terça-feira, 17 de abril de 2012

Sobre a rua, sob a água

Um catatau de filmes apresenta enredos com personagens que vão se interligando enquanto a história é desnudada diante de nossos olhos, que podem ficar mais, ou menos perplexos, na medida em que transcorre o tempo. E o grau de perplexidade, necessariamente, não está relacionado com a qualidade do filme. A famosa “teoria dos 6 de graus de separação”, que diz que são precisos seis laços de amizades para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas.






“Sobre a rua, sob a água” (2009), filme dinamarquês, vai por esse caminho comum ao cinema para conquistar seu público sem grandes surpresas. Em nosso cineminha doméstico, no conforto do sofá da sala, fez o maior sucesso. Há de convencer aqueles que se sentirem contagiados com nossos comentários e observações de apaixonados por cinema, a assistir esse filme.


Charlotte Sieling
A culpa desse encantamento todo é da cineasta Charlotte Sieling. Ou a maior parte da culpa. Um filme tão redondinho, daqueles que emociona e diverte, e que envolve o espectador, não surge assim do acaso. É intencional e só pode partir de uma cabeça que sabe o que quer e aonde quer chegar. “O cinema lê pensamento”, explicou Denise Fraga para definir sua satisfação para com “Sobre a rua, sob a água”, num breve bate papo que antecedeu a exibição.

As belas imagens da capital dinamarquesa e a caracterização apropriada dos seis personagens (que já encontraram/nasceram sem ranços autorais) protagonistas da história fecham uma teia de relações humanizadas ao melhor estilo “cada qual com seus problemas”. Tudo bem, há coincidências na forma como acontece a aproximação entre eles, mas, em momento algum, sobressai-se a impressão de que foi algo forçado e antinatural.




Um contexto dramático cresce e aparece respeitando a individualidade dessas pessoas que engendram o roteiro. A história, gira em torno de uma atriz em dia de première de uma peça teatral: Hamlet. E nesse nervoso dia, que desabou sobre sua cabeça, ela terá que resolver suas questões particulares que vão desde a quase inevitável (ou não) separação, até a tarefa de buscar o filho pequeno numa escola que ela nem sabe onde fica.

À parte isso, os outros personagens se chafurdam nos problemas existenciais inerentes a uma sociedade moderna e secular, instalada entre rios, ruas enviesadas e uma arquitetura tão antiga quanto contemporânea. Música e fotografia ótimas. O final dá pistas de que nada está em condições de ser resolvido de forma definitiva. A vida continua... sobre a rua, sob a água, e a delicada e solitária sereia a olhar pro mar.



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