Ressaca pode ser encarada de formas diferentes. Uma delas, a primeira, eu diria, é desobedecer o salva-vidas e partir de encontro àquelas ondas monstruosas que só um mar em TPM pode provocar. Outro jeito de enfrentar a ressaca é arrepender-se imediatamente de alguma imoralidade cometida, porque auto perdoar-se também vale neste mundo. E tem aquela outra ressaca que só combatemos com pacoteiras farmacêuticas, mandingas e coisas assim pra lá de fitoterápicas. Orégano não vale.
Se o mar quando quebra na praia é bonito, é bonito... quando ele tá de ressaca é superlativo. Netuno em toda a sua brabeza. P da vida, talvez, com mudanças climáticas. É quando o mar não está nem pra peixe, imagina pra nós; humanos. Uma pessoa que conheço desde uma vida inteira, quando criança e tinha febre, seus delírios eram ver-se perdido na rebentação da praia, com aquelas ondas colossais desabando sobre sua cabeça.
A ressaca moral pode nos acometer. Muitas vezes nem precisamos ou sabemos identificá-la, mas passamos por aquele desconforto psicológico. Uma história me vem a mente é sobre um caso de ressaca moral que fiquei sabendo. Uma amiga aguardava atendimento na sala de espera de um médico, lotado. Sua senha era a de número 136. De repente, uma mulher, provavelmente cansada de aguardar pelo fatídico atendimento ou por outro motivo, desiste e ao sair deixa o se papelzinho sobre o balcão. É a senha. Minha amiga apropriou-se da senha abandonada. Surpresa! Tem dez a menos na sua frente. Levou melhor, a famosa lei de Gerson, levou vantagem.
Pra ressaca moral... não tem remédio! |
O que acontece é que na espera que se segue, ela põe-se a pensar se sua atitude foi certa ou errada. E conversamos sobre isso durante um tempo, chegamos à conclusão de que o correto seria pegar a senha abandonada e inutilizá-la. Mas não foi isso que ela fez. Ainda perguntei-lhe se ela estava sentada na frente ou mais atrás na sala. “Por quê?”, indagou-me. Respondi: “Se você estava na frente, certamente, muita gente reparou no que você fez...”. Ela ficou lívida. Foi o clímax, creio, de sua ressaca moral.
Uma outra história de ressaca, pois bem, neste segundo caso, duas mulheres faziam uma viagem e de repente tiveram que pernoitar numa cidade chamada Paredão... Não, pensando bem, era General Carneiro, porque em Paredão não devia existir frigobar naqueles anos. Mas é coisa de pouco tempo atrás. E as duas amigas que viajavam juntas saíram pra noite na cidadela e eis que tomaram todas. Uma delas, na verdade, acabou dando trabalho.
Depois de uma cervejada (tava meio quente) a mais beberrona voltou em estado deplorável ao hotel. Louca pela bededeira e também louca para fazer um xixi, entrou às pressas no quarto do hotel, abriu a porta do frigobar e verteu ali dentro mesmo. É... a marvada faz cada coisa com a gente. Não é preciso dizer que acordou em péssimo estado. Aquela dor de cabeça que parece que vai sair a tampa da cabeça, que nem duas neosaldinas de pancada controlam. No caso ai foram duas ressacas: a moral e a orgânica!
Mictório portátil de Marcel Duchamp |
Ressaca aqui em Mato Grosso, pelo menos na região da baixada cuiabana, significa, ainda, uma grota ou depressão (de outro tipo) na superfície de uma área. Esse significado, que também é dicionarizado, já ouvi sair da boca de humildes habitantes do meio rural destas bandas. E agora, dá licença. Hora de tomar mais um estomazil ou coisa que o valha, porque ainda não estou 100% recuperado e preciso sair desse buraco!
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