Bela sem tramela |
Não ter papas na língua não tem nada a ver com comida de criança, ou batatas em espanhol. Essa expressão refere-se às pessoas que não hesitam em dizer o que pensam, falam sem rodeios, exatamente como sucedeu ou tudo que sabem, sem medir consequências.
É claro que pessoas que não tem as tais “papas na língua”, quando são famosas, são solicitadas pela mídia, que gosta de ver o circo pegar fogo ou, quando são tão polêmicas, que é melhor serem esquecidas. “Me esqueçam”, disse o presidente Figueiredo no auge da decadência do governo militar. O mais famoso síndico do Brasil, Tim Maia, era uma metralhadora ambulante. Disparava sua opinião e dava respostas francas para perguntas tolas, como “eu não fumo, não bebo, não cheiro. Meu único defeito é que minto um pouco”. Outro que não leva desaforo pra casa é o Baixinho Romário, que mandou uma das boas quando Pelé sugeriu que ele estava velho pra ser convocado para seleção brasileira: “O Pelé calado é um poeta, dentro do campo ele foi o nosso pai. Fora dele, tem que colocar um sapato na boca”.
"Peixe tô passando mal", disse Romário em Cuiabá |
O teatrólogo Nelson Rodrigues era dado a frases polêmicas: “Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém”. Caetano, “a vida é complexa e bonita como os travestis”; Silvio Santos, “nunca dormi com mulher feia, mas já acordei com várias”; Glauber Rocha, “sem linguagem nova não há realidade nova”; Suassuna, “Em redor do buraco tudo é beira”.
Sabedoria nordestina |
Entre as mulheres desbocadas, Derci Gonçalves era assediada, não porque tinha uma resposta na ponta da língua, mas porque tinha um palavrão engatilhado pra qualquer pergunta tola ou pertinente. Leila Diniz gravou sua passagem neste planeta não apenas pelo comportamento atemporal, mas pela franqueza com que se expunha: “Eu posso dar para todo mundo, mas não dou para qualquer um”.
Há os que falam e depois pedem desculpas. Dois casos deste ano: o diretor de cinema Lars Von Trier, que disse numa coletiva que era nazista e simpatizava com Hitler; e o outro foi o estilista excêntrico John Galiano, após dizer que amava Hitler. As desculpas vieram a público, mas foram em vão. O primeiro foi expulso do Festival de Cannes e o segundo tá desempregado.
Rei desempregado |
O ex-ministro Jobim, se achando, falou em uma entrevista: “Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília”. Bastou para levar um chute na bunda, da presidente. Falando em presidente, não podemos deixar pra trás dois presidentes de boca cheia: o famoso presidente do Corinthians, Vicente Matheus, senhor de pérolas como “jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático”. E o outro, o nosso ex-presidente Lula da Silva: “O governo tenta fazer o simples, porque o difícil é difícil”.
Lula lá |
Entre as frases bombásticas locais, o ex-deputado Branco de Barros soltou na Assembléia Legislativa “tô preocupado com uma manada de gafanhotos no médio norte...”, o ex-prefeito Roberto França disputou a prefeitura de Cuiabá com Frederico Campos e estava mal nas pesquisas. Recorreu diversas vezes a um pai de santo do Coxipó e este sempre lhe dizia que ‘ia virar’. Na reta final, não acreditando nas promessas do sujeito, saiu com esta ao ouvir novamente o ‘vai virar’: “só se for meu cu em flor”.
Comigo não, Pai de Santo! |
“As palavras para mim não são gratuitas, não consigo usar nenhuma palavra de forma gratuita”. Disse Henfil. Fim, enfim.
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