domingo, 29 de julho de 2012

Quase pastel

Para o aeroporto. Rápido. Não é nada delicado deixar uma pessoa querida esperando após algumas horas de voo, com direito àquelas indesejáveis escalas. Várzea Grande é o destino obrigatório de qualquer um que chega de asa dura em Cuiabá. Pode ser que o trânsito não esteja não fluindo, então, é preciso planejar, o que significa sair de casa num horário que dê margem a possíveis problemas no tráfego.Várzea Grande, ou Vajú, como diziam noutros tempos, fica logo ali. É só atravessar o rio Cuiabá e tá lá, a cidade vizinha. Saio de casa demais de cedo e em menos de quinze minutinhos tô lá. E agora...? Mofar no aeroporto é o que não quero. Meu estômago emite sinais de que aceita algo e preciso de uma estratégia passatempo. E bate aquela larica avassaladora. Vem que vem. Não sei bem se é fome ou vontade de comer. Pode ser que os dois juntos.




Aquele atentado contra a saúde na hora matinal está a um passo de ser consumado. Comer um pastel de botequim, acompanhado por uma coca-cola. Não é possível que não encontre um muquifo, que seja, em alguma quebrada aqui da VG, para saciar meu desejo. Um dia desses tomo vergonha na cara e acabo com essa mania descabida, de comer porcariada na rua. Já sou bem grandinho pra saber o que devo e posso fazer pela minha saúde. Mas não hoje. Não agora.


Em vez de seguir a avenida que dá acesso ao aeroporto, tóro para o centro de Várzea Grande. Rodo por ali devagarzinho e nada de encontrar algo que me sirva. E minha boca tá aguando pelo pastelzinho, fritura maligna que vai acabando com a minha raça. Vislumbro numa avenida espremida uns trailers. Daqueles onde sempre as condições de higiene mandam lembranças. A música sertaneja me vem à cabeça: "é pra lá que eu vou!". 






Encosto o carro e desço. No primeiro trailer, além de não ter pastel, ainda está um bêbado daqueles bem pegajosos. Ele se dirige à minha pessoa, mas não dou ouvidos. Sigo andando para  outro muquifo pé sujo ali ao lado. De novo, nada de pastel. Só aqueles salgados imprestáveis que, sabe Deus desde quando, estão naquela vitrine desalentadora. Acho que vou de coxinha, na falta do pastel. A coxinha, sabe, quando ela é feita com massa de mandioca, se você der sorte e se ela for jovem, até que é gostosa. O problema é que pode ficar pingando gordura enquanto a gente manda pra dentro. Pela vitrine até que ela tá bonita. Tenho esperanças que ela seja de massa de mandioca, e não de trigo. "Do que é a coxinha?". Vem a resposta desentendida da humilde moça: "De carne".






Requentada na praga do microondas, o alimento me é servido com aqueles sachezinhos de catchup e maionese. O crime contra a saúde será completo. Sirvo a coca no copo e percebo que o bêbado, que nem eu, está migrando de local. Nem olho, mas sinto seu olhar em minha direção. Está vindo se juntar a mim. Dou a primeira dentada na coxinha, já incomodado com o companheiro que chega. Tenho mais um motivo pra me incomodar, porque dou mais uma dentada na coxinha, pra me certificar... Está uma bela de uma porcaria. Tomo um gole da coca. Faltava que ela estivesse choca. Mas não está. Vou me levantando. Talvez a aeronave já esteja no pátio.






“Compre um desse aqui pra mim...”. Diz o bebum retorcendo a boca, já íntimo e ao meu lado. Ele mostra um desses salgados recheados de presunto e queijo. Percebo as beiradas da mussarela e do presunto ressecados. Sem pestanejar, entrego a coxinha ao bêbado e ele me olha com uma cara de espanto ou de sei lá o que. “E ieu vo comê isso????”. “Ah, num qué?”, respondo. Ele dá um sorriso e arremata me tomando a coxinha: “Quero sim”. E o pastel vai ficar pra outra ocasião.




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