Peréio tem uma das vozes mais bonitas do Brasil, e também das mais requisitadas para locução, mas quando está no seu programa não é fácil entende-lo. E Tiefenthaler não fica nadica pra trás. Eles pareciam dois trogloditas vociferando grunhidos guturais, ininteligíveis. Um intelectual diria que foi um diálogo visceral, primevo. Quando entendíamos as opiniões e pontos de vista eram agressivas, mas verdadeiras. Tocavam fundo na ferida e na baboseira a que somos expostos, em todos os sentidos, se não tivermos chance ou paciência pra garimpar produções artísticas interessantes e autênticas.
O jeitão do Peréio é conhecido: grosso, sem educação, prepotente, irônico e outros mil adjetivos. Pra comemorar seus 70 anos de idade e 50 anos de carreira ganhou até um anti-documentário (a pedido): “Peréio eu te odeio”, dirigido por Allan Sieber, cartunista. Pra falar mal de Peréio não houve problemas, ele fez uma lista com familiares, amigos e inimigos e cedeu para orientar o diretor. Os familiares e amigos adoraram depor seu desprazer em conhecer ou ter convivido com ele. Alguns inimigos recusaram, seria o “gozo” para o ego do artista.
Já escrevemos aqui no Tyrannus sobre o Paulo Tiefenthaler, discorrendo sobre seu jeitão despojado e o curioso programa de “culinária de guerrilha”, o Larica Total. Conversei com o André Sadi, quando ele aqui esteve no Festival de Cinema de Cuiabá, cobrando-lhe o retorno do Larica. “Ele vai voltar...”, garantiu. E já na próxima terça, rola no Canal Brasil, o making off da reestreia do Larica.
Aí, acabou o Sem Frescura e, ainda de bobeira, no mesmo Canal Brasil mais um documentário: “Canções do Exílio, a labareda que lambeu tudo”. Nome estranho e esperamos pra ver qual era. O doc, dirigido pelo jornalista Geneton de Morais, com Caetano, Gil, Mautner e Macalé. Presente também o Glauber, com seu vozeirão. E quem faz a narração? Quem...? Quem...? Ele, o odiado Peréio. Foi muito Peréio para uma tarde domingueira, mas valeu. Há quem prefira Faustão, Gugu, Eliana etc... Cada um com as suas preferências. Acreditamos que a força do hábito congelou as mãos ou cérebro ou sei lá mais o que das pessoas que não con$eguem buscar outras opções.
Caetano e Geneton |
“Ouvi eles dizendo várias vezes que queriam matar o Vandré”, diz Caetano, referindo-se aos contatos imediatos que travou com a polícia do exército, durante os anos de chumbo. E Gil, enquanto preso, não negou uma “canja” aos soldados e oficiais e numa noite rolou um showzinho bacana.
"Eu fui muito feliz, completamente triste" (Macalé) |
É sempre legal recordar episódios da história (neste caso, não oficial) brasileira. Uma sacada interessante do Geneton é que em parte do texto ele, que foi e ainda é jornalista, desce a lenha nessa profissão, nas suas regras, suas restrições e pusilanimidades. Mas, salvaguarda o ofício, valorizando pelo menos um lado bom: o de produzir a memória.
Coincidentemente a data do “golpe” foi sábado, 31 de março. Tá rolando uma discussão braba, sobre o “direito do esquecimento”. Muito antes o General João Batista de Figueiredo ao deixar a presidência, pediu: “Esqueçam de mim”. Têm fatos e coisas que um povo não pode nem deve esquecer!
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