terça-feira, 26 de junho de 2012

Tulpan

Vem lá do Cazaquistão a nossa mais recente conquista cinematográfica. Ficamos hipnotizados, olhos grudadinhos na tela apreciando “Tulpan” (2008), filme encantador e inusitado, já que não é todo dia que nos deparamos com o cenário e o cotidiano das áridas terras desse país tão estranho e distante para nós brasileiros.


O jovem Asa retorna ao seu local de origem, as estepes do Cazaquistão, após servir a marinha. Ele quer/precisa arrumar uma esposa para ter seu próprio rebanho de ovelhas, tornando-se um pastor errante naquela região desértica. Achar uma noiva por ali não é nada fácil, mas seu problema maior é que a única que encontra recusa-o por achá-lo orelhudo.







E nesse drama que tem pretensões de romance desenvolve-se a história de Asa, o personagem de orelhas grandes. “Encostado” na humilde residência de sua irmã, e com seu cunhado o olhando meio enviesado, o jovem casamenteiro sofre com as agruras que o destino lhe preparou. Tem um único amigo que o ampara, mas que tenta convencê-lo a ir para a cidade e mudar de vida.





O diretor casaq, Sergey Dvortsevoy, não precisou de muitos personagens para produzir seu filme. Explorou a paisagem desolada da região, e camelos, cavalos, cães e muitas... muitas ovelhas; para compor e movimentar seu ambiente fílmico. O elenco, composto por uma única atriz profissional e todos os outros são (eram) pessoas comuns, passou um tempo vivendo junto antes do começo das filmagens.


Askhat Kuchinchirekoo, Samal Yeslyamova e Sergey Dvortsevoy

 
O fato de não contar com atores profissionais em nada compromete a obra. Todos os atores mostram-se muito a vontade na pele de nômades. As relações entre os familiares onde Asa está agregado é muito curiosa e às vezes engraçada. As crianças, seus sobrinhos, iluminam as cenas quando aparecem, e estão sempre presentes: a menina canta o tempo todo, o filho mais velho ouve as noticias no rádio e reporta detalhadamente à noite ao pai, e o pequeno, um garotinho de poucos anos, se movimenta na aridez do quintal de sua morada sobre um cavalo imaginário – algo tipo um cabo de vassoura.





O filme demorou quatro anos para ser concluído, mas depois de pronto saiu colecionando prêmios pelo mundo (Prix no Um Certain Regard do Festival de Cannes, melhor filme no Festival de Londres, melhor filme no Festival de Zurique e melhor realizador no Festival Internacional de Cinema de Tóquio).


Cada detalhe de Tulpan que, aliás, é o nome da possível noiva de Asa, soma muito para o resultado final que deu num filme delicado e sensível, o que contrasta bastante com o ambiente onde foi filmado. A sugestão está feita e, por favor, aqueles que assistirem, fiquem espertos para ver se conseguem ver Tulpan, não o filme, mas a moça por quem Asa se apaixonou. Quanto a nós, apaixonados, pelo filme.



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