"Gigante" filme de Adrián Biniez |
Basta ser intimado para ir às compras, que o humor vai ladeira abaixo. Dirigir, procurar uma vaga no estacionamento, entrar, guiar o carrinho, pesquisar e comprar. Depois entrar na fila do caixa, pagar e assistir o empacotamento das compras, voltar pro carro e alojar produtos ensacados. E você sabe que não acabou...
Chegar em casa, descer as compras e guardá-las em seus devidos lugares. Todo esse procedimento me enerva. Em qualquer ida ao supermercado, por menor que seja a compra, sei que na próxima hora, se não mais do que isso, estarei envolvido com esse afazer. Um saco. Invejo as pessoas que têm mais paciência nessa função. O que costuma salvar nessas ocasiões são os encontros inesperados com pessoas amigas, algumas que há tempos não via. Isso é bom e curioso. Quando vou às compras, imagino com quem encontrarei dessa vez. E esses encontros fortuitos me obrigam a, pelo menos, fingir que não estou mal humorado.
Hoje foi dia de supermercado e um contratempo extra. Com a proximidade da Páscoa, acontece uma revolução na ambiência. Com a nova decoração, bem num local onde é impossível não transitar, instalaram uma espécie de caramanchão com ovos de páscoa pendurados. Por causa da minha estatura acima do normal, tive que andar quase que dobrado. Um detalhe insignificante, mas, para quem padece de “neurose de supermercado”, é uma merda.
Saco cheio |
Na maioria das vezes indagamos um pro outro se tem algo, em mente, pra escrever. É comum a cabeça vazia, oca... cansados, exaustos dos afazeres do dia. Aí vai rolando uma descontração básica. Conversa vai, conversa vem e definimos o assunto, que contumazmente descamba, bacana...
Essa de supermercado pegou maus. Não houve tempo para um preparo psicológico. Não é um tema, que se basta com apenas uma nota. Pois não é ele que todos os meses surrupia meu parco soldo e assalta o cheque especial, quando não, o cartão de crédito?
Adoro o cheiro, as cores e o sabor das frutas; o frescor das hortaliças; a robustez dos tubérculos, o calor dos temperos; o brilho dos óleos e azeites; a bioquímica dinâmica dos queijos; o sono dos grãos; a textura das farinhas e açucares, os segredos das latas e embalagens invioláveis, as inovações tecnológicas dos panos de limpeza, o designer dos rodos e vassouras, a neblina que escapa dos freezers, o silencio dos vinhos, sopesar com os olhos, deslizar as mãos com malemolência nas bananas maduras, beliscar disfarçadamente as uvas, apertar os tomates maduros e desejar a lagosta alheia... E de algumas pessoas. E gosto muito da minha performance pra dirigir o carrinho abarrotado, tirando finas e me esgueirando pelos corredores escorregadios. Quase Ayrton Sena!
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