Ver e rever Clovito. O programa é inusitado, afinal foram 10 anos sem nenhuma mostra de seus trabalhos. A vernissage da exposição "Irigaray" revela Clovis Irigaray, matogrossense de Alto Araguaia, no seu momento. Clovito, como é conhecido, por aqui exilou-se de seus pincéis, tinta e telas por dois ou mais anos. Deu um tempo, agora resolveu voltar. E juntou um monte de gente, uns pra conhecer essa figura que usou o próprio corpo de suporte de sua arte contestadora, outros pra ver/conhecer sua obra, outros pelos dois ou mais motivos.
"Esse tempo em que você esteve afastado, você se comportou direitinho?". Clovito balança a cabeça positivamente com um ar tão irônico, quanto lânguido. Parece não entender direito o significado da pergunta. E o autor da pergunta, réu confesso, também não sabe direito porque perguntou isso.
Tempos depois Clovito começou a interferir na sua aparência. Tatuou o rosto todo, pintou os dentes com violeta genciana, andava e perambulava pelas ruas de Cuiabá em sol maior, vestido de negro, com um manto sobre a cabeça. Figurino sempre inusitado e esvoaçante. Quem mesmo ele se parece? Um arúspice do apocalipse!
Parecia um louco. E claro que sofria discriminações, embora os apreciadores das artes - falamos daqueles que têm um pouquinho a mais de senso estético, nunca negaram a qualidade de sua plástica. Explorando e misturando temas como a o indigenismo, a sexualidade e a religiosidade, às vezes abusando de tons escuros, mas sempre chocando, provocando... parece que testando as pessoas. Assim é sua arte. "O dia que um artista não puder ser extravagante é porque tem algo muito errado", disse-lhe, e obtive sua concordância de imediato.
Na verdade... aparências, nada mais. Clovito é do bem, nunca fez mal a ninguém.
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