quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Perdão foi feito...

Amar é jamais ter que pedir perdão

Está difícil acompanhar as sessões do STF esmiuçando o mensalão. Saiu daquela fase das teorias jurídicas, de muita falação e exemplificação; partindo para uma contagem, nos seus mínimos detalhes, para aplicação das penas. Tudo na base de cada cabeça uma sentença. E enquanto surrávamos nossos laptops em nossas funções profissionais, foi impossível não reparar na bateção de cabeça que rolou naquela corte. Números que representam os "anos, meses e até dias" de pena e números que representam as multas a serem pagas. 

E soma-se daqui, subtrai-se dali... A coisa é tão confusa que o STF suspendeu por uma semana os trabalhos. É a tal da dosimetria. Os ministros manifestaram suas dúvidas seguidamente, como nunca reparamos antes. Deve fazer parte do processo.



A coisa vai se afunilando e sujando pros "mensaleiros". A maioria vai se integrando ao elenco daquele bom faroeste do Eastwood: Os imperdoáveis. O defensor de um dos acusados estava indignado com o ministro relator, Joaquim Barbosa, porque este deu uma risada ao saber do pedido do advogado, que sugeria que as penas propostas pelo ministro, Cezar Peluso, aposentado, fossem aplicadas pelo plenário. Barbosa riu, porque se assim fosse aconteceria a prescrição. Para o outro foi falta de respeito a risada. Barbosa riu, e o advogado não perdoou.

E nós cantarolamos: "quero ver o Barbosa dar sua risada...". Serve pras Irenes de Bandeira e de Caetano.



Você perdoaria? Pera lá, perdoaria quem: os acusados do mensalão ou o ministro que riu? "Perdão foi feito pra gente pedir" é verso da canção de Ataulfo Alves e Mário Lago. Perdão é um sentimento? É um click, creio que por vontade própria ou involuntariamente (quando se esquece) para cessar ressentimentos, mágoa, raiva, ódio contra outras pessoas ou contra si mesmo. É difícil, mas não impossível. 

Perdão é relativo. É subjetivo. É variável. É humano. E é natural e aconselhável que se perdoe ou se peça perdão quando se reconhece o erro ou quando se reconhece que errou. Demorou, mas o Vaticano pediu perdão ao Galileu, 100 anos depois de condená-lo a morte. Se ele perdoou...



E tem muita gente pedindo perdão por aí. Pessoas físicas que representam setores influentes e poderosos da sociedade. E trata-se de um perdão que está além de questões sociais e ideológicas. Diz muito mais respeito aos aspectos econômicos. É curioso ver quem sempre esteve por cima da carne seca se colocar numa posição de pedinte. Às vezes, tem macaco véio que pede perdão depois de andar pisando na bola tempos e tempos. Gente que sempre levou vantagem, e que quer continuar levando essa vantagem, mesmo que o destino aponte numa outra direção.

Pelo menos no caso do mensalão está acontecendo um julgamento e será dada uma pena. Mas há tantos outros casos que nunca foram julgados, enquanto há outros que foram e, ao invés de se cumprir a justiça, tem gente pedindo perdão. A novela, que terminou recentemente, mas se arrastou por meses, foi a votação do novo Código Florestal. A pressão foi forte para o perdão daqueles que cometeram crimes ambientais. O caso era tão importante e premente que acordos e promessas políticas foram acertadas, combinadas. Mas a presidenta canetou um sonoro "não". Engraçado, né?! Se ela perdoasse os crimes ambientais como é que ficariam os proprietários rurais que seguiram e respeitaram a legislação? Estranho...



Se ela tivesse perdoado os crimes, as penas e as multas ela teria que perdoar minha dívida com o Banco do Brasil. Oras, bolas!

De última hora ficamos sabendo que diretores dos grandes clubes de futebol de São Paulo estiveram reunidos com candidatos à prefeitura porque querem o perdão de suas dívidas previdenciárias... gigantescas. Eita... Eu, tu, ele... nós, vós e eles. Todo mundo tem lá uma ou mais dívida que gostaria que fosse perdoada. 


Perdão foi feito pra gente pedir

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