terça-feira, 21 de agosto de 2012

Impenetráveis


São nove horas da manhã e transeuntes desavisados passam pela Praça da República, em Cuiabá. Dois sujeitos vestidos com camisa social branca, gravata e calça preta se enfrentam. Tudo normal, não fossem suas cabeças encobertas por generosos nacos de carne crua (argh). Na parte central da Praça, agora um palco, seus corpos se chocam várias vezes, numa minuciosa encenação. Alguns passantes não resistem e param para assistir ao embate que durou aproximadamente meia hora. "Impenetráveis". É o nome da performance que o Grupo Empreza, de Goiânia, trouxe à Cuiabá, onde participa do Prêmio Jovem Arte Mato-grossense, em sua primeira edição.




Há mais de cinquenta anos foi introduzida a performance no universo das artes. Nos anos 60. Mas ela descende, em pré-estreia, digamos, do Dadaísmo e do Futurismo, movimentos da primeira metade do século XX. Performances aqui em Cuiabá, que eu saiba (pode ser que eu não saiba), começaram nos anos 70. Um camarada chamado Juarez Compertino foi pioneiro nesse babado. Na década de 80 vez por outra fazíamos nossos happenings, em eventos artísticos, com o Grupo de Risco. Hoje optamos mais por escrevinhar.



Voltemos a 2012. "Então, isso é arte...", me disse incrédulo um cara que passava pelo local e dava toda a pinta de ser da cracolândia. Fez sua exclamação reticente após eu explicar-lhe o que se passava. Terminada a apresentação, que foi devidamente documentada em fotografia e audiovisual, um jovem todo enfatiotado que estava por ali puxou as palmas. E logo os organizadores, curadores e equipe de apoio (e eu), nos juntamos porque a encenação toda deu muito o que falar. 






O rapazinho bem vestido que puxou os aplausos interagiu rapidamente conosco e teceu seus comentários. Pagamos o maior mico. Ele fingia ser do Grupo Empreza e enganou a todos. Depois, educadamente, mostrou a verdade. A performance produziu, entre outras coisas, esse divertido desdobramento. Espreito Ludmila Brandão, a curadora de MT: "E aí, Ludmila vamos de significados ou resignificados...?". A pergunta era só uma provocação. 

Subo ao Palácio da Instrução, prédio histórico imponente, para conversar com Paul Setúbal e Helô Sanvoy, protagonistas de "Impenetráveis". Só nessa hora fiquei sabendo do nome. Não tive como deixar de citar os "Penetráveis", instalações criadas por Hélio Oiticica nos anos 60. No camarim improvisado especulo os artistas. Mostram-me a 'balaclava', aquele gorro de ninja, onde os bifes foram costurados. Os dois estão com os ombros machucados de tanta porrada.  Seus saltos seguidos de encontrões me remeteram ao jogo aéreo das partidas de futebol.

Gervane de Paula à deriva
"Impenetráveis" é uma criação coletiva do Grupo Empreza, que existe há 11 anos. A performance, inédita, foi concebida especialmente para o Prêmio. A encenação trabalha a questão da territorialidade, aquela coisa animal, irracional, violenta, possessiva, obsessiva... e humana. As imagens foram capturadas e serão editadas, resultando na obra finalizada. Estarão na exposição do Prêmio, que será aberta em setembro, e farão parte do acervo da Pinacoteca do Estado de MT.  


Antes disso, espero que "Impenetráveis" faça sucesso aqui no blog, mesmo sabendo que nem todo mundo acredita em performances. Mas que elas existem...  Resistem!  


Penetráveis de Oiticica

Um comentário:


  1. Muito interessante a performance; gostaria muito de estar na praça e poder ter assistido-a, imagino como deve ter sido diferente!!
    Ainda bem que temos acesso a este blog maravilhoso que com muita habilidade, transmite informações legais e nos proporciona o contato com a arte e cultura que transita em nossa região!!
    Parabéns pela matéria!!
    Gabriela Priante

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