terça-feira, 12 de junho de 2012

Bílis negra

Goethe. Gênio alemão cravou seu nome na literatura universal. Aí surge a oportunidade de assistir uma produção alemã recente, “O Jovem Goethe” (2010), de Philipp Stölzl. Gostamos de cinebiografias de artistas notáveis. Conhecer, neste caso traduzidas em imagens, a respeito de gente de tamanha envergadura, é algo conquistador.

Goethe como todo jovem teve lá seus problemas existenciais. Recebeu uma educação rigorosa que incluiu conhecimentos de vários idiomas, música e artes visuais, além de ter ao seu dispor uma biblioteca com dois mil títulos. Seu pai, poderoso no meio jurídico, rechaçou seus poemas e arrumou uma boca para o filho, que escrevia muito bem, como preboste no judiciário em alguma província em terras germânicas. E lá, quis o destino que Goethe se apaixonasse pela mulher que seu chefe também haveria de pretender.

Amores impossíveis e/ou difíceis estão espalhados pela ficção mundial. Recomendamos, e com gosto o filme, e não vamos nos estender sobre ele. É preciso, porém, registrar que quaisquer semelhanças entre este filme e Werther, célebre obra de Goethe, não devem ser encaradas como mera coincidência.

Miriam Stein e Alexander Fehling em "O jovem Goethe"

“Morbus melancholicus”, a expressão surgiu durante o filme para, supostamente, diagnosticar um suicídio. Melancholicus... melancholicus... conhecemos essa palavra de algum lugar. Sei lá. E fomos fuçar em torno dessa expressão latina. Tudo que tem origem latina é muito antigo e, portanto, já passou por muita filosofia e foi virado e revirado por estudiosos.

Melancolia (A. Dürer)
Melán cholé = bílis negra. Que vem do baço, órgão que fica bem pertinho do fígado, daí que o humor tem lá suas causas figadais. Quinhentos anos antes de Cristo, Hipócrates exprimiu-se fisiologicamente e garantiu que esse líquido era formador da personalidade humana. Que tristeza esse papo de ser genial. Depois veio Aristóteles, que foi além.

A existência costuma moldar os gênios com muito sofrimento. Pessoas que desenvolveram a genialidade e adquiriram muito conhecimento e sapiência deixaram suas pistas, que também são conhecidas como legados. Um sortilégio para a humanidade, mas, vai saber a dor dessa gente que tem a sina de gênio.


Então, Aristóteles, que se avizinhou da Era Cristã, atribuiu um conceito antropológico à melán cholé, ou melancolia, como é conhecida nos dias de hoje. O sábio grego confirmou que expoentes da política, das artes, da poesia e da filosofia eram tristes. Exemplificou nominando figuras históricas como Empédocles, Sócrates e Platão. Cícero e Sêneca, pensadores que vieram depois de Aristóteles, também se engajaram nessa mesma teoria que, de lá pra cá, não mais se aquietou.

Ficamos/estamos tristes? Deve ser por conta de um derrame de bílis negra. Somos melancholicus. E se você, como nós, também tem lá essa amargura que não tem fim (enquanto felicidade sim), não fique triste. Você pode ser um gênio!  
Melancholy (E. Munch)

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