“Um grupo de quatro paquistaneses transporta dentro de um carro
velho apetrechos e substâncias para produzir explosivos. São aprendizes de
terrorismo. O carro pifa e eles, paranoiados, com uma suposta perseguição, abandonam
o veículo e saem andando rápido e estranhamente, por conta dos cuidados
necessários que a carga exige”. Cena hilária. Digna de ataques de riso. É só
uma sequência de “Four Lions” (2010), do misterioso britânico, Christopher
Morris, filme bem recebido pela crítica e com boa bilheteria.
Misturar humor com terrorismo está longe de ser tempero
politicamente correto para um filme, ou para qualquer outro tipo de criação. Não
por acaso, o filme provocou protestos em Londres, já que a ficção de Morris,
que dirigiu e escreveu a obra, “imita” ações terroristas reais que aconteceram
na maratona de Londres em 2005, deixando dezenas de vítimas. Pais de vítimas do
atentado propuseram boicote à exibição
do filme.
Já nos primeiros cinco minutos de “Four Lions”, quando ainda nem
estávamos familiarizados com os personagens, tivemos a sensação de ser
catapultados à série de TV “Os Três Patetas”, e ao hilário “Um convidado bem trapalhão”,
com Peter Sellers. “O incrível exército de Brancaleone”... também! Mas a
concepção que Chris Morris apresenta em sua realização vai além dessas
referências.
Não se iluda! A temática do terrorismo é mostrada de forma
realística, com sua ideologia torpe e os exageros fundamentalistas. Sem pudor e
de forma espontânea cenas engraçadas vão se sucedendo. Há um ponto de vista bem
humorado que acompanha a narrativa até cerca de 70% do filme. A partir daí o
clima de tensão cresce e é impossível ficar imune a ele. Embora, seja incrível
como o diretor consegue explorar com voracidade o humor, mesmo quando a assistência
já se encontra hipnotizada pelo suspense.
Os significados e resignificados brincam de esconde-esconde com as
sutilezas do nosso raciocínio, enquanto diante dos olhos saltitam imagens
ricas, nervosas e dramáticas. Nem tudo é evidente, mas as pistas estão a cada
encruzilhada da narrativa. Eis que surge William Shakespeare, travestido na
animação Rei Leão. Por tabela ou por acaso, vale o registro de que o leão,
animal de inquestionável realeza, simboliza a Inglaterra, evocando a força e o
poder de uma monarquia. “Four Lions” resulta numa explosão bombástica de humor.
Humor “breu”, conforme o Google traduziu pra nós.
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