domingo, 22 de julho de 2012

A última diligência



Dizem, e com razão, que em boca fechada não entra mosca. Que não se deve falar/comentar quando não se conhece do assunto. Somos atrevidos. Não estamos aguentando manter a boca fechada e vamos correr o risco de falar besteira.


A Estação Rodoviária de Cuiabá de antigamente, ali na Rua Miranda Reis, era muito ruim e com o tempo foi tornando-se um horror. Feia, suja, fedida e pequena para atender a demanda de passageiros que descobria o centro-oeste brasileiro. 


Rodoviária velha (Dalva de Barros)




Quando começou a ser planejada e construída a nova Estação Rodoviária, não nos lembramos se houve polêmica. Mas lembramos de um político (que por esse e outros motivos obviamente, não deixou nenhuma marca em nossas memórias) que esbravejou que o governo, na época, Garcia Neto, deveria estar louco de construir uma obra tão grande. Qual nada... nossa memória de queijo suíço nada mais registrou em termos de sua localização, eficiência e eficácia. Sabemos que eficiência consiste em fazer certo as coisas, e eficácia, em fazer as coisas certas. Está claro que a nova (e já velha) rodoviária ainda atende as necessidades atuais e futuras.


Constatamos hoje que, passadas algumas décadas, ela continua a prestar seus serviços de forma razoável. É ampla, bem situada e, diferentemente de muitos prédios públicos, tem comodidade e condições climáticas, apesar de alguns "puxadinhos" já realizados no local. Claro que a cidade cresceu e mudou. Foi estrangulada pela caótica mobilidade urbana generalizada da cidade que, registramos, já era uma porcaria muito antes das obras da Copa.    
Amigos e moradores campograndenses costumavam dizer que a rodoviária cuiabana foi, por muito tempo, um show, perto da deles. Agora, não sabemos mais. Campo Grande ganhou sua nova Estação Rodoviária.






O assunto de hoje não caiu do céu. Surgiu por conta da notícia que o Ministério Público Estadual vai pedir o bloqueio do VLT, que deve ser construído em Cuiabá devido ao certame futebolístico mundial. Engraçado, ou triste, é que já sabemos todos que o tal VLT (Veículo Longo sobre Trilhos) só chegará depois da Copa. O promotor público que pretende o bloqueio entende que o empréstimo de 1,2 bilhão de reais para a realização de uma obra de 7 km em Cuiabá está fora do orçamento do Estado. 


O Executivo de MT, tudo leva a crer, não dispõe de recursos para investir em educação, saúde e segurança pública, setores que persistem numa situação calamitosa há anos. E vem a pergunta: como é que o poder público, então, se predispõe a assumir uma dívida fenomenal para a realização dessa obra que, com seus sete quilômetros, é uma merreca para a mobilidade urbana de Cuiabá? E que merreca cara essa... 







Agorinha, na Rio+20, vimos que estão implantando o BRT (Bus Rapid Transit ou Trânsito Rápido de Ônibus), para os cariocas. Agradável surpresa e fácil constatação que é uma obra relativamente simples e que funciona. Curitiba implantou o sistema em 1979. Foi a primeira cidade do mundo a ter o seu BRT e depois vendeu a tecnologia para países como USA, Chile, China, Colômbia, Canadá e muitos outros.






No Brasil, além do Rio de Janeiro, Belém (PA), BH e São Paulo, entre outras cidades, já possuem o BRT, ou o implantarão. Brasília, cidade projetada e pós-moderna, terá o seu para a Copa 2014, atendendo uma média de 600 mil passageiros, com 35 km, uma obra estimada em 530 milhões de reais.


O que parece isso? Adivinha... Que tem algo de podre no reino da Dinamarca. Será que esse transporte caríssimo que passará só pelo centro da cidade vai se prestar para a população, especialmente as classes sociais menos afortunadas, a se locomover em direção às instituições públicas de ensino e de saúde? Fica um pressentimento, ou uma desconfiança, de que quem precisa e é usuário do péssimo transporte público cuiabano, vai perder o bonde. Será mesmo?





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