“Esse minino tá co dordóio. Lá em casa tem um colírio bão... lavoio”. Agora, remédio bom pra vista, é vista bonita. Um pulo lá pelas bandas do pantanal é coisa tão bela, que o olho da gente chega até a marejar, que nem o olho do tamanduá mirim. Tem mosquito, tem calor, poeira e estrada ruim com solavanco aúfa. Mas é bonito de lascar.
Às vezes dá uma preguiça de encarar essa jornada bucólica. Aí a gente vai mesmo assim. Aqui neste lar de tiranídeos nunca foi registrado um arrependimento após uma volta pelo pantanal. Voltamos sempre renovados e cheios de assuntos que as aves, a passarinhada, os bichos e aqueles répteis gigantes nos contam; tendo como testemunha uma flora peculiar que, nesta época do ano, explode em cores.
Um de nós passou o dia correndo trecho pela imensa planície inundável. Voltou baqueada, de tanto “chacoalhar” na estrada (assim de costela de vaca) e da poeira sem fim. Trouxe estas fotos que compartilhamos com nossos visitantes. Eu, que gosto das letras, e de combiná-las com as emoções mais cotidianas, coitado de mim. Dizem que a inveja é falta de competência. Não sei se ainda vou crescer, mas se isso acontecer, quando estiver mais crescido, queria ser que nem Manoel de Barros. Porque aí minhas palavras estariam mais apropriadas para definir o que significa o pantanal.
Estamos na melhor época do ano para a visualização da fauna e conhecer um pouco mais sobre seus hábitos. Os jacarés que se amontoam numa languidez explícita. Os cervos assustados e esbanjando ligeirezas. Os animais dóceis como o quati e a capivara nem se avexam com os olhares humanos.
As poses semióticas do tuiuiú altaneiro em seu ninho com a cria. O pequeno martim-pescador de beira na fiação, entre um mergulho e outro. O mundaréu de aguapés nos rios e corixos e a floração generosa. Essa plástica do visual pantaneiro parece coisa de outro mundo. Quanta lindeza e perfeição é este show de imagens.
E quando você já se achegou nesse ambiente sublime, quando já está embevecido pela riqueza à qual suas retinas foram expostas e parece que já experimentou a plenitude mágica do lugar... é porque só estava faltando um dedo de prosa, uma conversinha simples com quem conhece e vive no e do lugar, num exercício raro de harmonia e de respeito com as coisas deste mundo.
Gláucia Seixas, D. Zelia (pantaneira) e Gabriela Priante |
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