sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Restaurações


Sexta-feira. Final de semana batendo na nossa porta. Mais um! Dia agitado, com rotina dilacerada bem cedo. É a hora da chegada da diarista a cumprir sua frequência semanal.  Os ruídos na cozinha, o aspirador de pó e parte dos cômodos da casa interditados temporariamente, para serem faxinados, incomodam muita gente e muito bicho. Mas é assim que tem que ser para funcionar. E fim de conversa! Restauramos o dia através das palavras.

A tarde se adentra tranquila e os bichanos que compartilham nosso espaço se espreguiçam como a procurar a pose mais lânguida. "A Minha alegria", filme ucraniano. Quem sabe dá pra improvisar uma sessão vespertina. "Procura aí alguma informação sobre o filme. Ah, você vai gostar. Já assistiu a uns quinze minutos, né?! Pois só faltam duas horas e mais quinze minutos pra terminar". Do computador onde estou focado escuto só um barulho que vem do controle remoto: zzaapp. E a tarde vai passando em flashback. Tá assim. Primeiro o filme, totalmente baseado em fatos reais, depois o roteiro. 

A minha alegria

Com o fim de semana se escancarando, é válido inverter um pouco a ordem natural das coisas.  

"Olha esse filme aí... Torrentes de Paixão. Lembra? Tem uma música que usa essas palavras num verso." A música e o filme são antigos. Marilyn Monroe no elenco interpretando com maestria o papel que parece sua própria vida: uma estonteante mulher, apaixonada pelo cara errado. Como é que ela conseguia manter esse loiríssimo naquela época: muita química braba! E eu que nem sabia que ela não era blondie. Me lembro da Denise Stoklos dizendo sobre sua cor de cabelo preferida: descolorido. Um filme com a Marilyn, mesmo que não seja grande coisa ou esteja fora de contexto na hora, há de merecer nossas eternas reticências... 

Torrentes de paixão

O homem que não vendeu sua alma
Orson Wells na pele de uma autoridade eclesiástica. Gordinho e fofinho? Ah, tá! Muita generosidade, ele tá obeso e lustroso. A zapeação parou em "O homem que não vendeu sua alma". E eu vou zapeando aqui nos sites de minha preferência. Consigo flagrar a imagem mais interessante da sexta-feira, pelo menos até o fechamento dos post. Uma instalação site-specific da artista Kiki Smith, que está numa agitada rua de Nova York. Reparo também na cara da artista e nos óculos que ela está usando. Não consigo conter a pergunta que corta o silêncio da sala no ambiente doméstico: "A gente já escreveu sobre óculos? E porque haveríamos de escrever sobre óculos?”. 

Kiki Smith (Foto: James Ewing)
A livre intervenção de Cecília Gimenez, uma senhora de 81 anos no afresco Ecce Homo, foi o top da semana. Ela restaurou o rosto de Jesus, datado do Século XIX, que se encontra no Santuário da Misericórdia, em Borja na Espanha.  Segundo dona Cecília, o padre sabia de tudo. Oh!!!!!!!! A notícia caiu na rede. Um documento com mais de 11.000 adesões pede para que não alterem o trabalho de Cecília Gimenez, pois, segundo críticos especializados, há uma combinação do expressionismo primitivo de Goya, Munch, Modigliani e o grupo Die Brucke. Uau!

Obra original de Elías García Martínez, a deteriorada e
após a intervenção de Cecília Gimenez

Sucesso de público...

... e crítica!

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