sábado, 30 de julho de 2011

Sábado em Cuiabá

Cuiabá, noite de sábado
Esse mundão tá cheio de músicos talentosos que a gente não conhece. São as gratas surpresas que sobressaltam nossos ouvidos e a nossa sensibilidade. Essa era a expectativa em relação ao “duo” formado por Oswaldo Amorim (violão e guitarra) e André Paulo Tavares (baixo e cia.), que conquistou algumas dezenas de pessoas no jardim do Sesc Arsenal. Uma sonoridade limpa e envolvente, de pegada jazzística.   O Tyrannus foi, assistiu e gostou. Caiu beleza em nosso sabadão.

Entrosadíssimos. Oswaldo e André são cariocas, mas não perguntei se torcem para um mesmo time. Estão radicados em Brasília, onde são professores de música. Ambos têm mestrado em Nova York. Tocam juntos lá se vão uns quinze anos. Com tanta coisa em comum, pode parecer estranho, mas para definir a performance da dupla, a palavra xifopagia serve. Quem ganha com isso é o público. Não é segredo pra ninguém que quando dois ou mais musicistas se unem, harmonia é palavra mágica.


Não morro e nunca morri de amores pelo jazz. Só posso dizer que gosto desse tipo de música, uma porta aberta para improvisos, e praia boa para instrumentistas virtuosos. Para eu gostar mais, ou menos, de uma apresentação de jazz, o repertório é fundamental. Gosto quando os músicos alternam o autoral com composições mais famosas, que o público costuma conhecer. Acho que isso vale para todos os gêneros e não só para o jazz.


Foi essa mistura de autoral com releituras o que rolou. Curti muito uma música (de um deles) inspirada em Baden Powell e também a que fechou a apresentação, arranjo criado para canção popularíssima do nordestino Alfredo Ricardo Nascimento, vulgo Zé do Norte, “Mulher Rendeira”. Não posso responder pelas pessoas das gerações mais novas, mas, quem tem quarenta, cinquenta ou mais, certamente, já entoou essa música pelo menos uma vez na vida. Também curti a versão deles para “Clube da Esquina nº 2”, de Milton e Lô Borges.

Alfredo Ricardo Nascimento = Zé do Norte

Os shows no jardim desse lugar, onde somos habituês, já vem com o certificado de garantia de um astral agradável. Apesar do caráter intimista do jazz, que costuma soar melhor em espaços fechados, houve grande empatia. “Maaanhêeee...”, gritou um pimpolho durante a apresentação, mas isso em nada atrapalhou. Chamou também a atenção uma videomaker mirim que ficou alguns minutos gravando o show com um aparelho celular. “Nós estamos tocando músicas complicadas, mas estamos tocando com o coração”, disse Oswaldo, num intervalo entre as músicas.  Sua fala, cheia de sinceridade, reportou direitinho a ocasião.


Oswaldo e André estavam em Cuiabá desde a terça passada, trabalhando num projeto de intercâmbio musical. Eles ministraram uma oficina gratuita de terça a sexta-feira, que contou com 12 músicos de Cuiabá. “Um baixista chamado Lael me impressionou muito. Um garoto de 12 anos, violonista, também mostrou que é muito bom”. Foi a resposta de André à minha pergunta sobre o que ele tinha achado da oficina.
Então é isso, moçada. Assim foi o nosso sabadão. Sei que teve um outro sabadão, este sertanejo, lá pras bandas da Chapada dos Guimarães, com o Daniel. Sobre esse eu nada vou dizer. Não vi, não sei, mas não tenho raiva de quem sabe, porque o preconceito é coisa muito feia. 



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