segunda-feira, 2 de julho de 2012

Humor breu

“Um grupo de quatro paquistaneses transporta dentro de um carro velho apetrechos e substâncias para produzir explosivos. São aprendizes de terrorismo. O carro pifa e eles, paranoiados, com uma suposta perseguição, abandonam o veículo e saem andando rápido e estranhamente, por conta dos cuidados necessários que a carga exige”. Cena hilária. Digna de ataques de riso. É só uma sequência de “Four Lions” (2010), do misterioso britânico, Christopher Morris, filme bem recebido pela crítica e com boa bilheteria.



Misturar humor com terrorismo está longe de ser tempero politicamente correto para um filme, ou para qualquer outro tipo de criação. Não por acaso, o filme provocou protestos em Londres, já que a ficção de Morris, que dirigiu e escreveu a obra, “imita” ações terroristas reais que aconteceram na maratona de Londres em 2005, deixando dezenas de vítimas. Pais de vítimas do atentado propuseram  boicote à exibição do filme.






 Já nos primeiros cinco minutos de “Four Lions”, quando ainda nem estávamos familiarizados com os personagens, tivemos a sensação de ser catapultados à série de TV “Os Três Patetas”, e ao hilário “Um convidado bem trapalhão”, com Peter Sellers. “O incrível exército de Brancaleone”... também! Mas a concepção que Chris Morris apresenta em sua realização vai além dessas referências.






Não se iluda! A temática do terrorismo é mostrada de forma realística, com sua ideologia torpe e os exageros fundamentalistas. Sem pudor e de forma espontânea cenas engraçadas vão se sucedendo. Há um ponto de vista bem humorado que acompanha a narrativa até cerca de 70% do filme. A partir daí o clima de tensão cresce e é impossível ficar imune a ele. Embora, seja incrível como o diretor consegue explorar com voracidade o humor, mesmo quando a assistência já se encontra hipnotizada pelo suspense.



Os significados e resignificados brincam de esconde-esconde com as sutilezas do nosso raciocínio, enquanto diante dos olhos saltitam imagens ricas, nervosas e dramáticas. Nem tudo é evidente, mas as pistas estão a cada encruzilhada da narrativa. Eis que surge William Shakespeare, travestido na animação Rei Leão. Por tabela ou por acaso, vale o registro de que o leão, animal de inquestionável realeza, simboliza a Inglaterra, evocando a força e o poder de uma monarquia. “Four Lions” resulta numa explosão bombástica de humor. Humor “breu”, conforme o Google traduziu pra nós.   





 

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