Galera overdosada |
Lambe
lambe, não, Lang Lang. E nenhum parentesco com Fritz Lang. A mais expressiva
novidade da música erudita moderna, o pianista chinês Lang Lang. Muito inspirados
vimos um concerto do grande artista na telinha, uma performance bastante
teatral, com Beethoven, Albeniz e Chopin no repertório. Assim começou a over
the dose de erudição. Aranhas caranguejeiras acasalando. É por aí que o
pensamento viaja quando estamos hipnotizados pelas suas ágeis mãos, destrinchando
o piano.
Aos dois anos, após assistir Tom e Jerry, com o gato tocando Liszt, ele se interessou pelo instrumento. E assim começou essa carreira espetacular. A marcação cerrada do pai, personalidade musical, na preparação do filho foi, digamos, ao estilo oriental. Certa vez, por causa de um atraso para os estudos, em casa, o pai sugeriu que ele se suicidasse ingerindo um punhado de comprimidos. Coisa de louco! Já sua mãe recomenda até hoje, ao jovem de 29 anos, quando sai para as noitadas: “Filho, não volte tarde pra casa. Amanhã você tem que acordar cedo”.
O
pianista pop star também recebe duras críticas. O povo chinês não entende como
ele faz sucesso se não participa e não ganha nas competições. No ocidente os mais
conservadores não gostam de sua postura e o chamam de J-Lo do piano. Incontestável
é que o cara é um virtuose e puro carisma. É ídolo global, embaixador da
Unesco, e bancado pela Adidas e pela Telefónica. O “efeito Lang Lang” aconteceu
após a abertura das olimpíadas, em Pequim. Uma nova revolução cultural na
China. A informação é que provocou uma corrida para estudar piano naquele país:
só 40 milhões de chinezinhos!
Jaroussky assim como o Lang Lang é toceira |
Mas Lang era pouco. Precisávamos de mais e mais... fomos em busca de Philippe Jaroussky, cantor lírico francês. Quantos cantores líricos devem existir na França... A questão é que Jaroussky é contratenor, quase um soprano - voz feminina, emitida por um homem. Ele nasceu em 1978 e é um dos contratenores mais requisitados. No concerto que vimos Jaroussky é acompanhado por uma orquestra de câmera, em Berlim, solta a voz num repertório barroco.
Músicas dos tempos em que às mulheres era proibido cantar dentro das igrejas. Alguns homens, então, que cantavam com bela voz quando jovens, eram operados (castrados mesmo!), para manter a voz masculina numa altura em que só as mulheres conseguiam cantar. Mas a saga dos “castrati” (assim eram chamados) acabou faz tempo. Vivemos numa época mais civilizada onde se buscam os contratenores por excelência.
Lang Lang e Philip Jarowsky nos chaparam. Por causa dessa overdose de música clássica de alta qualidade tivemos um efeito colateral. No cair da tarde, trafegando pela Avenida das Torres, pintou uma coisa estranha, uma música surgiu do nada. Uma consequência, talvez... Sei lá. E nos pegamos cantando uma velha canção, do Paulo Diniz... “outro dia vinha pela rua, quase morri de rir, pois um cara que passou por mim, chorava fazendo assim...”. Que coisa mais fora de hora. Ou não!
E esta conversa precisa ser encerrada. Queremos mais... está no programa conferir um documentário sobre a montagem do balé “O canto do rouxinol”, do início do século XX, que reuniu Stravinsky, Matisse, Balanchine e Diaghilev, o dândi russo visionário, um dos maiores empreendedores culturais do mundo em todos os tempos.
Pega leve Diaghilev |
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