(Foto: Secom/VG)
|
Quando
nos dizem que é nesta cidade o centro geodésico da América do Sul, ruminar uma
respostada é quase incontrolável: “E daí... Cuiabá é o lugar mais longe de tudo”.
Mais longe, e mais quente. Essa distância é que dificultava em demasia o acesso
até estas bandas. Então, os povos daqui, viviam ensimesmados com suas lides,
costumes e cultura. A influência da ambiência rural, que hoje perde espaço, já
predominou. E se enraizou na sociedade. “Põe aquele vestidinho “carijó” nela”, ouvi
um amigo dizer pra esposa nos anos 80, quando eles arrumavam a filhinha pra um
evento social.
Bom,
a estampa carijó, certamente, é conhecida e praticada no planeta inteiro, mas
não acredito que a galinha carijó seja tão “valorizada” por esse mundo a fora. O
design carijó, que deve ter outra denominação no mundo fashion, é tão conhecido
quanto os estilos zebra e onça pintada. Mas essa mania de associar tudo com as
coisas da natureza, para exemplificar claramente, em termos conceituais e
visuais, é muito comum nos idiomas indígenas.
Pescador
experiente que conhece beira de rio, deve fugir de uma espécie vegetal que
margeia os cursos d’água daqui: “unha de gato”. O nome já diz tudo. E o tal do “capim
navalha”? Você seria besta ao ponto de passar a mão nele pra ver se corta
mesmo? Tem uma plantinha de chão, gramínea, que também é espinhenta. Leva o
sugestivo nome de “obrigabaixar”. Experimenta pisar nela descalço pra entender
a origem da nominação. Faz tempo que não sentimos um odor desagradável que vem
de uma madeira que já foi usada na construção: “pau bosta”. Precisa explicar?
Sarã |
Sujeito que não presta, cabe emprestar a ele o apelido de “pequi roído”. Houve um tempo em que a saúva, aquela formiga cabeçuda, seria o grande problema do Brasil. Ou o país acabava com ela, ou ela com o Brasil. Mas quá... que saúva que nada. Aqui em Cuiabá e adjacências, essa formiga cabeçudona era conhecida como “carregador”. Claro, pois vive carregando pedaços de folhas e frutas em seus intermináveis trilheiros.
E
já que estamos no reino dos insetos, que tal o “cagafogo”, uma abelhinha besta,
que enrola em nossos cabelos quando invadimos as áreas proibidas de
sua colmeia. Dão uma leve queimadinha. “Boca azedo”, outra formiga comum, cujo
segundo nome não tava nem aí pro fato do primeiro nome ser no feminino.
“Lambe
olho”. Uma praga de uma mosquinha que fica perseguindo nossos olhos. Se um
lambe olho pousar no olho de alguém com conjuntivite, e depois pousar no seu,
já viu. Você vai ficar com “dordóio”. E aí vai ter que comprar o colírio “lavoio”,
porque senão vai ficar com a vista “merejando”, que nem olho de tamanduá mirim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário