Quem canta seus males espanta! Sexta-feira temos ensaio do coral. Se não os espanta definitivamente, esvanece quando os olhos se fixam na regência, soltamos e modulamos a voz. Os males ficam ali, atrás da porta fechada! É bom? É. É terapêutico, vai além da música (seu foco), converte-se em numa atividade linkada com outras áreas do conhecimento, como sociologia, psicologia, antropologia, fonoaudiologia. Aprimora a concentração e memória; educa a voz, melhora a postura, respiração e desperta um sentimento, uma atitude: um por todos e de todos por um! Algo em queda vertiginosa na sociedade.
O termo tem origem grega, Chóros. Representa um conjunto de aspectos para alcançar o ideal do drama grego (poesia, canto e dança). O cristianismo adotou o termo com outro sentido: grupo da comunidade que canta junto ao altar. Não é bem esse o caso do nosso coral, o Sesc Canta.
O canto coral é o mais antigo entre os sonoros coletivos, associado a historia da música e da humanidade. Da era neolítica (acho que já faz um tempinho) há registros de inscrições rupestres encontradas em cavernas na Espanha. Práticas de cantos e danças por mulheres, em torno de um homem nu. Que coisa! Também não é o caso do nosso coral.
Na antiga Grécia o coral era um serviço público imposto pelo Estado e os cidadãos com condições materiais bancavam a coisa. Era uma das mais elevadas expressões do ser humano. Com os gregos o coro ultrapassou os limites religiosos e adentrou nas festas populares e orgias. Nosso coral, por enquanto, está chegando nas festas populares. Nada de orgias, embora o futuro a Deus pertença.
Por falar em Deus, o Cristianismo utilizou-se da música para transmitir sua doutrina e atrair mais fieis. O canto gregoriano, sistematizado pelo Papa Gregório I (590-604), tinha características próprias e prestava sua fidelidade aos textos litúrgicos. Com as transformações políticas e sociais a partir do século 18 e 19, a coisa extrapolou bastante o território religioso. Graças a Deus, eu diria, porque sendo uma manifestação artística não seria de bom tom ficar atrelado a dogmas, ideários etc. Se tem uma coisa que combina com arte, essa coisa é a liberdade. No Sesc Canta acredito que a maioria das pessoas pensa assim.
Em solo brasileiro o Coral Paulistano foi um dos primeiros coletivos a botar banca. Criado em 1936, sob a influência da Semana de 22 (aquela), por Mario de Andrade, tinha a proposta de impulsionar hábitos culturais mais tupiniquins, porque nem tudo se resumia a óperas italianas e músicas francesas. Em 1967, misturando linguagem do erudito ao popular, surge o coral da Universidade de São Paulo – Coralusp, que obteve reconhecimento internacional.
Dessa parte da história universal do canto coral, a gente parte direto pro nosso coro. Temos pouco mais de três meses, somos umas quarenta vozes e ensaiamos duas vezes por semana. Coral é um negócio assim: quando começa, parece que não vai dar certo. Mas ensaio vai, ensaio vem, dedicação, disciplina e um pouco de afinação... não é que a coisa rola?!
E depois desses três meses ritualizando para deixar o gogó no ponto, o bônus passa a ser também a relação afetiva que a gente vai criando em nosso coletivo. Pô, somos esse montão de gente e significamos um ecletismo bárbaro. Num coral, tem que ser assim pra dar certo: aceitar e conviver com as diferenças. E seguir, claro, a orientação do nosso maestro. Na próxima terça-feira, 20 horas... Estaremos lá no palco do Sesc Arsenal entoando canções indígenas e sulafricana, pra vocês.
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Neste sábado e domingo (20 horas) tem Leonardo e Juliano. Não é dupla sertaneja e nem é na Expoagro. É no Sesc Arsenal, pai e filho virtuoses do violão.
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