engraçado para a maioria, mas dramático para quem gagueja, de acordo com a situação. Temos um amigo, poeta mato-grossense e nobre escritor, dos melhores daqui. Ele gagueja, mas sua inspiração e seu verso esbanjam fluência. Difícil resistir a tentação de reproduzir abaixo pelo menos um poema seu.
dra-dragão |
- Conforme teus olhos refletem a lua
É bem provável que Neil Armstrong
Tenha pousado na pupila sua!
- Deixe de histórias, seu bobo, os meus olhos
Não têm módulos nem modos;
E dos astronautas todos
Quem neles está quem será?
- Não faço a menor ideia, contudo,
se os olhos podem falar
não os deixe serem mudos.
- Não posso te olhar com eles.
Se te olho com certeza,
Verás nos olhos de quem tens presa,
Nas luazinhas, pela escotilha,
A tua imagem que neles brilha!
(Aclyse de Mattos, do livro "Assalto à mão amada")
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