Nequinho é o apelido do poeta que nasceu em Cuiabá, mas, com menos de um ano mudou-se para Campo Grande. É apontado como um dos maiores nomes da poesia contemporânea brasileira. Seu verso é único e produz encantamentos raros nos mais diferentes tipos de gentes. O documentário, dirigido, roteirizado e narrado por Pedro Cezar; ganhou prêmios nos festivais de Paulínia e de Goiânia em 2009. Joga luz sobre a poesia e a vida de Barros, mostrando-o como um poeta que demorou, demorou, mas tornou-se um poeta em tempo integral. “Eu comprei o meu ócio”, diz ele ao no filme.
A película tem um esmero especial com as imagens (de cair o queixo), em sua maioria, flagrando as coisas aparentemente inúteis da vida que, segundo o poeta, têm serventia para o poema. Ah, e como serve essa coisarada toda pra derramar poesia em nossa vida fria. Desfilam pelo doc depoimentos de artistas como Fausto Wolf, Adriana Falcão, Joel Pizzini e Elisa Lucinda, entre outros. Parentes e personagens, pessoas importantes que ladearam a vida/obra do poeta, como a esposa Stella Barros, o filho João de Barros, a filha Martha, o irmão Abílio e o incrível Palmiro (consultor de Barros para o idiomês pantaneiro); enriquecem a obra com elementos de foro íntimo e outras cositas curiosas e engraçadas.
Manoel de Barros foi um dos escritores homenageados na Literamérica 2005, ao lado de Ricardo Dicke e Wlademir Dias Pino. Como assessor do evento, me coube a tarefa de ciceronear os convidados. Quando Nequinho chegou e desceu do ônibus no hotel onde se instalaria, eu conversava com Dias Pino. Pedi licença pra receber Manoel e disse que já o tinha entrevistado duas vezes anteriormente. Ele, indagou em seguida: “Lorenzo, esse outro homenageado, o Wlademir, já morreu?”. Wlademir estava praticamente ao lado e não pestanejei: “Não poeta, olha ele aqui”. Os dois puseram-se a conversar.
Palmiro, comparsa de Manoel nas travessuras das palavras |
Lá se vão sete anos desse episódio e, de lá pra cá, Manoel de Barros, já nonagenário, vem sendo assunto – e dos bons - em tudo quanto é veículo de comunicação. Imaginem se não iríamos tratá-lo com carinho e devoção aqui no Tyrannus.
Numa das nossas conversas ele me falou de um tal de Bernardo, um sujeito “diferente”, que morava em sua fazenda ou coisa assim. Bernardo tinha o dom de se comunicar com seres viventes como as aves que se empoleiravam nele; e com os peixes, que nadavam entre seus dedos quando ele entrava n’água. No “Só dez por cento é mentira” Bernardo é dito como o cara que Manoel de Barros queria ser. É o seu alterego, disse Palmirinho, claro que no iodiomês pantaneiro. Foi de arrepiar.
1923: Manoel segura o olho de vidro de seu avô |
Empapado de poesia e de encantamentos com a beleza do filme, fechamos o post com uma resposta de Manoel, à uma das perguntas da minha primeira entrevista com Nequinho, que foi feita por carta: “Acho que ninguém escreve, ou faz qualquer arte, sem esperança de ser apreciado, lido e gostado. Todos, com certeza, gostariam de atingir, com a sua arte, ao menos meia dúzia de amigos e a namorada. Não sou diferente. Gosto de ser lido e de ser amado através de meus versos. Isso é mais do que humano, é humaníssimo. Entretanto, ó entretanto! não desando do meu caminho estético para agradar. Sou um manobreiro de palavras e as manobro para criar imagens poéticas com efeitos estéticos. Às vezes tenho o gosto de desestruturar a linguagem. Faço isso não para ser original, mas para me ser.” Dá-lhe Nequinho!!!
A Manoel de Barros, com amor |
... o resto é
invenção."
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