Jacana jacana = cafezinho |
Vamos falar a verdade. Esse negócio de acentuação gráfica é complicado. Dá "pobrema". Já começa com a palavra acento. Vai dizer que nunca viu alguém referir-se ao chapeuzinho, o agudo e a crase como "assento". Se você acha que todo mundo sabe distinguir quando é acento e quando é assento, é melhor esperar sentado. Mas esse papo de acentuação criou clima aqui em casa. Quer dizer, foi só uma elevaçãozinha no tom da voz. E de brincadeira... Francamente, briga doméstica por causa da maneira correta de acentuar ou não uma palavra está fora de questão.
Um não consegue entender como o outro não consegue entender aonde vai o acento de certas palavras. Entre desentendimentos, por causa de acentuar ou não “tratável”, tudo fica para trás. Sou do tempo em que só e café tinham acento agudo, e sòzinho e cafèzinho eram craseados. Cafezinho, hoje sem acento, deve de estar lá no pantanal com aquela vocalização escandalosa. E sozinho perdeu a crase e ficou mais só.
Um tempo depois nova regra: Não existe mais o acento diferencial de timbre. Pelos e pelos escreve-se igual. Mas você sabe quando os pelos precisam ser extirpados. E de cabeluda, como num passe de mágica, eis-me linda e maravilhosamente glabra. Pensando bem, que zoeira danada é essa que de vez em quando inventam de fazer com o vernáculo pátrio. Mais uma reforma ortográfica e não me responsabilizo mais (nunca mais) pelos meus cuidados com a escrita. Bom, por outro lado, o mundo é mutante, como nós mesmos. A mensagem entendida é que os acentos são desnecessários.
Quem escreve tá sempre mais ligado em palavras. Com a escrita, eu diria. Porque a caligrafia, talvez a parte mais romântica da comunicação, essa já nem me lembro mais da minha direito. Parece que nasci com um teclado grudado nos meus dedos. E coitados dos meus dedos. De tanto usar apenas os indicadores das duas mãos... atrofias, hipertrofias, tendinites e talvez até panarícios, pode ser que estejam a caminho. Mas ainda não chegaram e espero que não sobrem (ou soçobrem) para minhas habilidades manuais. Ops... digitais, melhor dizendo.
Mas depois dessa última reforma, tenho reparado que ela bagunçou mesmo. Embananou a cabeça de muita gente. Com a internet, que chegou pra liberar rigidez de regras e botou muita gente pra escrever, soma-se agora essa tal reforma que, diziam, foi feita pra unificar a língua portuguesa no mundo. Papo meio estranho esse.
Quem não luta tanto com palavras desde quando mal rompe a manhã, quem não está envolvido diretamente com elas, talvez não tenha ideia (e não mais idéia) de como algumas alterações ainda não pegaram pra valer. Desde a estreia da última reforma ortográfica já se passou bom tempo, mas ainda tem gente patinando. Palavras como ideia e estreia, por exemplo, ainda incomodam, sem acento, a muita gente. O que tenho reparado de bons escrevinhadores que parece ainda não terem assimilado a dispensa do acento em palavras assim não é coisa deste mundo.
O charme do "chapeuzinho", o conhecido acento circunflexo já não é mais o mesmo. O acento agudo, claro que continua torto. Ou enviesado, como queiram. E a crase talvez prossiga por mais alguns séculos como um dos maiores problemas da língua portuguesa. Trema, não mais. E atenção, senhoras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas: não conheço vossas regras e nem acredito muito nelas, mas isso é tudo por causa das malditas exceções. Essas sim, são piores do que as regras.
Cafezinho sozinho |
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