Tá difícil parar. Porque aqui em Cuiabá neste início do mês de março é assim: mosquitos invadem a cidade, as casas... Chegaram e estão atacando. Não dá pra ficar parado. Nem imaginávamos que mosquitos e filosofia eram assim tão incompatíveis. Nossa raquete eletrocutadora de mosquitos está ligada e entra em ação. Os estalos registram a matança, que parece não surtir efeito. Eles estão em bando. É covardia. Como tentar escrever que, nesta terça, seis de março, lá se vão cinco anos que Jean Baudrillard morreu?
Instantes atrás eu, com a raquete na mão, observava um mosquito que voava bem na minha frente. Esperava o momento ideal para acabar com a vida dele. E ele sumiu. Fiquei estático, procurando localizá-lo, movendo somente os olhos circularmente. Eis que o vejo assentado em meu próprio braço e já sugando do meu sangue. Vampirinho duma figa!
Lá pelos anos de 2003 ou 2002 minha atenção foi capturada pela televisão. Era uma entrevista com um senhor de idade avançada que arrastava o seu francês. “A política é a arte de inserir o mal na ordem natural das coisas”. Essa colocação baniu minha vontade de acionar o controle remoto. Sentei-me e passei a devorar com olhos e ouvidos as palavras aladas que brotavam daquela boca murcha. Como que em transe assisti a longa entrevista de Jean Baudrillard. Mais de uma hora e meia escutando o filósofo, poeta e fotógrafo. Suas ideias e explicações sobre estes tempos futuristas me hipnotizaram.
Avisamos, como recomenda a sabedoria cuiabana, que nesta época do ano é importante fechar as janelas e portas das casas, antes do escurecer. É melhor prevenir do que ficar raquetando a noite inteira ou ficar num ambiente hermeticamente fechado a base de citronela, ou queimando pastilhas e líquido naqueles aparelhinhos elétricos. Ou queimar dinheiro pagando essa energia caríssima por causa do ar condicionado ou ventilador ligados a mil. A não ser que você prefira queimar bosta de vaca na sala da sua casa, ou então, sair se arrastando pelos cômodos da casa que nem uma alma penada, com um mosquiteiro em torno de seu corpo.
Mas Jean Baudrillard tem sido um grande ídolo desde o primeiro encontro. Quando ele morreu em 2007 só percebi 3 ou 4 dias depois e fiquei frustrado, por não ter noticiado sua partida logo em seguida. “A realidade já não existe e vivemos um permanente e conspiratório espetáculo de mídia”, disse ele. O filme “Matrix” (1999), uma criação dos irmãos Wachowski, foi influenciado pelo livro “Simulacros e Simulação” (1981), de Baudrillard.
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